LAÍSSA BARROS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Em meio à crise econômica e com a segunda onda da pandemia de Covid, brasileiros beneficiados com o auxílio emergencial se preparam para um início de ano desanimador. Com desemprego recorde, aumento da inflação de produtos e serviços e o fim do benefício, muitas famílias não estão nem um pouco otimistas com a chegada de 2021.
Este é o caso do motorista desempregado Geraldo Alves da Silva, 62 anos. Ele está inscrito no CadÚnico e foi aprovado para receber o auxílio emergencial, mas diz que só uma parcela chegou até a sua conta.
Enquanto aguarda o depósito dos valores aos quais tem direito depois que a revisão de seu caso foi aprovada, Silva diz não acreditar que o novo ano será melhor.
“Fiquei em isolamento social sem dinheiro, o que poderia seria pior? Na minha idade, já não há muito trabalho disponível, resta esperar o auxílio atrasado para quitar as dividas que fiz para sobreviver; sei que 2021 vai ser triste.”
“Só um milagre alegraria o brasileiro nesse começo de ano. Os preços dos alimentos estão impraticáveis e não existe emprego. Esperamos que a vacina consiga melhor algo”, afirma Silva.
Segundo dados do Ministério da Cidadania atualizados até 18 de dezembro, 68,2 milhões de pessoas receberam o auxílio emergencial enquanto mais de 35 milhões tiveram o pedido negado. Ao todo, foram pagos R$ 230,98 bilhões.
O benefício foi aprovado para tentar diminuir os efeitos da crise econômica na pandemia. Ao todo, foram pagas nove parcelas: cinco de R$ 600 e quatro de R$ 300. Não haverá novos pagamentos neste ano.
O fotógrafo de eventos Alan Toledo, 35, também não conseguiu receber todas as parcelas de R$ 600 e R$ 300 no calendário do governo.
“As três primeiras parcelas foram pagas; depois, não chegou dinheiro nenhum. Entrei com recurso e consegui pegar a grana retroativa só agora, em dezembro. Enquanto isso, passei sufoco. Meu trabalho foi o primeiro que parou na quarentena e será o último que irá voltar”, afirma.
“O auxílio não deveria ter acabado. Quem sofreu financeiramente e precisou dele em 2019 ainda não conseguiu se reerguer”, diz o autônomo, que critica o atendimento à população.
“O Caixa Tem e o telefone disponibilizados para as queixas nunca resolveram meus problemas, tive que que ir várias vezes a uma agência pessoalmente ou não teria conseguir receber o que tenho direito”, conta ele.
Vacina e emprego são os desejos dos beneficiários
Mesmo tendo recebido todas as parcelas do auxílio emergencial corretamente, a desempregada Sueli Francisca Nobile de Gerard, 43 anos, não conseguiu comemorar a chega de 2021.
“Meu marido ficou desempregado durante a pandemia e as coisas ficam bem complicadas em casa. O benefício ajudou muito, mas não foi o suficiente para cobrir todos os gastos. Para este ano novo, desejo emprego para minha família e para a todos outros; sei que todos estão precisando, ainda mais agora que o auxílio acabou”, diz ela.
Para Jaqueline Feltrin, 34, o ano terminou ao menos com uma notícia boa. Depois de receber todas as parcelas do benefício corretamente, ela conseguiu um novo emprego como vendedora, área na qual sempre trabalhou.
“Esse trabalho na reta final do ano foi muito importante. Passei um ano difícil, recorrendo aos bicos e esperando as parcelas do auxílio”, conta Jaqueline.
“Quero que 2021 traga a vacina! Não aguentamos essa crise instalada, queremos poder trabalhar e viver nossas vidas normalmente. Faz falta abraçar quem a gente gosta”, afirma a leitora.