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CotidianoVocê sabia? Campinas tem mais sepultados do que vivos; só Saudade abriga 2 milhões de mortos

Você sabia? Campinas tem mais sepultados do que vivos; só Saudade abriga 2 milhões de mortos

Censo do IBGE divulgado nesta semana apontou 1,1 milhão de moradores em Campinas; com quase 250 anos, o número de sepultados é mais que o dobro da população

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O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) divulgou na última quarta-feira (29) o Censo Demográfico de 2022, que apontou que Campinas tem atualmente 1,1 milhão de habitantes. Os dados apontam que a população cresceu 4,40% em 12 anos. O número atual indica que Campinas é a 14ª cidade mais populosa do Brasil (leia mais aqui).

Mas com quase 250 anos, muitos já viveram por aqui. O que muitos dos moradores não sabem é que o número de sepultados na cidade é mais que o dobro do que os de residentes vivos atualmente. Só no Cemitério da Saudade, maior cemitério municipal, são cerca de 2 milhões de mortos enterrados no local.

Segundo a Setec, autarquia responsável pelos cemitérios municipais, no Cemitério da Saudade são 204,7 mil sepultados em túmulos, mas contando todos os sepultamentos realizados no cemitério desde sua fundação, em 1980, são estimados 2 milhões de restos mortais, que estão entre as sepulturas ou no ossuário comum, após as exumações.

“Esse número justifica-se porque antes da fundação do Cemitério Nossa Senhora da Conceição (Amarais), em 1969, a quadra geral ficava no Cemitério da Saudade. E esse número de cerca de 2 milhões de sepultados se mantém desde o estudo realizado em 2019”, informou a Setec.

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Em maio deste ano, o Cemitério da Saudade disponibilizou 36 sepulturas, após 5 anos sem a oferta de túmulos por lotação. Com preço de R$ 28,7 mil, a disponibilização foi possível, segundo a autarquia, após um levantamento que identificou dezenas de sepulturas em estado de abandono e ruína. Sem contato com famílias, as ossadas das sepulturas foram exumadas e depositadas em ossuário comum.

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OUTROS CEMITÉRIOS

Já no Cemitério de Sousas, são estimados aproximadamente 45 mil sepultados, considerando sepulturas e ossuário. No cemitério municipal dos Amarais (Conceição), o número ainda não foi contabilizado.

Vale lembrar que além dos três cemitérios municipais, Campinas tem cinco cemitérios particulares. São eles: Parque das Flores, Parque Flamboyant, Aléias, Parque das Acácias e Santo Antônio.

NÚMERO DE VIVOS

Campinas tem atualmente 1.138.309 moradores, segundo o Censo Demográfico de 2022 divulgado nesta semana. Os dados apontam que a população cresceu 5,40% em 12 anos, já que o último levantamento, de 2010, indicava 1.080.113 pessoas na metrópole. Com isso, Campinas é a 14ª mais populosa do Brasil.

Em números absolutos, o aumento foi de 58.196 moradores entre 2010 e 2022, o que manteve o município na 14ª posição na lista de maiores populações. Na comparação com as capitais, Campinas supera o total de moradores de 15 localidades. Entre as maiores da lista, por exemplo, estão São Luís, com 1.037.775, Maceió, com 957.916, Campo Grande, com 897.938, e Teresina, 866.300.

O Censo também apontou que Campinas tem 1,4 morador por metro quadrado, e média de 2,64 moradores por domicílio.

EXPOSIÇÃO DOS TÚMULOS

Nesta semana o acidade on mostrou que a reconstrução do muro do Cemitério da Saudade tem dividido opiniões sobre a nova paisagem da área. O maior cemitério municipal da cidade, localizado próximo à região central, era cercado por muros brancos e altos, que impediam a visualização de sua área interna.

Agora, quem passa pelas principais vias do bairro, como a Rua da Abolição e pelas avenidas da Saudade e Engenheiro Francisco de Paula Souza, consegue ver o novo muro, que foi instalado com grades, revelando as sepulturas do local. A proposta do novo muro é que sejam cultivadas plantas na grade, formando uma cerca viva para ocultar a parte interna do cemitério.

