Na semana passada, participei de um torneio de beach tennis, que é um jogo de
tênis disputado por duas duplas em quadra de areia e, mais uma vez, cheguei nas quartas
de final. Fiquei contente, pois nem imaginava ir tão longe. Minha meta daqui em diante
será avançar, gradativamente, até conquistar o ponto mais alto do pódio. Opa, mas
espere aí! Há um ano eu não sabia nem pegar em uma raquete e só tinha jogado
frescobol e olhe lá. Além do mais, competir não é minha praia. Em nenhuma área da vida.
Pois é, caros leitores, parece que o bichinho me picou.
Fui apresentada a esse esporte por meus compadres queridos, jogadores
experientes. Meu marido e filhas também jogavam há mais tempo e resolvi acompanhá-los
quando faltava alguém para completar o time. Comecei a fazer aulas para não passar
muito vexame e me rendi. Aí, sabe como é, você vai jogando um pouco melhor,
ganhando um jogo aqui e outro ali, adquirindo confiança e pronto, vício instalado.
Essa minha historinha está longe de ser original, pois o Brasil virou uma arena.
Hoje em dia, há mais quadras de areia que boteco, farmácia e igreja evangélica.
Mas não foi à toa que um esporte, nascido na Itália na década de 1980 e que
entrou no Brasil pelo litoral carioca, invadiu o país como um tsunami. Para quem curte e
está longe do mar, ter um pouco do clima de praia por perto, é tudo de bom.
E essa nova onda não é só beach tennis: é atividade física, integração,
enfrentamento, emoção e aquisição de habilidades que vão além das esportivas. No final
de uma aula, meu querido professor Jean Cardoso soltou uma frase que pode ser usada
como lição de vida: “Quanto mais resistência ao estresse físico, maior o desempenho a
longo prazo”. Pensar que resistência ao estresse melhora o desempenho serve para tudo.
Como qualquer esporte, a prática melhora a saúde de maneira geral: produz um
alto gasto calórico, desenvolve a agilidade motora, aumenta o condicionamento físico,
promove fortalecimento muscular e, por causa da areia, reduz o impacto nas
articulações. É grande o número de pessoas completamente sedentárias que encontraram
nessa modalidade uma boa maneira de se exercitar. Sem falar nos benefícios cognitivos,
já que é preciso ter planejamento estratégico, tomar decisões rapidamente e ter leitura de
jogo.
Além disso, sua prática é coletiva, o que implica em interação, sendo uma
excelente oportunidade de convivência e aumento da rede de relacionamentos.
Apesar de relativamente fácil e divertido, é um jogo e dentro da quadra todos
querem ganhar. Há momentos difíceis de encarar, como lutar contra um adversário
muito forte, ser observado e se submeter à crítica, aceitar os próprios erros, passar
vergonha, decepcionar seu parceiro ou ter raiva dele, respeitar hierarquia, manter o
controle emocional ou, simplesmente, perder uma partida. Ou muitas, quando você não
está em um dia bom.
Eu já experimentei todas essas situações, mas é ouvindo meus pacientes no
consultório que a profundidade dessas emoções aparece para mim. É interessante como
o beach tennis virou cenário para muitos dilemas psicológicos e questões existenciais.
Tenho escutado coisas do tipo: “o beach fez com que eu e meu marido nos
reaproximássemos, voltamos a ser parceiros e encontramos um interesse comum”;
“briguei com meu amigo em quadra e nunca mais pude frequentar o mesmo clube”; “me
sinto excluída do grupinho das mulheres”; “estou muito deprimido, pois torci o joelho e
não posso jogar por um tempo”; “não consigo me inscrever em campeonatos, pois tenho
crises de ansiedade”; “me sinto humilhado e penso em desistir quando perco de zero”;
“eu odeio beach tennis e não se fala em outra coisa”; “eu odiava beach tennis e agora
não consigo parar de jogar; “me acho feia e gorda perto daquelas meninas saradas”. E
por aí vai!
O campeonato que joguei no final de semana passado foi uma confraternização
entre vizinhos do condomínio em que eu moro. Pessoas de diferentes níveis e faixas
etárias reunidas para brincar e competir. Além das partidas, também teve música, comes
e bebes. Uma animação só! As duplas foram sorteadas, o que fez com que jogadores de
alto nível formassem duplas com iniciantes. O clima foi muito amistoso e cooperativo.
Apesar de ninguém gostar de perder, todos estavam lá por diversão. Esse grupo foi um
dos responsáveis por eu mergulhar nessa praia de cabeça. Naquela fase mais crítica da
pandemia, conseguíamos nos encontrar na quadra, ainda de máscara, em relativa
segurança, por estarmos ao ar livre. Desses encontros surgiram sólidas amizades, apoio
mútuo e muitos momentos emocionantes. Verdadeira camaradagem.
Subir de categoria e jogar bem a ponto de ganhar um campeonato seria
realmente muito bacana, mas, de fato, não é isso que me mantém no jogo. Quero, acima
de tudo, produzir muita endorfina com transpiração e diversão. Bora pro play?