Todos os dias, às 6h30, toca o alarme do meu celular. Acordo, desligo o som e,
instantaneamente, dou uma olhadinha rápida no WhatsApp, mesmo sabendo que,
provavelmente, não haverá nenhum grande acontecimento, já que a última coisa que fiz,
antes de dormir, foi dar aquela conferida básica. Isso não pode ser normal. Como diriam
os Titãs, acho que “o smartphone me deixou burra, muito burra demais”.
Fico na cama, zapeando tempo suficiente, para meu hormônio da tireoide fazer efeito e
eu possa tomar café da manhã. Opa! Ouvi dizer, que tomar café da manhã é cringe,
vergonhoso, coisa do passado. Pagar boletos e usar emojis, hashtags e onomatopeias é a
maior cafonice. Como adoro dar risada e passo o dia teclando kkkkkkkkkkkkkk, devo
estar muito fora de moda ou, então, já morri de tão velha e nem fiquei sabendo.
Nos intervalos entre esportes (vários), vida doméstica, leituras, dieta, estudo, cursos,
produção de textos, lazer, funções maternas e trabalho (muito trabalho) assisto ao
telejornal. Quase não se vê notícia nova, hoje em dia, porém há muita informação ao
mesmo tempo. Além do apresentador, ou apresentadores, tem horário, temperatura e uma
faixa com várias notícias (as mesmas) passando para lá e para cá, e alguém traduzindo o
texto em libras. Às vezes viajo tentando acompanhar a linguagem de sinais. Outro dia me
peguei rindo, ao pensar em como seriam os gestos para a música “Se”, do Djavan: “São
Jorge, por favor, me empresta o dragão, mais fácil aprender japonês em braile do você
decidir se dá ou não”. Hahahahahaha!
Recentemente, descobri os podcasts, que são áudios de todos os tipos, como entrevistas,
aulas, palestras, histórias, reportagens e debates, disponíveis nas plataformas de
streaming. Como meus interesses são muitos, às vezes, escuto em modo rápido,
geralmente enquanto faço meu treino de corrida, me alimento ou quando estou no carro,
durante algum percurso mais longo. Assim, eu ganho tempo, já que um áudio de uma
hora pode ser concluído em até trinta minutos. E que maravilha foi essa nova invenção
do WhatsApp de acelerar as mensagens faladas, hein? Um adianto poder ouvir tudo
rapidinho, não acha?
Tenho tido tonturas, ficado com a visão embaçada ou desconcentrada. Achei que pudesse
ser labirintite ou sequela da Covid. Sinto como se estivesse com a cabeça oca. Não é uma
sensação inédita, me lembro de ter isso na gravidez e quando as meninas eram pequenas,
época em que eu vivia exausta. Meu sono também está péssimo e minha memória não
anda lá essas coisas. Consultei meu cardiologista, que é daqueles que conversam bastante
e vasculham toda sua vida, e ele me disse: “menina, isso é estresse, sua saúde está ótima,
mas precisa desacelerar e parar de fazer tanta coisa. Que tal tirar férias?”
Saí da consulta pensativa. Feliz em estar tudo bem com meu coração, mas refletindo sobre
como venho levando minha vida. Pensei naquela teoria do Augusto Cury, chamada de
“Síndrome do Pensamento Acelerado”. Tenho quase todos os sintomas!
Então tá, reconhecer um problema já é meio caminho andado, certo? Mas qual seria o
próximo passo? Há muitas coisas que eu poderia eliminar, além de, obviamente, diminuir
minha interação com o celular (redes sociais, internet etc.). Mas o que fazer com a
urgência, com minha dificuldade em recusar pedidos e com o excesso de demandas, já
que nunca, nunca, nunca deixo alguém sem resposta? O que fazer com a sensação de estar
perdendo alguma coisa? Sentimento, inclusive, que já tem até nome, FOMO (do Inglês,
Fear of Missing Out).
Trocar algum esporte de impacto por yoga, meditação e mindfulness pode ser um bom
recurso. Mesmo assim, não dá para deixar de acompanhar as novidades, senão corro o
risco de pagar mico, ou de não conseguir me comunicar com os mais jovens, que a toda
hora inventam novos termos como cringe, crush, shippar, caska, rolê, e por aí vai.
Pare o mundo que eu PRECISO descer!