Um menino de 6 anos, que sofreu queimaduras graves após uma explosão causada pelo acendimento de churrasqueira com álcool é mais um exemplo de superação vinda de dentro do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. A rotina de reabilitação do pequeno guerreiro foi compartilhada nas redes sociais da unidade.
A criança teve cerca de 35% do corpo queimado e o fogo atingiu as regiões do pescoço, tórax, abdômen e pernas. Há quase dois meses, na ala de Queimados que fica na Unidade de Emergência, o HC-UE, o garoto foi submetido a sete cirurgias e chegou em estado gravíssimo no hospital.
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O cirurgião plástico do HC Ribeirão, Dr. Pedro Coltro, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica acompanha o garoto desde o início do processo. Ele explica que foram realizados enxertos (quando é retirada a pele morta e feita a cobertura com a pele do próprio paciente), além de transplante de pele.
‘Como o caso dele foi muito grave, só o enxerto não foi suficiente, a gente precisou recorrer ao Banco de Pele proveniente de outros pacientes falecidos, que além dos órgãos, também podem doar tecidos entre eles a pele. Aí essa pele é processada e preparada para ser utilizada em pacientes queimados. Ele usou duas vezes, e isso ajudou muito no tratamento dele’, lembra o médico.
Reabilitação
A profissional que aparece na foto acima, a fisioterapeuta Lidia Prada, faz parte da equipe multidisciplinar da Ala de Queimados do HC-UE. O grupo é formado ainda por médicos de diferentes especialidades, enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, nutricionistas, entre outros.
A registro feito durante sessão de fisioterapia mostra Lídia recebendo um carinhoso abraço do paciente. ‘Ele é uma criança muito afetuosa e está muito disponível, ele anda sempre muito contente, agora a gente consegue ver ele correndo para lá e para cá nos corredores’, comenta.
Após as cirurgias, a fase da reabilitação também é considerada muito importante e determinante para o sucesso do tratamento, pois quanto mais cedo os trabalhos de fisioterapia e de terapia ocupacional forem iniciados, maiores são as chances do paciente resgatar sua autonomia.
‘Com criança a gente tem que ter um pouco de calma, a criança tem medo, passou por uma situação traumática, pode sentir dor, às vezes ela não vai querer fazer os exercícios, então a gente precisa encontrar meios para ir conquistando. Pode ser através de uma atividade, de uma pintura, coisas simples, para aos poucos, mostrar que ela é capaz’, disse Lidia.
‘Essa reabilitação precoce tem um grande poder de prevenir sequelas tardias, aquelas contraturas, retração que os pacientes desenvolvem. A coisa mais importante é a prevenção, é não deixar acontecer, mas se acontecer, é importante você tratar de forma adequada no período inicial, para que ele não tenha sequelas para movimentar braços, pernas, joelhos, cotovelos, que consiga andar para poder ir na escola, para poder brincar’, complementa Coltro.
Acidente com queimaduras
Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), o Brasil registra em média, por ano, cerca de 1 milhão de acidentes com queimaduras e 30% a 40% das vítimas são crianças. Estimativa que também é realidade na ala de queimados do HC-UE, que atende pacientes de todo o Brasil.
A unidade conta com 10 leitos, – a estrutura física é para 14, mas por falta de recursos humanos, o restante dos leitos segue inativo. Quase sempre a ala de queimados está cheia e quando envolvem internações de crianças, os acidentes em sua maioria ocorrem dentro de casa por fogo, água quente e até choque elétrico.
‘A gente está falando de chamas, mas outro acidente comum é com liquido aquecido, quando o familiar vai preparar o alimento, deixa o cabo da panela voltado para fora do fogão e a criança vem, puxa o cabo e se queima. O forno ligado, a criança põe a mão no forno, no caso de fios desencapados, a criança põe o dedinho na tomada e tem queimadura por choque elétrico, morde o fio desencapado e tem queimadura na boca’, explica Coltro.
Como proceder
O médico também explica como proceder em caso de acidentes com queimaduras. ‘A primeira coisa a ser feita e mais urgente no momento da queimadura é interromper a fonte da queimadura. E a forma mais fácil de fazer isso é jogando água. No caso dessa criança, ela saiu correndo e isso prejudicou ainda mais o caso, porque o ar tem oxigênio, alimenta as chamas e faz a queimadura crescer, então no caso da pessoa estar incendiada, o mais importante é abafar, pegar um cobertor, um lençol, uma toalha úmida e abraçar a pessoa’, explica.
Outra alerta que o médico faz é em relação ao uso de álcool para acender churrasqueiras. ‘Eu arrisco dizer que essa é a circunstância mais frequente que a gente tem na nossa unidade de queimados, por uso de líquidos inflamáveis, seja álcool, gasolina (…) Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o álcool gel também pode explodir – não é comum, mas pode acontecer – na pandemia a gente viu muito acidente de explosão com álcool gel. Usem jornal, papel ou os acendedores que são feitos de álcool, mas é solido’, finaliza.
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