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CotidianoA Pandemia e a Lei de Gerson no País das Maravilhas

A Pandemia e a Lei de Gerson no País das Maravilhas

Mesmo com tantas informações científicas com relação ao combate da doença, por que insistimos no erro?; Espero que a CPI da Pandemia não termine em pizza

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Rodrigo Stabeli, Pesquisador Titular da Fiocruz, professor de Medicina da UFSCARe consultor da OPAS/OMS

Começo este texto com uma retrospectiva não muito agradável. Em 1° de maio de 2020, havíamos pouco mais de 6000 mortes pela COVID-19 registradas. Os números de ocupação de leitos de UTI no Brasil eram de cerca de 45%. Ontem, após exatamente 1 ano, batemos a marca de mais de 405 mil mortes (67,5 vezes mais mortos) e, de maio de 2020 para hoje, foram abertos mais de 22 mil leitos de UTI, com uma taxa média de ocupação nos estados de cerca de 80%. Esses números mostram que estamos falhando a cada dia que passa.

Mas por que estamos sofrendo tanto com a pandemia? E o que será que mudou de lá para cá? Primeiro, conhecemos mais do vírus, sabemos sua forma de transmissão e como combatê-lo. O novo coronavírus causa uma doença sindrômica, ou seja, ataca vários órgãos e, mesmo aqueles que tiveram sintomas leves, muitos tem se queixado de sequelas. Segundo, sabemos que não existe “bala mágica quando falamos em tratamento”. Não existe tratamento precoce, com qualquer que seja a medicação, a não ser o coquetel de anticorpos aprovados pela ANVISA, e que discutimos semana passada. E terceiro, os países que estão com a vacinação adiantada, já mostram redução absurda no número de óbitos e de internações em UTI. Estamos fora de todas essas ações.

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Mesmo com tantas informações científicas robustas com relação ao combate da doença, por que insistimos no erro? Essa pergunta é extremamente complexa e, realmente, espero que a CPI da pandemia não termine em pizza. Da mesma forma que os profissionais da saúde “estão consertando a turbina do avião em pleno voo”, tentando achar soluções no manejo de pacientes para salvar mais vidas, a CPI deve acontecer agora, sim! Se estamos fazendo errado, temos que parar, refletir e tomar o caminho certo. O mais rápido possível. Doa a quem doer.

E já digo não para aqueles que ainda acham que a gente fica aqui fazendo torcida ou praguejando contra presidente que, por sinal, não se cansa de fazer aglomeração e insiste em não usar máscara, um comportamento repetido por vários de seus asseclas. Na semana passada o ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazzuello, chocou o mundo quando entrou em um dos maiores shoppings de Manaus, sem máscara e sorrindo. Se isso acontece com um funcionário público de uma instituição pública que se prese, rola, no mínimo, um processo administrativo disciplinar, por crime de saúde pública. Espero que o exército brasileiro não nos decepcione.

Digo chocou o mundo, porque a notícia choca mesmo! Você não se chocou? Então, deixa eu explicar uma coisa bem importante para você e nossa sobrevivência como povo brasileiro. Vivemos em uma sociedade globalizada e o comportamento das pessoas públicas e, pior, dos gestores públicos, como presidente da república, deputados, senadores e etc.., afetam a nossa vida e a nossa economia, as quais dependem da relação com outros países.

Talvez você não perceba o quanto essas ações causam reações no mundo, porque estamos acostumados com a lei de Gérson no Brasil. Você já ouviu falar dela? É aquela que foi criada dentro da cultura midiática brasileira, e que parte do princípio de que, sempre, uma determinada pessoa ou empresa obtém vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais. A lei de Gérson é o famoso “jeitinho brasileiro”.

Eu não tenho dúvidas que, nas diretrizes de nossa política de combate à COVID-19, está lá, em seu primeiro parágrafo: “Estabelecer a lei de Gérson para continuar com o meu eleitorado fiel e fanático para as eleições de 2022”.

