O atletismo brasileiro vive uma nova fase, que iniciou com a eleição de uma nova chapa à frente da modalidade, após um longo período de chapa única. Com foco total no atleta, a nova gestão tem seu primeiro grande desafio já nos jogos olímpicos de Tóquio, que certamente será um dos mais desafiadores de sua história.
Junto a isto, há a ausência da torcida nas competições nacionais e internacionais e as condições adversas para os treinamentos, todos os envolvidos tiveram que se reinventar e se adaptar rapidamente para esses novos tempos.
Mas no atletismo essas adversidades são muito comuns, e porque não dizer rotineiras, tanto na vida dos atletas como da equipe técnica. Fomos conhecidos por muitos anos como o primo pobre do esporte e vivemos de estrelas solitárias a cada edição dos jogos.
Apesar disso, a cada ano nossos atletas e equipe técnica vêm mostrando que com trabalho e dedicação aos poucos vamos chegando cada vez mais perto das medalhas nos principais campeonatos. Fomos medalhistas em várias edições dos jogos.
Em alguns, inclusive, pegamos nossas medalhas anos depois, em função da desclassificação de algumas equipes por doping, mostrando que cada vez mais estamos chegando com atletas nas finais olímpicas.
Em Tóquio teremos mais uma vez a chance de bater um recorde histórico e ficar de 10 a 12 vezes mais próximos da medalha olímpica, chances que vem aumentando a cada edição dos jogos.
Esse ano temos pelo menos 4 chances de conquistar uma medalha olímpica com atletas entre os melhores do mundo em suas provas.
Abaixo os principais destaques do atletismo brasileiro em Tóquio.
Alison dos Santos
O paulista Alisson Brendon Alves dos Santos será o representante brasileiro em Tóquio, e não por acaso ele vem em primeiro em nossa lista, o atleta tem se figurado entre os melhores do mundo desde as categorias de base e hoje é a nossa maior esperança de conquistar a medalha.
Ele compete na prova dos 400m com barreiras e o top 3 do mundo com 47s34, feito na Diamond League recentemente. O brasileiro enfrentará o recordista mundial Karsten Warholm e o americano Rai Benjamin.
Darlan Romani
Outro atleta que também vem fazendo uma carreira brilhante, sempre entre os melhores em sua categoria. Ela ficou em quarto lugar em arremesso de peso, no Mundial de 2019, com uma marca que lhe colocaria no topo do pódio nas olimpíadas do Rio. Apesar de alguns contratempos em sua preparação, de ter contraído COVID e de não ter tido um bom ano, ele tem chances de brigar por uma medalha, mas não é favorito.
Erica Sena
Ela pertence a geração das melhores marchadoras da história do país. Nascida em Pernambuco e com foco em uma boa preparação para os jogos, fez uma boa temporada no Circuito Mundial da WA. Ela irá brigar por um lugar no pódio nos Jogos Olímpicos, no dia 5 de agosto, em Sapporo.
Thiago Braz
Depois de uma final emocionante nas últimas olimpíadas, quando se consagrou campeão olímpico, ele volta para defender sua medalha de ouro. Embora não tenha feito um ciclo olímpico, tem crescido nas últimas etapas do circuito mundial.
Foi quinto colocado no Mundial de 2019 e hoje se encontra entre os oito primeiros do ranking de 2021, com a marca de 5,82m. Mas sabemos que para brigar pela medalha, Thiago precisa melhorar mais um pouco, em especial porque atualmente a prova está com um nível altíssimo, para ter chances de pódio ele terá que repetir a sua façanha realizada no Rio, quando saltou acima de 6 metros.
Quem assistiu a prova debaixo de chuva no Rio, sabe que esse garoto pode nos surpreender novamente.
O revezamento 4x100m masculino tem uma tradição e já se acostumou a subir em pódios nos principais eventos da modalidade, chegando com boas chances nas olimpíadas.
Os atletas Paulo André e Felipe Bardi tem melhorando bem os resultados, a equipe brasileira bateu o recorde sul-americano com 37s72. Mas para chegar entre os três melhores, além de uma corrida perfeita e sem erros nas passagens do bastão, o país terá que ser ainda mais rápido, mesmo não tendo os velocistas mais rápido dos jogos.
Nosso forte é justamente as passagens, ação que os outros países passaram a se dedicar um pouco mais, diminuindo as chances de erros e desclassificações. Pela nossa tradição somos candidatos ao pódio, mas temos muitos correntes a altura.
Abaixo seguem os atletas que podem surpreender, mas terão que fazer os melhores resultados da carreira, se bem que se tratando de jogos olímpicos o planejamento é direcionado para esse objetivo.
Núbia Soares
Ela compete em uma das provas mais tradicionais do nosso atletismo com o salto triplo, onde fez o índice na reta final, com 14,68m, ficando top 6 no ranking de 2021.
Outro destaque é que ela chegou a ficar no top 3 no ranking mundial de 2018 (14,69m), infelizmente por conta de várias lesões, nos dois anos seguintes não conseguiu se manter entre as melhores. Nas olimpíadas ela poderá ser uma grata surpresa, conseguir um bom resultado e até uma medalha.
O Revezamento 4x100m feminino, após falhar por pisar na linha, falta que ocasiona a desclassificação ao tentar a vaga olímpica, fez marcas que colocaria a equipe na final dos últimos mundiais.
O time brasileiro é muito forte e já sentiu o gostinho de receber a medalha olímpica, sem o sabor do pódio por ter recebido, após a desclassificação de outra equipe por doping. Para ter esse momento tão esperado, a equipe precisa correr na casa dos 42s00. Acredito que poderá surpreender, mesmo não sendo o favorito.
