Já passou por isso, leitor ou leitora? De repente, do nada, vocês andam meio sem vontadinhas, cabisbaixos, sorumbáticos, sem apetites outros, tipo num tô nem aí pra paçoca. Aí a galera manda um whats, convida para dar um rolê e vocês dizem que preferem ficar em casa, calados, quietos, mudos, ensimesmados com seus pensamentos!
O que a galera diz? Se você for mulher, vão dizer que você tá de TPM. Se é homem, vão dizer que você tá de frescurinha.
No fundo, vocês podem estar depressivos, ansiosos, precisando de apoio e empatia, não de cancelamentos, como se diz hoje em dia, em linguagem internáutica. No entanto, a sua galera não perdoa.
Este foi o tema de Redação do ENEM, domingo passado. Quer dizer, não foi bem este tema, mas foi este tema. Coisa mais desconexa a frase anterior, não? Coisa de doido, né não? Pois foi o estigma, o preconceito contra os que não são normais, que caiu para os candidatos terem que dissertar:
O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira.
Estigma quer dizer carimbo, quer dizer preconceito, quer dizer não aceitação. Não aceitamos que uma pessoa fuja do escopo de normalidade normalzinha, que já tachamos de louco, doido, lelé, alienado, mentecapto ou, no mínimo, esquisitão.
Eu posso dizer isso com experiência, pois já trabalhei em hospital psiquiátrico, no Santa Teresa, aqui em Ribeirão Preto. Lembro com carinho de muitos doentes mentais, lá pelos anos 70 do século passado, quando eu era auxiliar de Assistente Social. Era notório como a sociedade estigmatiza os que fogem ao escopo do que consideramos normal.
Como professor, também, quantas vezes mordi a língua por desacreditar deste ou daquele aluno pela sua maneira estranha de ser, de pensar, e, tempos depois, olha o muleke comandando uma starup internacional?
Voltando à prova do Enem, a coletânea versava sobre dois itens que os professores de redação certamente trabalharam em sala de aula: a necessidade de educação socioemocional e a cruel ditadura da internet, que nos faz estar sempre sorrindo nas selfies que tiramos, demonstrando uma felicidade eterna.
E, quando falamos que os professores trabalharam com este tema em sala, não é nenhum milagre. Há anos, o fenômeno se repete. Pensem comigo: são umas 40 semanas durante o ano letivo. Portanto, 40 temas, que se desdobram em 80, quando os professores propõem dois recortes temáticos a partir de uma coletânea dada.
E os professores sempre estão antenados no que acontece no país, nos noticiários, nas redes sociais. Recentemente, por exemplo, trabalhou-se com o documentário Dilema das Redes. Lá, havia muito do que foi visto neste tema de domingo passado. Basta mudar o olhar, a perspectiva, ter criticidade, ter raciocínio lógico e – pimba! – acerta-se o tema. Simples assim!
O mais importante, no entanto, é o que todos professores dizem: acertar tema é consequência do trabalho. No entanto, o essencial é que os alunos saibam, caindo o que cair, dissertar a respeito de qualquer temática, porque conhecem a estrutura de um texto dissertativo-argumentativo. E que venha a Unesp e a Fuvest, galera!
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Puntel, assistindo What´s on your mind? Tenderam?