Nobres leitores, espero que todos estejam seguros e inconformados com as mais de três mil mortes diárias no país. E em janeiro deste ano, nasceram cerca de 6 mil bebês por dia. Ou seja, o número de mortos pela Covid-19 está alcançando o número diário de nascimentos no país. Vocês sabem o estrago que isso trará para a nação inteira?
Aliás, segundo o relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que saiu essa semana, o Brasil é a única grande economia em desaceleração em 2021. Todas as outras já entraram em processo de recuperação e crescimento. Dois fatores cruciais foram determinantes para a recuperação econômica das outras grandes economias:
1- políticas claras de combate ao novo coronavírus e;
2- vacinação. Tais medidas não existem no Brasil, e muito menos de forma clara.
Então, espero que os nobres leitores tenham feito o dever de casa, que foi deixado em nossa última conversa, que era cobrar dos poderes Executivo e Legislativo essas medidas claras de recuperação econômica e de combate às Pandemias, do novo coronavírus, da fome e da falência econômica. Porque, até agora, não conseguimos visualizar qual é o plano federal para isso. Aliás, as medidas realizadas contra a Covid-19, pelo governo federal, desde março de 2020, início da pandemia, tem sido as mesmas, ou se não, piores, mesmo após 1 ano de Pandemia.
Uma delas foi apostar na bala mágica e comprar 18 anos de estoque do medicamento Cloroquina/Hidroxicloroquina, que, diga-se de passagem, foi comprado dos Estados Unidos, país que não adotou essa medicação como tratamento preventivo ou para casos confirmados pela Covid-19. Só com essa informação, caipira que sou, já desconfio da eficácia dessa medicação. Você, não?
Pois bem, essa semana saiu um dos melhores artigos científicos sobre o assunto, que foi publicado também em uma das melhores revistas científicas no mundo, a revista Nature, trouxe informações importante sobre a cloroquina. O estudo investigou mais de 146 outros estudos, que usaram Cloroquina/Hidroxicloroquina como medicamento contra a Covid-19. A conclusão foi bem clara, e agora segue como luz para a comunidade médica, e por isso, vou traduzir a conclusão do estudo , ao pé da letra: “O tratamento com Cloroquina/Hidroxicloroquina para Covid-19 foi associado ao aumento da mortalidade, e não houve benefício do uso desses medicamentos. Profissionais médicos em todo o mundo devem informar os seus pacientes”. Além disso, Cloroquina/Hidroxicloroquina, usado para o tratamento para a Covid-19, mata mais que o curso natural da doença. Portanto, quem usa e incentiva esse medicamento, mata, e não salva, vidas.
O próprio presidente da república, por inúmeras vezes, fez menção a Cloroquina/Hidroxicloroquina, como o milagre que salvaria o Brasil, e fez acusações graves, dizendo que profissionais médicos que não estavam usando essa medicação, eram assassinos. A opção de não usar a Cloroquina/Hidroxicloroquina, sempre foi científica, e não política. E, obviamente, acertou quem a fez. Tá aí o estudo, mais um deles,mostrando que esse medicamento não funciona para a Covid-19. Repita comigo, NÃO FUNCIONA, NÃO FUNCIONA, NÃO FUNCIONA para tratar Covid-19.
Dois outros medicamentos famosos, Ivermectina (vermífugo) e Azitromicina (antibiótico) compõem o famoso “Kit Covid”, adotados e incentivados no meio político. Para estes dois, um documento robusto, que foi elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), no final de março, reúne vários estudos e conclusões sobre estes dois últimos medicamentos.
Para a Azitromicina, TODAS as combinações utilizadas com esse antibiótico para tratamento da Covid-19, não mostraram nenhum benefício. Aliás, na maioria deles e, principalmente quando associado a Cloroquina/Hidroxicloroquina, o paciente piorou. Principalmente por apresentar problemas no coração (o famoso alargamento de QT, que altera o batimento desse órgão). Por isso, não se recomenda o uso.
Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos sem efeito para certa doença, pode tornar outros microrganismos, principalmente as bactérias que causam pneumonia, super-resistentes. Isso significa que, se você realmente ficar doente por uma bactéria e precisar usar Azitromicina, ela poderá agora estar resistente e o medicamento não fará efeito.
Já a Ivermectina funciona muito bem, obrigado…como vermífugo! Os milhares de estudos publicados pelo mundo, mostram incertezas na melhora e até agravamento do paciente por reação ao medicamento. Portanto, a OMS indica que a Ivermectina seja usada apenas em ambientes de experimentação clínica, e não no consultório, como rotina.
Ou seja, se você tiver que tomar sopa de cebolinha, ou qualquer um desses medicamentos, para a Covid-19, prefira a sopa de cebolinha. Ela vai te nutrir e tem um sabor delicioso.
Em mais um estudo, nobres leitores, publicado na semana passada pela revista Science, a revista mais lida no meio científico, mostrou o curso da pandemia no Brasil. O estudo mostrou o que nós já sabemos, que o Brasil é um país desigual e que, para acabar com a Covid-19 em níveis de recuperação econômica, deve-se ter uma coordenação central que combata, não só a doença, mas também, a desigualdade.
Estamos sendo uma vitrine indigesta para o mundo, onde vários países bloquearam até os voos para o Brasil. Por isso, nobres leitores, o remédio preventivo para acabar com a Covid-19 existe, mas é amargo. Esse remédio vai contra o negacionismo científico, a ignorância estrutural instalada e a imbecilidade política para garantir o populismo. Vai contra a famosa política do pão e circo.
O remédio começa com o uso de máscara, distanciamento físico, a lavagem das mãos, vacinação em massa (aqui perdemos o bonde) e uma estratégia de recuperação econômica clara e com foco na redução das desigualdades, no combate a fome e ao desemprego. Estamos vendo isso? Talvez em alguns estados da república, que acordaram para a realidade.
Da boa e velha política do pão e circo no Brasil, estamos diante apenas do circo que apresenta uma crônica da morte anunciada, que está assassinando uma nação inteira.