O MPT (Ministério Público do Trabalho) informou na tarde desta quarta-feira (7) que a mulher de 82 anos resgatada de situação análoga à escravidão em Ribeirão Preto já está com a família em Jardinópolis. A idosa foi resgatada na casa de uma família no bairro Ribeirânia, na zona Leste, onde trabalhou por 27 anos.
De acordo com a promotoria, a mulher trabalhava na casa como empregada doméstica, mas não recebia salários. Em depoimento, disse que “não conhecia dinheiro”. O resgate aconteceu no dia 24 de outubro e na última semana a Justiça determinou o bloqueio dos bens do casal acusado de mantê-la trabalhando sem salários e sem folgas.
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Um veículo que pertence aos empregadores da vítima e bens avaliados em R$ 815.300,00 foram bloqueados. O montante será transferido para a trabalhadora, com o objetivo de reparar a situação. Segundo o MPT, também será solicitada à Justiça uma pensão vitalícia, no valor de um salário-mínimo, que deverá ser paga pelos patrões da vítima.
Sem pagamentos
O MPT informou que a vítima contou que os patrões enviavam cerca de R$ 100,00 todos os meses ao seu irmão. O MPT ainda afirma que a mulher é beneficiária do BPC (Benefício Previdenciário Continuado), por conta da idade avançada, a empregada doméstica não tinha sequer acesso ao seu cartão de saque, que ficava de posse da patroa.
A promotoria recebeu denúncia anônima informando que no endereço onde a idosa foi encontrada, trabalhava a empregada doméstica em condições precárias de trabalho. Duração a ação, realizada em conjunto com o Ministério do Trabalho e com a Polícia Militar, não foram encontrados recibos de pagamentos de direitos trabalhistas ou conta corrente que fosse usada para o pagamento de salário.
“Ela tinha o sonho grande de ter uma casa em recompensa por todos esses anos de trabalho, e ela expressava isso. Ela tinha essa crença muito forte de que receberia essa casa da empregadora”, explica a auditora-fiscal do trabalho, Jamile Freitas Virginio.
O procurador Henrique Correia, que atuou no caso, contou que a vítima começou a trabalhar como doméstica ainda criança, na casa de outra família e foi “cedido” pelos atuais patrões após a morte da antiga empregadora. Ela não tinha estudos, amigos e relacionamentos amorosos, segundo a promotoria.
Tentativa de fuga
Segundo Jamile Virginio, a patroa tentou atrapalhar o resgate da idosa e tentou fugir com a mulher durante a ação. “Em um determinado momento, ela simplesmente fechou o portão da casa e em seguida abriu o portão da casa com a trabalhadora dentro do seu carro, em fuga”, disse a auditora em entrevista à EPTV.
Além disso, ela teria tentado evitar que a idosa apresentasse os documentos pessoais. O MPT acredita que a idosa teria se submetido a situação porque acreditava que ganharia uma casa da empregadora, pois segundo a idosa “guardava seu dinheiro para ela”.
A trabalhadora afirmou em seu depoimento que só iria parar de trabalhar quando conseguisse comprar sua “casinha”, o que foi confirmado por testemunhas, que disseram que a “vozinha” já havia afirmado que continuava a trabalhar em idade avançada, porque estava em “busca de sua casinha”.
O nome do casal que empregava a idosa não foi revelado.