Caio Bonfim
Outro atleta que vem de uma geração vitoriosa. Ele pode ser conhecido como embaixador da marcha atlética no Brasil. Sua maior chance é na marcha 20km, onde foi ele foi medalhista no Mundial de 2017 e quase conquistou a medalha inédita para a marcha nos Jogos do Rio.
Teve alguns contratempos nas últimas temporadas, mas vem fazendo uma boa temporada esse ano. A prova tem vários atletas com chances de medalha e Caio vai junto nesse grupo.
Almir Cunha
Na prova tradicionalíssima que deu várias medalhas ao Brasil, entre elas um bicampeão olímpico no salto triplo. Com resultados entre os melhores no mundial indoor, em 2018, onde foi medalhista e com marcas acima de 17,30m, que certamente pode lhe classificar para final. Já a zona de medalhas deve ficar em 17,65m.
Andressa Morais
Mais uma brasileira que brilhou entre as melhores do mundo no lançamento do disco, em 2018, na temporada europeia. Fez marcas repetidas vezes na casa dos 64 metros, teve alguns contratempos com doping no ciclo. Tem resultados que a qualificam entre as melhores. Já a zona de classificação para o pódio gira em torno de 67m, o que seria sua melhor marca na prova.
Paulo André e Felipe Bardi
Após muitos anos, esses dois garotos podem até chegar a ser finalistas nos 100m rasos, que já seria uma conquista desejada a muitos anos. Jorge Vides e Aldemir correm o dobro da distância dos 200m rasos e podem passar para a semifinais.
Entre as meninas, uma veterana, Rosangela Santos, e uma jovem, Vitória Cristina, correrão os 100m, com chances de irem à semifinal. Ir para a final será uma grata surpresa. Ana Carolina e Vitória estarão nos 200m.
Já na prova que alia a velocidade e a técnica, os 100m com barreiras, Ketiley Batista pode ir à semifinal e sua temporada em 2021 justifica essa possibilidade.
Nos 400m com barreiras, mais uma prova extremamente técnica, Chayenne Pereira é a melhor brasileira na atualidade e recordista desse ano. Se encaixar uma boa prova e correr abaixo dos 55s, briga até por uma final. Vale a sua torcida e vamos ficar de olho.
No masculino, está nosso maior destaque com Alison, temos também Márcio Telles, que em 2019 foi muito bem na prova, mas em função do período de pandemia e dificuldades de treinos e competições não repetiu os bons resultados em 2021.
Já nos 110m com barreiras, o Brasil terá três atletas, todos com boas chances de avançar para as semifinais: Gabriel Constantino, que tem conquistados ótimos resultados internacionais, Eduardo de Deus, pódio no Pan de 2019, e Raphael Pereira, que tem resultados com frequência na casa dos 13s50, que se repetir em Tóquio poderá levá-lo a semifinal.
A maratona já está com todas as vagas preenchidas. Daniel Nascimento, que faz sua preparação no Quênia, fez o índice em sua estreia na maratona com 2h09m. Com esse resultado ele pode ficar entre os melhores, se considerarmos que a marca foi top 3 em todas as olimpíadas.
Paulo Roberto de Paula vai para sua terceira olimpíada e já teve o gostinho de ficar no top 10 nos jogos. Daniel Chaves é o terceiro nome do país.
Nos 3000m com obstáculos masculino, sob a orientação do treinador e finalista olímpico Clodoaldo Lopes do Carmo, na mesma prova, Altobeli Silva, foi finalista no Rio e quer repetir o feito.
Com seus últimos resultados ele tem chances de repetir essa façanha em Tóquio.
Na prova, no feminino, as representantes brasileiras são Tatiane da Silva e Simone Ferraz, as atletas terão que melhorar suas marcas pessoais para tentar uma final e, para isso, devem correr na casa dos 9m35s.
Nos 800 e 1500m, prova de grande tradição e última prova de corrida na pista individual a dar uma medalha de ouro olímpica para o Brasil, teremos Thiago Rosário, que tem chance de final nos 800m e 1500m. Ele já teve o gostinho de estar entre os melhores na temporada de 2019.
Mesmo com a ausência de equipes tradicionais nas corridas de velocidade, o revezamento 4x400m misto conseguiu pódio no último mundial de revezamento, mas uma baixa muito importante será Alison dos Santos, que ficará nos 400m com barreiras, podendo chegar na final.
Nos 400m, dois atletas terão que fazer as melhores marcas pessoais para seguirem na disputa, Lucas Carvalho e Tiffani tem chances de irem às semifinais.
No decatlo, Felipe Vinícius evoluiu muito as suas marcas e tem chances de ficar no top 10. Outro atleta que pode ir para a final é o Alexander, conhecido como “Bolt” no salto em distância e no triplo. Para isso, precisa saltar algo em torno dos 8 metros (distância) e 17m (triplo). Eliane Martins, se conseguir manter seus bons resultados, pode ir à final. Para isso, precisa saltar próximo a 6,75 cm.
Augusto Dutra tem um pareô difícil com grandes atletas na sua prova, o salto com vara, entre eles um recordista mundial e o atual campeão olímpico, com resultados bons e, se saltar próximo dos 5m 75, estará na final.
Geisa Arcanjo é uma atleta experiente e já esteve em duas finais olímpicas em 2012 e 2016, buscando agora em sua terceira olimpíada, repetir essa marca, que será um feito histórico para a prova.