Mais um dérbi chegou para a família Simões. De um lado, Valter Simões, que fez o filho Bruno se apaixonar pelo Guarani. Do outro, Nádia Simões, torcedora da Ponte Preta que ganhou o reforço do filho Leandro na relação com a Macaca.
A família de Campinas não só representa com precisão a divisão existente entre os clubes na cidade, como também dá uma lição sobre a relação entre os rivais. Assim como em todo clássico, o dérbi 204 vai ser de torcida, mas também de respeito.
A partida acontece neste sábado (20), às 11h, no estádio Moisés Lucarelli, o Majestoso. Somente torcedores da Ponte poderão acompanhar o jogão. Os ingressos para a arquibancada geral se esgotaram na manhã deste sexta (19).
O LADO ALVIVERDE
Vindo de Minas Gerais para Campinas na década de 70, Valter se apaixonou pelo Guarani, virou sócio do clube e viu de perto vários momentos marcantes. “Eu estive no título brasileiro de 1978, no título da Série B, o vice de 1986, no vice de 1988 e no vice de 2012”, conta ele, sem esconder o orgulho do alviverde.
Na campanha histórica do Campeonato Brasileiro, inclusive, ele chegou a viajar para o Rio de Janeiro com um grupo para assistir a semifinal contra o Vasco.
“Fomos de Kombi em quatro amigos. Assistimos com 110 mil pessoas. No ônibus, indo pro estádio falavam ‘sabe quando o Guarani vai ganhar aqui? Nunca’ E ganhamos de dois a zero e depois fomos campeões”, relembra ele.
Nos anos 90, o filho mais velho de Valter, Bruno, começou a frequentar o estádio com ele. “Eu comecei a vir antes, porque sou mais velho. Eu vinha, escorregava nas caneletas e ia até no meio das outras torcidas”, diz Bruno.
Essa diversão ganhou mais um integrante quando Leandro nasceu. Os três participavam de tudo, mas o caçula não agia como o pai e o irmão nas comemorações e isso não passou despercebido pelos dois bugrinos fanáticos.
Como Leandro não se empolgava muito na hora dos gols, seu Valter conta que o obrigava a se levantar. O irmão mais velho, porém, reconheceu logo que havia algo diferente. “Aí a gente viu que um estava escapando”, se diverte ele.
O LADO ALVINEGRO
Enquanto o marido e os filhos estavam no estádio Brinco de Ouro em dias de jogos do Bugre, a outra integrante da família, a mãe, estava em casa. E era nela que Leandro pensava enquanto estava no meio da torcida alviverde.
Ao decidir deixar de ir ao Brinco, porém, o jovem acabou se aproximando da mãe, Nádia Simões, e se apaixonando pelo time dela, ponte pretana apaixonada desde criança. E foi assim que a família se dividiu com ainda mais clareza.
“Eu queria alguém me apoiando e consegui. Não precisei fazer nada. Ele sentiu essa vontade pela história da Ponte e viu a minha emoção, quando o time subiu em 1997”, narra ela, relembrando o acesso histórico conquistado naquele ano.
O último jogo daquela campanha foi o empate com o Náutico, por a 1 a 1, no Moisés Lucarelli. A Macaca estava de volta à Série A do Brasileiro depois de 11 anos. E na torcida, quem via tudo de perto pela primeira vez era Leandro.
“Apoiando a minha mãe, vendo a felicidade dela, e com o acesso de 1997, eu comecei a sentir a energia. E depois fui conhecer a história: democracia racial, o estádio construído pelos torcedores. Era o time que eu queria torcer”, define.
A parceria que equilibrava a casa agora também acontecia em dias de jogos memoráveis, como o da final da Copa Sul-Americana, em 2013, contra o Lanús.
“Foi o jogo mais emocionante que vi com meu filho”, diz ela, emocionada.
LADOS DIFERENTES, MAS UNIDOS
Assim como as preferências pelas cores e camisas, a casa da família Simões está muito bem dividida, através da presença de bandeiras, objetos e adereços.
“Eu sempre gostei de futebol por causa do meu pai e, com isso, a gente vive bem em família. É divertido. A brincadeira é muito sadia!”, diz a alvinegra Nádia.
E essa diversão não fica só em casa. Nas viagens pelo mundo, a família sempre leva na bagagem a rivalidade. Nos arquivos, álbuns, porta-retratos e quadros, os registros mostram as camisas dos clubes de Campinas em diversos países.
“A rivalidade engrandece o outro time, né? Um precisa do outro. O dérbi é um dos maiores clássicos do Brasil. Isso que a gente tenta falar quando a gente vai com a camisa da Ponte e do Guarani”, comenta Leandro, sobre as viagens.