Uma tecnologia desenvolvida por agritech em parceria com a Embrapa Instrumentação, de São Carlos (SP), pretende levar maior celeridade na análise de qualidade de um dos principais produtos da pauta de exportação brasileira, a soja.
A ideia foi premiada em desafio de startups organizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). O evento foi realizado entre os dias 12 e 13 de março, na capital paulista, e contou com a mais de 100 startups inscritas e 50 selecionadas.
A empresa propõe aliar diferentes tecnologias em uma máquina de fácil operação. São usadas visão computacional, inteligência artificial e técnicas fotônicas para análise dos grãos de soja sem cortá-los.
A análise da qualidade da soja faz parte do cotidiano da compra, venda e exportação. A commodity é avaliada a cada etapa de transbordo. O processo é feito de forma manual e pode durar de 20 minutos a 1 hora e meia. No ano passado, o Brasil exportou 86,1 milhões de toneladas do produto, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia. Foram US$ 38,6 bilhões em vendas (R$ 195 bilhões).
Para a líder de Pesquisa & Desenvolvimento da Brasil Agritest, Anielle Ranulfi, a proposta deve acelerar o processo. O equipamento foi vencedor da categoria “produto mínimo viável” (MVP, na sigla em inglês).
“A implantação do equipamento deve trazer, além da velocidade, mais dinamismo para a cadeia logística e baixo custo associado a grande rigor na entrega dos resultados. Tudo isso de forma objetiva, padrão e imparcial”, afirma.
O local onde é feito o plantio, condições de temperatura, estresse hídrico e deficiência de nutrientes na lavoura podem afetar o desenvolvimento da vagem e dos grãos de soja. Como a produção não é uniforme, foram determinados padrões a serem seguidos, o que implica, sobretudo, no valor pago pelo produto.
No método manual, a análise é feita com base na cor do grão e seu formato, o que depende de aspectos sensoriais de quem está fazendo a avaliação. Outros defeitos físico-químicos podem ser notados ao abrir o grão, em um processo que atrasa a expedição de laudo.
Com a colaboração da Embrapa Instrumentação, a startup montou uma máquina capaz de fazer todas essas avaliações. Quem analisa a cor e formato é a visão computacional. A fotônica agrega análises físico-químicas sem precisar abrir as sementes. A inteligência artificial fica encarregada de fazer toda a leitura dos dados, de acordo com chefe adjunta de Transferência de Tecnologia da estatal, Débora Marcondes Bastos Pereira Milori. Ela lidera também o Laboratório Nacional de Agro-Fotônica da Embrapa.
“Não é tão fácil inserir um produto desse no mercado. Foi um trabalho longo, dos últimos 2 a 3 anos no desenvolvimento desse primeiro protótipo em laboratório. Recebemos diversas amostras e nos debruçamos sobre a questão da visão computacional, inteligência artificial, essas técnicas fotônicas para que a gente pudesse fazer uma análise físico-química do grão sem precisar cortá-lo”, relata.
Além de ter contribuído com a elaboração do produto em si, a Embrapa também participou da formação da própria Aniele, líder de P&D da agritech. Ela fez mestrado e doutorado na USP, atuou no laboratório da estatal e agora aplica o conhecimento adquirido na startup.
Premiado na capital paulista, o projeto vai ganhar um novo “empurrãozinho” de mãos israelenses. Uma parceria com a APTA permitirá uma mentoria do Instituto de Inovação Israelense (Inna ImC). O país do Oriente Médio é reconhecido internacionalmente pelas tecnologias desenvolvidas para a agricultura.