O cemitério, localizado no bairro Ponte Preta, é o mais antigo da cidade e abriga mais de 32 mil sepulturas em 181,5 mil metros quadrados. A reconstrução completa do muro foi necessária após vários problemas, incluindo desabamentos parciais da estrutura nos últimos anos. No final do ano passado, um trecho de 20 metros desabou durante o período de chuvas, e foi fechado por tapumes.

A nova paisagem que revela os túmulos do Cemitério da Saudade tem gerado opiniões divididas entre moradores, comerciantes e funcionários da região. Anteriormente, o cemitério estava “encoberto” por um muro, mas agora, com a instalação do gradil, a existência do cemitério fica bastante aparente (LEIA MAIS AQUI).

DE OBRAS DE ARTE A MILAGREIROS

O Cemitério da Saudade, inaugurado em 1881, mantém guardado parte da história da cidade não apenas em seus restos mortais, mas também esculpida em mármore, granito e bronze.

Tombado pelo Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas) em 2004, o cemitério campineiro é, segundo especialistas, um dos mais importantes no país por causa relação ao patrimônio histórico e artístico e cultural que contém – e que segue desconhecida por boa parte dos campineiros.

Fundado em 1881, o espaço pode ser considerado um verdadeiro acervo, com obras de imigrantes italianos, que atendendo a demanda da alta burguesia da cidade produziram, pela arte tumular, diversas esculturas, altares seguindo o padrão de arte renascentista e moderna.

Entre os autores com obras assinadas, estão italianos como Lelio Coluccini (escultor neoclássico e modernista que além de Campinas tem obras em São Paulo, na praça da República e no Parque do Ibirapuera), além de Giuseppe Tomagnini, Marcelino Velez, J.Rosada e Wilmo Rosada, Aldo Puccetti, Nicola del Nero e Albertini, entre outros nomes importantes.

A HISTÓRIA

Com 112 quadras dispostas em uma área de 181,5 mil metros quadrados, o Cemitério da Saudade é formado por cinco cemitérios que existiam na Vila Industrial e tiveram os túmulos transferidos como uma forma de levar a necrópole para mais longe da cidade.  

Apesar da tentativa, hoje o cemitério está localizado entre duas principais avenidas da cidade, e a dois quilômetros da região Central.

O complexo é constituído pelos cemitérios Cura Dars (para vítimas de febre amarela), Cemitério São Miguel e Almas (para os negros católicos), Cemitério Terceira Ordem do Carmo, Cemitério Santíssimo Sacramento (destinados a brancos católicos) e Cemitério São José.

A diferenciação desses cemitérios – que são “separados” por quadras – é percebida visualmente pelo material e a estética empregada nos diferentes tipos de construções, o que demonstra também a divisão social da época.

PERSONALIDADES

Além do patrimônio artístico, as alamedas do cemitério abrigam também importantes personalidades da cidade e do país. Nelas estão enterrados os heróis da Revolução de 32 – que ganharam um monumento próprio em sua homenagem -, além de nomes como Francisco Glicério, Ramos de Azevedo, Bento Quirino, Mário Gatti, Hercules Florence e tantos outros membros da antiga nobreza da época do império.

Apesar das diversas personalidades sepultadas, os túmulos mais visitados e que desbancam a atenção das caríssimas artes são na verdade os de pessoas que ficaram conhecidas após a morte.
Das sepulturas famosas do cemitério da Saudade, estão três túmulos classificados como de “milagreiros”. Entre eles o escravo Toninho, escravo do Barão Geraldo de Rezende. Morto em 1904 e sepultado ao lado dos jazigos de mármore carrara do ex-senhor, Toninho coleciona centenas de placas de agradecimentos por milagres alcançados.

Além dele, há o túmulo de Maria Jandira, uma prostituta que ateou fogo ao corpo quando teve seu casamento desfeito e os “três anjinhos” – três crianças que morreram em decorrência de um incêndio na casa onde moravam -, que também recebem fiéis que agradecem as graças obtidas.

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