O ex-deputado federal David Miranda morreu nesta terça-feira (9), no Rio de Janeiro, aos 37 anos. A informação foi divulgada por seu marido, o jornalista Glenn Greenwald, em seu perfil na rede social Twitter.
Ele estava internado há nove meses na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital no Rio de Janeiro por uma infecção generalizada no sistema gastrointestinal.
“É com enorme tristeza e pesar que eu anuncio o falecimento do meu marido, David Miranda. Ele faria 38 anos de idade amanhã. Seu falecimento nesta manhã vem depois de uma luta de 9 meses no CTI. David passou em paz, cercado de nossos filhos, familiares e amigos”, escreveu Glenn, no Twitter.
Além do marido, Miranda deixa três filhos. “Mas de longe o maior sonho de David, o que lhe dava maior orgulho e propósito, era ser pai. Ele era o pai mais dedicado e amoroso. Ele me ensinou a ser pai. E nossos meninos verdadeiramente excepcionais – com seu próprio começo de vida difícil – é seu maior legado”, disse Glenn.
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QUEM ERA?
David, completaria 38 anos na quarta-feira (10). Ele assumiu seu mandato como deputado federal em fevereiro de 2019, na vaga de Jean Wyllys, que desistiu de tomar posse na Câmara Federal. Ele ocupou no cargo até sua internação, em agosto de 2022.
Trajetória política
Já ativo na militância política e na defesa pela causa LGBT, David ingressou definitivamente na política nas eleições de 2016, quando disputou por uma vaga pelo PSOL na Câmara dos Municipal do Rio de Janeiro. Foi eleito com mais de 7 mil votos, sendo um dos seis parlamentares no partido na cidade. Sua vitória fez com que ele se transformasse no primeiro vereador gay da cidade do Rio de Janeiro a assumir uma cadeira na casa.
Quatro anos depois, Miranda disputou por uma vaga na Câmara dos Deputados, mas só alcançou a posição e primeira suplência da coligação PSOL-PCB, com um pouco mais de 17 mil votos. Mesmo com um resultado insuficiente para assumir a posição de titular, David chegou à Câmara dos Deputados para assumir a vaga deixada por Jean Wyllys (PSOL-RJ), que desistiu de assumir o seu terceiro mandato e optou por deixar o País, diante do número crescente de ameaças que passou a receber desde a eleição do então presidente Jair Bolsonaro.
David deixou o PSOL em 2022 para integrar o PDT, do presidenciável e ex-ministro Ciro Gomes. Na época, o deputado atribuiu a sua desfiliação à forte tendência do PSOL apoiar o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida eleitoral. “O PSOL, a meu ver, corre o risco neste momento de sacrificar a sua essência para se tornar um braço leal de um partido e ideologia a que foi criado para se opor”, declarou o parlamentar, fazendo referência à probabilidade de a sigla formalizar o apoio a Lula e ao PT.
Em setembro de 2022, David era candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro, mas como ainda estava internado, teve que renunciar a sua candidatura. A renúncia foi anunciada na época por Glenn. “Essa é uma decisão extremamente difícil. Eu disse desde o começo de sua internação que a única pessoa que deveria tomar decisões sobre sua candidatura era o David. Mas infelizmente essa não é nossa realidade, essa decisão caiu em cima de mim. Consultei todas as pessoas próximas do David e todo o mundo está em consenso que essa é a única decisão a ser tomada”, afirmou.
Repercussão
Em seu perfil no Twitter, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do ex-parlamentar: “partiu cedo demais.”
O presidente do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI, Cláudio Nascimento, destacou o pioneirismo de David Miranda como primeiro vereador assumidamente gay a se eleger no Rio de Janeiro, em 2017.
“Miranda foi um grande representante da pauta por cidadania Lgbti+, democracia, direitos dos animais e direitos humanos. Um entusiasta dos movimentos sociais. Sempre dialogou e atuou pelas pautas em favor dos direitos Lgbti. Há mais de uma década apoiava projetos e ações do Grupo Arco-Íris de Cidadania Lgbti e Aliança Nacional Lgbti, dentre outras entidades”, disse Cláudio Nascimento, que também é diretor de políticas públicas da Aliança Nacional Lgbti.
O Instituto Marielle Franco ressaltou, em post no Instagram, a parceria entre David Miranda e Marielle, eleitos juntos pelo PSOL para a legislatura em que a vereadora foi assassinada.
“Hoje a política e o Brasil estão se despedindo de David Miranda. Durante sua jornada @davidmirandario compartilhou muitos momentos com a Mari, eles estiveram juntos na Câmara dos Vereadores em 2017 e ali viveram muitos desafios juntos. Que nesse momento, familiares e amigos possam encontrar conforto e acalanto. Obrigada David. Fique em paz!”
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) manifestou solidariedade aos amigos e familiares do ex-parlamentar em suas redes sociais, ao transmitir a notícia aos seus seguidores.
O ex-deputado federal Jean Willys, que teve uma atuação na Câmara marcada pela defesa dos direitos da população LGBTQIA+, também veio a público para lamentar a morte do ex-deputado de apenas 37 anos.
“Soube agora da partida precoce de David Miranda. Que tristeza! Meus sentimentos à sua família e ao seus amigos. Que ele agora descanse em paz!”