Quanta saudade de ir ao cinema, escapar do mundo externo por duas horas, mergulhar
numa bela história, rir, refletir e me emocionar. Apesar de algumas salas estarem abertas, a
escassez de novos filmes e o medo de entrar em um lugar tão fechado, com pessoas
desconhecidas, não me incentivam a correr o risco. Será que esse ambiente é seguro, mesmo se
os protocolos forem seguidos? Será que a vontade de matar essa saudade compensa o perigo?
Será, será, será?
Estamos vivendo sob a ameaça de adoecer e isso nos deixa estressados, inseguros e
ansiosos. A pandemia mexeu com a nossa cabeça e abalou nossa saúde mental. Pesquisadores
da área “psi” vêm relatando um aumento expressivo dos transtornos de humor, de ansiedade,
abuso de álcool, drogas e problemas de relacionamento conjugal e familiar no último ano, e o
cinema, que já era um lugar típico para a manifestação de claustrofobia e evitado por portadores
de transtornos de ansiedade, não tem sido muito convidativo nestes tempos.
Enquanto a rotina não volta ao normal – se é que um dia voltará – e não conseguirmos
frequentar os mesmos lugares de antes, como as salas de cinema, a gente se vira como pode e
as plataformas de streaming quebram um bom galho. Assistir a filmes e séries fez com que eu
não perdesse o contato com essa arte, que eu gosto tanto. Aprecio muitos gêneros, mas não
resisto a uma produção que apresente uma temática, digamos, mais psicológica. Fazer análises
dos comportamentos dos personagens é um exercício inevitável e, ao mesmo, tempo prazeroso.
Um dia desses, devaneando em meu sofá, revisitei uma lista de filmes e séries que
abordam diretamente ou rondam a questão do adoecimento psíquico: Coringa, Silêncio dos
Inocentes; Por Lugares Incríveis; Elena; Psicose; O Anticristo; Laranja Mecânica; Frances;
Amadeus; Sessão de terapia; In Treatment; Atração Fatal; Noivo Neurótico, Noiva Nervosa; A
pele que Habito; Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos; Tudo sobre minha mãe; Atypical;
Wanderlust… Ufa, a lista é realmente grande! E você, caro leitor, lembra mais algum?
A propósito, criar listas é uma diversão à parte. Peguei, então, os filmes com essa
temática, independentemente de tê-los achado bons ou ruins, e os distribuí em categorias:
QUAIS ATORES REPRESENTAM PSICOPATAS OU MENTES TRANSTORNADAS? Leonardo
Di Caprio (O Aviador, Ilha do Medo, Lobo de Wall Street, Era uma vez em Hollywood), Bradley
Cooper (O Lado Bom da Vida, Nasce uma Estrela), Jack Nicholson (O Iluminado, Melhor
Impossível, Um Estranho no Ninho), Robert De Niro (Cabo do Medo, O Lado Bom da Vida),
Jennifer Lawrence (O lado Bom da Vida, Mãe, Trapaça), Leandra Leal (O Lobo Atrás da Porta).
QUEM JÁ ATUOU COMO PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA OU PSIQUIATRIA? Robin
Williams (Gênio Indomável, Tempo de Despertar), Richard Dreyfuss (Meu querido Bob), Kevin
Spacey (Shrink), Mary Streep (Terapia do Amor), Hellen Hunt (As Sessões), Naomi Watts (Gypsy),
Dan Stulbach (O Vendedor de Sonhos), Bruno Ganz (Tabacaria).
QUAIS TRANSTORNOS MENTAIS SÃO FREQUENTEMENTE RETRATADOS? Transtorno
Obsessivo Compulsivo (TOC-TOC, Melhor Impossível, O Aviador); Transtornos de Personalidade
(Garota Interrompida, Trapaça, Precisamos Falar sobre Kevin); Transtornos de Humor
(Melancolia, Mr. Jones, Modern Love); Transtornos Psicóticos (Uma Mente Brilhante, Clube da
Luta); Transtorno do Uso de Álcool e Drogas (28 Dias, This is Us); Transtorno do Controle do
Impulso (Shame, Ninfomaníaca).
QUAIS DIRETORES ADORAM CRIAR PERSONAGENS COMPROMETIDOS MENTALMENTE?
Wood Allen, Almodóvar, Tarantino e Lars Von Trier.
QUE FILMES APRESENTAM TRATAMENTOS PSICOTERÁPICOS? Terapia de Choque, Bicho
de 7 Cabeças, Terapia do Amor, Tempo de Despertar, O Solista, Um Método Perigoso, Nise: o
Coração da Loucura.
Em todos os casos, os filmes adicionam licença poética à realidade, afinal de contas,
estamos falando de arte. No entanto, o cinema, ao retratar histórias de vida através de um
enredo acompanhado de imagens, é uma das artes que mais imita a vida. Se há pessoas no
roteiro, há construções psicológicas. A enorme quantidade de obras que apresentam conflitos
emocionais indica que a saúde mental (ou a falta dela) é parte importante da nossa existência.
Somos seres únicos, compostos de um corpo físico e material integrado por sistemas, que
evoluiu a ponto de ter uma linguagem verbal, raciocínio, cognição, sentimentos, imaginação,
elaborações filosóficas, fé, memória, transcendência, história, espiritualidade e sofrimento
emocional. São inúmeros os motivos que fazem com que alguém se desequilibre
emocionalmente. Eventos traumáticos, relações doentias, ausência de repertório para resolver
problemas, interações desajustadas, alterações neuroquímicas e predisposição genética são
alguns exemplos. Prato cheio para a criação de enredos atraentes, não é mesmo?
E por falar em enredo atraente, esta semana estreia nos cinemas, “Depois a Louca Sou
eu”, filme baseado no livro da colunista Tati Bernardi, que conta com humor, realismo e
sensibilidade a experiência da autora como portadora de Síndrome do Pânico. Adoro a Tati e
tudo o que ela faz e o filme, obviamente, já está na fila. Se irei assisti-lo na telona ou na
segurança do meu lar, ainda não sei