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Gestão despreparada tenta tirar vantagem em tudo. É cada Lei de Gérson nos atos governamentais, que dá até medo, porque vergonha, já estamos passando faz tempo. Vamos a alguns exemplos. O primeiro foi na cúpula do clima, que aconteceu no mês de abril, por iniciativa do presidente dos EUA, Joe Biden. O nobre leitor sabe que foi retirado centenas de milhares de dólares de ajuda internacional, que vinham para o Brasil, para se combater o desmatamento, entre outras ações ambientais. Pois bem, usando a Lei de Gérson, nosso presidente prometeu uma redução no desmatamento ilegal e nas queimadas nunca antes conseguida na história do país. Dê um google aí!

Qual o problema de tudo isso? Desse misto de Lei de Gérson e País das Maravilhas, para se tentar, no gogó, obter vantagem à todo custo? O problema é que a mentira só cola para uma parcela de nós, os brasileiros. No mês que mais se desmatou a Amazônia em 2021, promete-se acabar com o desmatamento. Ah, mas quem está falando que está desmatando tanto assim? Os satélites, inclusive os norte-americanos. Os fatos, as imagens, os estudos e, como eu sei que você é inteligente, você vai procurar saber a verdade. Mas, fica aqui uma dica para sua “googleada”, foram mais de 368 Km2 de desmatamento.

Não adianta gogó para inventar um País de Maravilhas. Precisamos de políticas públicas claras, transparentes e objetivas. E precisamos delas na saúde também, mais do que nunca. A Lei de Gérson na saúde é negar para o mundo, como feito na última sexta-feira, pelo atual ministro da saúde, em reunião com a OMS. Em sua fala, o ministro declarou que o plano de imunização não está atrasado. Como assim?? O país, que tem o maior programa de imunização do mundo, vai levar ainda 34 semanas para vacinar toda a sua população? Isso não é atraso? Temos a tradição de vacinar pelo menos 120 milhões de pessoas por ano, mais de uma vez. Então por que agora com a vacina da COVI-19 vamos demorar quase três anos? De novo, não adianta gogó. O próprio painel de imunização do Ministério da Saúde mostra a vacinação na velocidade de tartaruga. Existem pelo menos 11 negativas de compra de vacinas pelo Brasil e espero que tudo isso seja apurado. Em morte acumulada por milhão de habitantes, o Brasil é o país que mais mata 1 882 mortes por milhão de habitantes. Tem leitos que acha que a gente inventa dados. Então segue aqui a referencia que é internacional. É o mundo falando “não dá para se relacionar com o Brasil. É ir lá e morrer de Covid-19”, clique aqui https://ourworldindata.org/covid-deaths?country=IND~USA~GBR~CAN~DEU~FRA~BRA#deaths-from-covid-19-background

Por falar em vacinação, a Lei de Gérson foi, mais uma vez, esfregada em nossa cara, mas agora na nossa microbolha de relacionamento. Recebi, na semana passada, uma denúncia de que vários profissionais da saúde e pessoas de grupo de risco, que se vacinaram com a Coronavac, não ficaram satisfeitos com seu “perfil imunológico”, e voltou para a fila de vacinação, para ser vacinado com a vacina da AztraZeneca/Fiocruz. Aí temos empresas de diagnóstico vendendo exames “bala de prata” chamados de anticorpos neutralizantes. Nome bonito para chamar a sua atenção e comprar um teste que vai “te dizer se a vacina foi efetiva ou não”. O problema é que a a ciência tem mostrado que não adianta fazer esse tipo de teste. Mas a lei do Gérson impera e tá fazendo um monte de gente ganhar dinheiro em quem faz o teste.

Essa denúncia é, novamente, a Lei de Gérson sendo praticada por aquele que, em ato de puro egoísmo, tira a vacina de uma outra pessoa. Mesmo a ciência mostrando que não sabemos quais as consequências de se tomar duas vacinas diferentes, sendo, inclusive, uma delas, fabricada com uma tecnologia completamente nova. Alô Ministério Público…

Quantas mortes ainda serão necessárias para acordarmos de nosso sonho que transforma o Brasil em país das Maravilhas? Alice enfrentou os seus pesadelos. Você está pronto para enfrentar os seus? Acabou o meu rivotril…

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