Ribeirão Preto comemora 166 anos de fundação neste domingo, 19 de junho, e um dos termos que mais são relacionados com Ribeirão Preto na internet é o “Califórnia Brasileira”. Mas muitas pessoas ainda se perguntam de onde vem esse apelido, tanto que está entre as principais pesquisas relacionadas a cidade na internet.
O termo ganhou popularidade entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990 após ter sido utilizado em diversas reportagens de jornal e televisão. Inclusive, um especial do Globo Repórter, que mostrou o desenvolvimento da agroindústria na região.
Mas foi criado pela primeira vez pelo jornalista Ricardo Kotscho, então repórter do Jornal do Brasil. Em entrevista ao acidade on Ribeirão, Kotscho conta como surgiu o título, que inicialmente se referia a cidade como “Califórnia Paulista”, em matéria publicada no dia 22 de março de 1987.
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De acordo com o jornalista, o tema da reportagem surgiu a pedido do então chefe da sucursal de São Paulo do Jornal do Brasil, Augusto Nunes, que é natural de Taquaritinga. Kotscho recorda que Nunes era amigo do ex-ministro da Indústria do governo José Sarney Roberto Gusmão, que presidia a Cervejaria Antarctica Paulista em Ribeirão Preto.
“Roberto Gusmão comentou com o Augusto como a cidade estava se desenvolvendo, as coisas boas, o crescimento, aquele negócio todo. Saiu um dado sócio-econômico sobre Ribeirão Preto, que tinha melhor renda média, não tinha, na época, menores menores abandonados na rua, e a indústria e a agricultura estavam crescendo”, afirma.
Kotscho conta que ficou em Ribeirão Preto por 15 dias realizando entrevistas e fazendo pesquisas para escrever a matéria. “Então, nas conversas que eu tive, surgiu essa expressão ‘isso aqui está parecendo a Califórnia’. E eu falei ‘a Califórnia Paulista'”, recorda o jornalista de 74 anos.
Ele afirma que após a publicação da matéria, a cidade foi tema de diversas reportagens no mesmo sentido, inclusive da televisão. “E, a partir daí, um monte de gente da região, de outros lugares, começou ir para aí em busca de empregos. Achando que aí era uma maravilha, que tinha lugar para todo mundo”, disse.
O jornalista conta que vinha com frequência para região de Ribeirão Preto para escrever reportagens, criando uma relação com a cidade. Ele voltou para Ribeirão Preto outras vezes para escrever matérias sobre a situação da cidade que não foi tão afetada pela crise econômica nos anos seguintes.
“Até hoje eu gosto, só que para o meu gosto, cresceu demais. Virou uma cidade grande. Antigamente, Ribeirão tinha as vantagens da cidade grande, que era teatro, cinema, uma vida cultural agitada, um bom chopp e belos parques e ao mesmo tempo parecia uma cidade do interior. Depois virou uma baita cidade grande, muito prédio”, afirma.
Kotscho conta que ainda vê em Ribeirão Preto um lugar de excelência no Estado de São Paulo e no Brasil. “Muito em circunstâncias porque é uma cidade universitária. Acho que esse é o grande motor do desenvolvimento da cidade. Tem belas faculdades, universidades, então acho que isso contribui para manter o centro de excelência”, finaliza.
Números
Na matéria publicada em março de 1987, Kotscho destaca alguns números sobre Ribeirão Preto naquela ocasião, como a renda per capita de 5,6 mil dólares por ano (equivalente a 12 mil dólares nos valores atuais). Hoje a renda per capita anual, calculada a partir do PIB (Produto Interno Bruto) de 2019, é equivalente a R$ 50,2 mil – cerca de 10 mil dólares.
Na reportagem, Kotscho cita que o então prefeito de Ribeirão Preto João Gilberto Sampaio havia assumido a gestão, em 1983, com a cidade tendo uma população estimada em 318 mil habitantes. Contudo, em 1987, a projeção já indicava quase 500 mil habitantes.
De acordo com a última estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população do município já chegou a 720.116 moradores. Na ocasião, o orçamento da prefeitura era de 700 milhões de Cruzados – equivalente a R$ 422,8 milhões nos valores atuais, segundo o Banco Central. Hoje, o orçamento da Prefeitura de Ribeirão Preto é de R$ 3,6 bilhões.
Quando a comparação com a Califórnia foi criada, Ribeirão Preto tinha 18 favelas. Em 2019, eram 87 favelas, de acordo com levantamento da secretaria de Planejamento. Em 1987, a frota de Ribeirão Preto era composta por 125 mil veículos entre carros e motos. Em 2020, esse número saltou para 549 mil, segundo o Denatran.
Apontado como “movimentado” por Kotscho na reportagem, o aeroporto Leite Lopes recebeu 9 mil voos e decolagens por ano em 1986, ano anterior à publicação da matéria.
Além disso, 94 mil passageiros passaram pelo aeródromo na ocasião. Em 2019, antes da pandemia da covid-19, o aeroporto de Ribeirão Preto recebeu 923,6 mil passageiros e 34,9 mil pousos e decolagens, de acordo com o Daesp.
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