Outro dia, fui ao casamento de primos queridos em São Paulo, uma festa para cento e
poucas pessoas, que, em razão da Pandemia, havia sido adiada três vezes. Como conheço quase
todos os presentes, e, pelo perfil responsável dos noivos, sabia que a grande maioria, senão a
totalidade dos convidados, estava devidamente vacinada. Me senti, portanto, razoavelmente
segura. E deu tudo certo, nenhuma notícia de alguém com Covid depois do evento e muito
menos aquele strike pós-aglomeração, que vivenciamos no início do ano.
A festa foi linda, os noivos estavam radiantes e todos muito felizes e animados pelo
reencontro. Havia algumas medidas de segurança como álcool gel em todos os cantos, portas e
janelas abertas para arejar o ambiente, mas foi impossível manter o distanciamento. Somos uma
família muito festeira e amorosa e estávamos saudosos e sedentos por beijos, abraços e por
dançarmos juntos. Era como se fosse nossa páscoa, natal, réveillon e carnaval. Saímos todos
com os pés doendo e a alma lavada. Por algumas horas, nos permitimos voltar à vida normal e
esquecer toda a tensão e todos os horrores que temos vivido nos últimos tempos.
Mas nem tudo é festa e infelizmente a Pandemia não acabou. A evolução desse maldito
vírus é desconhecida e a ideia de que vamos ter que conviver com ele e suas variantes, sabe-se
lá até quando, é bem assustadora. Parece que essa Ômicron já está se espalhando em velocidade
astronômica, o que nos faz pensar: será que vai fechar tudo de novo? Será que os hospitais
ficarão lotados e morrerá mais um monte de gente? E se fizermos a nossa parte, será que
conseguiremos evitar mais um ano trágico? Será? Será?
Pois então, enquanto a variante não vem, aproveitamos essa janela de calmaria para
confraternizar com quem é importante. Enquanto a variante não vem, trabalhamos, tomamos
todas as vacinas que vierem e continuamos usando máscara. Enquanto a variante não vem,
dançamos e cantamos juntos e compramos máscara chique de lurex para combinar com roupa
da festa, evitamos aglomerações e procuramos frequentar lugares que exigem o passaporte da
vacina. Enquanto a variante não vem, ajudamos ao próximo com comida, dinheiro, escuta e
apoio moral. Enquanto a variante não vem, confiamos e apoiamos os órgãos competentes e não
reclamamos por terem cancelado o réveillon e o carnaval. Enquanto a variante não vem, fugimos
das fake news e dos negacionistas. Enquanto a variante não vem, tentamos viver com
naturalidade, mas com cautela, aprendemos a distinguir o que é urgente e o que pode esperar.
Enquanto a variante não vem, exercitamos o difícil ato de manter o foco no momento presente.
Como disse Dalai Lama, “só existem dois dias no ano em que nada pode ser feito, um se
chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar,
fazer e principalmente viver”. E o presente é só o que temos, enquanto a variante não vem.