A vacinação contra a covid-19 é a principal esperança da população para retomar, aos poucos, a rotina. Em meio ao cenário de otimismo, há também preocupação de que uma nova onda da doença apareça e provoque o aumento de casos e de mortes, obrigando os governos a recuarem na flexibilização da quarentena.
O médico-infectologista do Hospital das Clínicas, Ulysses Strogoff, crítica o modelo do Plano São Paulo que acabou se espalhando para outros estados. O sistema baseia a intensidade da quarentena na taxa de ocupação dos leitos. Segundo ele, isso dá uma falsa sensação de segurança e as pessoas acabam se expondo mais ao risco.
“O que estamos vivendo agora está longe de ser o controle da pandemia. Controle é você ser capaz de identificar os casos e isolar. Aí você tem o eventual controle do surto. Isso não existe em nenhum lugar do Brasil”, explica Strogoff.
Segundo ele, nunca houve campanha efetiva, bem planejada e massiva, o que é extremamente necessário em uma pandemia. “A primeira arma contra a doença é a comunicação, as pessoas saberem exatamente o seu modo de transmissão e a gravidade da doença”, disse.
Vacinação
Strogoff ainda explica que a baixa adesão ao isolamento social dá chance do vírus se multiplicar e infectar novas vítimas. Ainda há o risco do surgimento de novas variantes como a delta, linhagem indiana que tem provocado o aumento dos casos de covid-19 em países que aparentemente estavam com a situação controlada como Estados Unidos e Reino Unido.
Na avaliação do especialista, a parcela totalmente imunizada no Brasil ainda é baixa. O índice de pessoas com duas doses ou com a dose única da vacina, contra a covid-19, não chega ainda a 30%.”Esse é o momento de fazer o que não foi feito, de conscientizar a população que a coisa pode piorar muito, que muita gente ainda pode morrer”, afirma.
Strogoff reitera que não é o momento de relaxar nas medidas de prevenção contra o novo coronavírus. “A pessoa que não se cuida, não só se expõe como também pode prejudicar outras pessoas próximas, contribuindo de maneira negativa na pandemia do país. As pessoas têm que ter essa noção e o governo tem que cumprir sua função de fazer a campanha para o distanciamento social e uso correto da máscara”, conclui.
Outro lado
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, informa que os critérios do Governo de São Paulo para avaliar a retomada das atividades são estritamente técnicos. Ele se baseia na evolução da pandemia (como óbitos e contaminação) e não somente em internações. O Centro de Contingência, formado por mais de 20 especialistas, vêm se amparando há mais de um ano em dados científicos para a tomada das decisões.
Reitera, ainda, que o sistema de monitoramento inteligente segue ativo, bem como o Centro de Contingência, que analisa os dados de forma contínua e diária. Mais de 85% da população adulta do estado de São Paulo já foi imunizada com ao menos uma dose da vacina e o governo paulista continua acelerando a vacinação para realizar uma retomada responsável das atividades.
Afirmou também que atualmente, a taxa de ocupação média de leitos de UTI Covid-19 está abaixo de 46% em todo o estado e com o menor nível de internações diárias desde a primeira onda e reforça que as Prefeituras têm total autonomia para ampliar medidas restritivas de acordo com os cenários locais epidemiológicos e de capacidade hospitalar.