Morreu nesta quinta-feira (15), em Ribeirão Preto, Áurea Moretti Pires. Enfermeira aposentada, Áurea foi presa e torturada durante a Ditadura Militar. Ela estava com 78 anos e sofria de doença degenerativa. Informações sobre o velório não foram divulgadas.
A História
Áurea Moretti Pires nasceu no dia 12 de novembro de 1944 na Fazenda Peroba, próxima a São Joaquim da Barra, interior de São Paulo. Ao mudar-se com a família para Ribeirão Preto, ingressou na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP, envolvendo-se com o Movimento Estudantil e o Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Em meados do ano de 1968, decidiu deixar o Partido para aliar-se às Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN) e optou por interromper seus estudos acadêmicos para ingressar na faculdade de Enfermagem, visando sua aplicabilidade durante a revolução socialista pretendida.
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Áurea foi presa em 18 de outubro de 1969, na cidade de Ribeirão Preto e ao longo de três anos e meio em detenção, passou por diversos cárceres do Estado de São Paulo. Após sua soltura, viveu por mais um ano em liberdade condicional, sendo regularmente vigiada e perseguida pela polícia política de Ribeirão Preto (com Secretaria Estadual da Cultura).
“Era espancamento, pau de arara, choque elétrico, noite inteira. Assédio, tentativa de estupro, assédio sexual com a gente. Tortura moral, mental e muitas vezes acareando. Um solta daqui, outro solta dali. Agora, ninguém chegou lá falando. Assim, um orgulho que nós temos mesmo. Dentro de um contexto, muitas vezes, era bem dizer obrigado a falar, sim. E muitas vezes a dizer: não… ele é inocente, pelo amor se Deus, sou eu. De ver o companheiro sendo torturado. Porque quando a gente não estava, a gente estava ouvindo os gritos”, diz trecho do depoimento de Áurea, disponível no site da Prefeitura de Ribeirão Preto (clique aqui para ler mais).
Nota de pesar
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) divulgaram uma nota de pesar pela morte de Áurea Moretti: “Áurea é uma heroína popular. Ao longo de sua trajetória como presa política, testemunhou fatos que denunciam a violência produzida pela repressão envolvendo casos de assédio sexual contra mulheres, com destaque para caso da Madre Maurina Borges da Silveira. Áurea Moretti sempre apoiou e esteve ao lado da luta pela Reforma Agrária no país e em Ribeirão Preto. O MST jamais esquecerá a sua luta por justiça social, liberdade e Reforma Agrária Popular”.