Um dia após o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), proibir cinco organizadas de frequentar estádios e associá-las a organizações criminosas, o secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, José Luís Ferrarezi, lamentou “a forma de condução” com que foi tratada a briga entre torcidas de Flamengo e Vasco no último final de semana. Na ocasião, um homem acabou morto e outras sete pessoas ficaram feridas.
O tumulto aumentou o debate sobre torcidas únicas nos estádios, algo que já acontece em São Paulo e está em discussão em estados como Rio de Janeiro e Santa Catarina. Sobre isso, Ferrarezi declarou que o governo federal rechaça a hipótese e quer que o debate sobre brigas entre torcidas aconteça em âmbito nacional.
“Eu desembarquei ontem (sexta) no Rio já com um debate que envolve as torcidas, e eu lamento a forma de condução. Sinceramente, eu lamento. Não é com torcida única que nós vamos resolver essa situação no Brasil”, disse Ferrarezi durante o seminário de gestão esportiva organizado pela FGV, no Rio.
“Nós temos um posicionamento radicalmente contra essa situação de torcidas únicas. Quando o Estado faz isso, ele assume sua incompetência na gestão e na condução do debate. Creio que nós temos que federalizar esse tema, juntamente com estados, governo federal, dialogando com a CBF”, sustentou.
“Quando o Estado diz que precisa ter torcida única, ele diz que não tem condição de atender sua população.”
Após seu discurso, o secretário admitiu que a federalização do tema não é tão simples. “A gente tem que reconhecer que os estados têm autonomia. Agora, não dá mais pro governo (federal) só assistir. Temos que federalizar esse debate. A CBF também tem que se posicionar sobre isso. Claro, a gente entende também a autonomia da CBF na realização dos jogos, das competições, das federações, mas essa questão das torcidas é importante para o País”, comentou. “E a violência não está acontecendo dentro do campo; ela está acontecendo próximo, no entorno. Isso é questão de segurança pública.”
Ferrarezi voltou a criticar a forma como o tema foi tratado no Rio, após reunião que contou com o governador, representantes dos órgãos de segurança, do Ministério Público e da Federação de Futebol do Rio (Ferj). “Aqui no Rio de Janeiro, eu cheguei ontem e não dá pra ouvir que as torcidas tem que ser banidas, que tem que ser criminalizadas, como está se tentando. A impressão que dá é que o Rio de Janeiro quer fazer esse processo para chegar na torcida única. Isso é isentar o Estado, facilitar a vida do Estado”, comentou.
“Não é banindo torcidas ou criminalizando torcidas organizadas que vai resolver essa situação. Nós temos a opinião de que, quando você tem torcidas mistas, mais torcidas dentro do estádio – basta ver o que foi Palmeiras x Flamengo em Brasília na final (da Supercopa), com duas torcidas -, isso engrandece o evento, o entretenimento”, acrescentou o secretário.
Em sua avaliação, a discussão sobre violência entre torcidas precisa ser focada no indivíduo, não no grupo. “É o CPF da pessoa. Precisa entender que gente boa e ruim tem em todo lugar, nas torcidas, na política, nas religiões, nas empresas. Aí é o CPF, não é a torcida”, pontuou.