ROGÉRIO PAGNAN E JÚLIA BARBON
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O caso do menino Henry Borel, morto aos 4 anos no Rio, suscitou várias comparações com a morte de Isabella Nardoni, em São Paulo, em 2008. Nos dois casos, os pais e seus respectivos companheiros foram considerados suspeitos e investigados pelas mortes das crianças.
No entanto, a atuação da polícia e o histórico de relacionamento entre os membros das famílias são algumas das discrepâncias entre os dois casos, pelo que se conhece das investigações até o momento.
Conheça as sete principais diferenças.
CÂMERAS
No London, edifício na zona norte da capital onde Isabella foi morta em março de 2008, não havia sistema de câmeras nos elevadores. Como também não houve testemunha ocular, não se conseguiu saber ao certo como a família subiu ao apartamento e, depois, como desceu para tentar socorrer a vítima.
No Rio, as câmeras tiraram as dúvidas sobre a movimentação dos suspeitos e permitiram ver como o menino deixou o apartamento da família, antes de ir para o hospital. Também permitiram descartar a possibilidade de que uma terceira pessoa pudesse ter acessado o andar dos suspeitos pelo elevador social.
HISTÓRICO
Em SP, a polícia e o Ministério Público não conseguiram apresentar provas de maus-tratos e um perfil violento dos réus. Ex-namorada de Alexandre, por exemplo, duvida da participação de ambos no crime.
Por meio de testemunhas e de quebra de sigilo, a polícia do Rio vem montando um perfil do vereador afastado Jairo Souza Santos Júnior, indicando que ele seja uma pessoa violenta e com possível histórico de maus-tratos contra a vítima.
CONVIVÊNCIA
Isabella adorava visitar o apartamento do pai e da madrasta. No final de semana em que foi morta, pediu para ser levada um dia antes do combinado. Após o crime, a família da mãe chegou a defender o casal.
Henry havia revelado o desejo de não querer morar com a mãe e o namorado dela e dizia preferir estar na casa dos avós. Na noite em que foi morto, quando foi levado pelo pai, chorou a ponto de vomitar, por não desejar voltar para casa.
DEPENDÊNCIA FINANCEIRA
Anna Carolina, a madrasta, era dependente emocional e financeiramente de Alexandre. Foi morar com ele no quarto mês de namoro, aos 19 anos. No dia do crime era dona-de-casa de 25 anos com dois filhos, de 3 anos e de 11 meses.
Monique não tinha, ao que se sabe, nenhuma dependência financeira do namorado, embora tenha melhorado sua situação econômica e conseguido emprega no Tribunal de Contas do Município após início do namoro com vereador. Namoravam há menos de um ano e moravam juntos desde dezembro.
LAUDOS
No caso Nardoni, a perícia avançou em alguns pontos e chegou a usar informações inverídicas, como a existência de sangue da vítima na cadeira de transporte veicular e de gotas de sangue no chão da sala, algo que viria a ser conhecido só posteriormente ao julgamento.
Os laudos conhecidos até o momento do caso Henry não ultrapassaram os limites atribuídos aos trabalhos da perícia. Afirmam, por exemplo, que não havia sinais de maus-tratos, embora descreva os ferimentos internos na criança.
PRISÃO PRECIPITADA
O casal Nardoni foi preso antes do término da primeira semana de investigação por conta de uma briga interna da polícia, segundo delegados. Isso interferiu na qualidade das provas.
No Rio, a polícia prendeu o casal no final do 30º dia, quando já dispunha de material suficiente para se convencer da participação da mãe e do namorado dela na morte da criança.
INIMIGOS
Em SP, a mãe da vítima foi ouvida no início das investigações, assim como toda a família, e os policiais deram grande peso às palavras dela. No julgamento, parte das discussões ficou centrada em questões como o pagamento de pensão, ovos de Páscoa e o nome da professora de que o pai não se lembrava.
A Polícia Civil do Rio não transformou o depoimento do pai da vítima, o engenheiro Leniel, em principal base das investigações. Como não estava na cena do crime, seu testemunho é considerado circunstancial e pode ser influenciado por eventual animosidade existente entre casais separados.