Um levantamento do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), feito com base em denúncias e coleta de dados nas unidades, apontou que aproximadamente 15 escolas da região já tiveram casos positivos de Covid-19 e que estes casos não foram contabilizados.
Em entrevista ao portal ACidade ON, a Diretoria de Ensino da Região informou que o controle de casos é feito pelas secretarias estaduais de Educação e Saúde e que nenhum docente está proibido de falar sobre a situação. (Leia mais abaixo)
Falta de transparência
Na lista de casos feita pelo sindicato, aparecem 12 instituições da cidade. São elas: E.E. Adail Gonçalves; E.E. Andrelino Vieira; E.E Aracy Leite; E.E. Attilia Prado; E.E. Bento César; E.E. Marivaldo Degan; E.E. Dom Gastão; E.E. Eugênio Franco; E.E Esterina Placco; E.E Luiz Augusto de Oliveira; E.E. Orlando Perez; E.E. Arlindo Bittencourt.
De acordo com Ronaldo Motta, conselheiro do sindicato, neste momento há uma pressão por parte da gestão da escola para que esses casos não venham à tona.
“[A Secretaria] Acaba, na verdade, responsabilizando a escola e os próprios profissionais pelo problema da contaminação. Culpabiliza quem foi contaminado e culpabiliza a própria escola por ter divulgado os casos ocorridos. Em grande medida, chegamos ao absurdo da própria diretoria de ensino dizer que os professores não foram contaminados na escola, mas sim em outros lugares”, disse.
A suposta tentativa de esconder os casos positivos também foi apontada por um docente da Escola Estadual Bento César, que relatou ter descoberto 13 casos positivos na escola, sendo 11 no mês de maio e 2 em junho. Nesta unidade, a Seduc-SP alega que registrou três.
“Por parte da gestão da escola, para os pais e as mães não existem casos de Covid-19 na escola. Sequer têm testagens ou até mesmo isolamento. Me parece que a diretoria está mascarando essa realidade, que a gente tem crianças contaminadas”, contou.
Retaliações e comunicação
Outra denúncia apontou casos de retaliação e diversas formas de assédio aos profissionais que passaram a contar aos pais de outros alunos sobre casos positivos nas escolas.
“Cobramos uma posição da gestão da escola de informar os pais, mas está explícito para nós que é uma orientação da Diretoria de Ensino não informar. Os colegas estão todos adoecidos mentalmente com essa situação”, alegou um professor que preferiu não se identificar.
Alguns profissionais da educação também se queixaram pela falta de comunicação entre a Secretaria da Educação, gestão das unidades e os funcionários em relação aos casos de Covid-19.
“A gente está trabalhando sem saber quantas pessoas de fato se contaminaram desde que as aulas voltaram, quantas estão com casos suspeitos, e estamos sem saber, inclusive, se a gestão da escola está lançando esses dados no sistema”, disse uma denunciante.
O que diz a Diretoria Regional
O controle dos casos positivos ou suspeitos da doença deve feito apenas pela gestão das escolas através do Sistema de Informação e Monitoramento da Educação para Covid-19 (Simed).
Segundo a dirigente de ensino regional, Débora Blanco, o acesso é restrito para funções administrativas e vinculado às secretarias estaduais de Educação e Saúde. Os órgãos municipais não têm informações sobre o controle de casos, mas as unidades recebem fiscalização constante da Vigilância Sanitária.
“Essa ferramenta é administrativa, não é um site ou rede social. Cada escola tem sua comunidade e pode decidir como vai tratar situações que possam ocorrer localmente”, disse.
A dirigente também foi questionada a respeito da comunicação de casos de Covid-19 aos outros pais de estudantes e funcionários e respondeu que “as escolas estão utilizando as redes sociais para conversar com a comunidade. Há situações que foram caracterizadas contactantes, a escola liga e conversa com as famílias, como está estabelecido no protocolo. Ninguém está negando que a pandemia existe, as pessoas podem falar livremente sobre isso”.
Sobre o documento que proíbe a comunicação externa, Débora Blanco informou que “todo comunicado deve ser assumido por autoridade competente. No caso o diretor. Isso não significa que o assunto é segredo. Todos podem falar livremente de qualquer assunto. Mas quem tem competência administrativa e formal é o diretor”, defendeu.
Ela ainda ressalta que o Estado contabiliza oito escolas que tiveram 17 casos positivos desde o retorno das aulas, em janeiro. “A escola que teve o maior número foi a Marivaldo Degan, onde num universo de 50 pessoas, nós tivemos sete testados positivamente. Outro fator importante é que não há contaminação dentro da escola, todos esses registros de contaminação foram registros de sociais, de outro emprego ou até da família, de dentro de casa”.
Questionada sobre como a secretaria tem conhecimento da origem dos casos, visto que não há um mapeamento no município, a dirigente informou que “nenhum professor ou funcionário tem intenção de atribuir um caso para a escola se sabe que pegou em outro lugar. Eles mesmos declaram, não somos nós que falamos”, disse.
Débora ainda reforçou que até 21 de julho todos os profissionais da educação, independente da faixa etária, estarão vacinados contra a Covid-19 e que a segurança nas escolas aumentará.
“A escola é serviço essencial, que tem crianças que não se alimentam se não forem à escola, que tem criança que não consegue fazer minimamente uma folha de tarefa porque não tem condições alguma dentro da sua casa, e nós vamos fechar a escola? Não vamos”.