Enquanto chefes de Estado e de governo, diplomatas e negociadores se reúnem para discutir o futuro da relação ambiental do mundo com o planeta, dona de casas, moradores e pessoas “comuns” podem contribuir efetivamente para realizar mudanças de hábitos e adequar a rotina para ter uma vivência mais ambientalmente sustentável.
O impacto de cada indivíduo nas emissões pode ser traduzido por meio da pegada de carbono. O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg), iniciativa do Observatório do Clima, calcula que o brasileiro emite, em média, 10,4 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano.
Mudanças de hábitos podem ajudar na redução da pegada de carbono. Ajustes na conduta de resíduos sólidos, por exemplo, podem gerar impacto que se vê o resultado.
Embora a preocupação ambiental seja crescente e pesquisa Ibope Inteligência mostra que 77% dos brasileiros creem que proteger o meio ambiente é mais importante, ainda que isso signifique menos crescimento econômico as ações práticas no cotidiano ainda são mínimas.
Para a educadora ambiental Joana Ortega, da ONG Veracidade, a questão poderia ser mais difundida entre a população. Um dos trabalhos da organização, a conscientização ambiental, caminha por mostrar à população que nossas ações têm reações da natureza. Não podemos ignorar a seca deste ano, tampouco a enchente que São Carlos (SP) sofreu há um ano. Tudo está interligado.
“Nós olhamos esses eventos e para as escolhas que fizemos coletivamente dentro do nosso município, bairro, ou no Brasil e no mundo todo e tentamos levar para as pessoas que existe caminhos que podemos refazer, reconstruir e poder resolver essas questões a longo prazo. Elas não vão ser resolvidas agora. Estamos neste trabalho de formiguinha para tentar reverter isso”, afirma.
Joana espera que em meio às discussões da Conferência do Clima (COP 26) em Glasgow, na Escócia, surjam ações mais sistêmicas de mitigação de impactos ambientais nas próprias comunidades.
Uma ação que gera resultados a olhos vistos é a compostagem doméstica. Por meio dela, é possível reciclar resíduos orgânicos, em processo que não deixa cheiro, tampouco atrai insetos, em puro fertilizante para plantar. O resultado é um pó de aspecto terroso cheio de nutrientes para a planta.
Além da compostagem, a população pode contribuir com a coleta seletiva de materiais, disponível na cidade. Ao destinar materiais como alumínio, plástico, papel e vidro à reciclagem, toda a cadeia produtiva ganha, seja preservando recursos naturais, como jazidas, madeira e água. O processo gera, ainda economia de energia, algo que tem faltado no país.
“Acreditamos que esse efeito que a COP busca, as ações precisam ser mais sistêmicas, vir de políticas públicas que tragam essas tecnologias para a casa das pessoas e que tornem elas acessíveis. Que todo mundo tenha direito à compostagem, à energia elétrica limpa, como a solar”, comenta.
A educadora ambiental lembrou que as ações individuais também devem passar pela escolha de representantes que tenham preocupação ambiental e que levem políticas públicas à coletividade.
Enquanto o poder público tem ações tímidas, a iniciativa privada tem ocupado os espaços, em busca de oferecer serviços à comunidade. Uma empresa de São Carlos (SP) transformou a crescente preocupação ambiental em negócio. Serviço de compostagem por assinatura cobra dos clientes domiciliares algo em torno de R$ 40.
Letícia Aurora Coelho da Silva, cofundadora da empresa, explica que a empresa entrega um balde aos clientes para que ele seja preenchido com matéria orgânica. E vale de tudo, talos e cascas de frutas e vegetais, borra de café, casca de ovo e até rolo de papel.
“Temos dois planos para residências, um de R$ 38 por mês e outro de R$ 48. A diferença entre eles é o tamanho do recipiente para depositar o resíduo orgânico. Passamos pela cidade inteira, às segundas, quartas e sextas”, explica.
Além da preocupação com os resíduos, outras atitudes individuais podem colaborar com o meio ambiente. Redução nos gastos com energia elétrica que no Brasil tem se apoiado na geração térmica a gás e carvão, com muitas emissões de gás carbônico opção pelo transporte público ou veículos menos poluentes, e passa até pelo consumo e abandono de sacolas plásticas a favor de iniciativas sustentáveis.
Campo mais “verde”
E São Carlos tem colaborado com a nova onda verde. A Embrapa Pecuária Sudeste, sediada na cidade, tem colaborado nos estudos de redução das emissões de metano na pecuária por meio de aditivo na alimentação de ruminantes.
O processo digestivo de vacas, cabras e carneiros conta com a colaboração de bactérias que fermentam a celulose presente na forragem, disponibilizando os nutrientes para os hospedeiros. Esse trabalho é benéfico para os animais mas gera metano, gás de efeito estufa com efeitos mais deletérios do que o próprio gás carbônico.
O pesquisador Sérgio Raposo de Medeiros, da Embrapa, afirma que a ciência tem trabalhado para aumentar a eficiência da pecuária e para controlar as emissões em si. No primeiro caminho, da eficiência, é fazer com que os animais produzam mais, reduzindo a pegada de carbono por kg de produto cada vez menor.
As emissões são inevitáveis, mas podem ser controladas, diz o pesquisador. Um dos processos é a inclusão do nitrato de amônia na alimentação dos ruminantes. Fertilizante fácil de ser encontrado e abundante, tem custo acessível.
“Estamos tentando outras opções, inclusive uma bem natural, que seria a própria forragem já ter um componente secundário que reduziria a emissão de metano”, afirma.
Medeiros relembra que o Brasil, um dos cinco maiores emissores de metano no mundo, aderiu ao Compromisso Global de Metano e deve cumprir a meta de diminuir em 30% a propagação do gás de efeito estufa. Esse percentual pode ser alcançado com ajustes na agropecuária.
Outras propostas, como a integração lavoura-pecuária-floresta e adoção de biodigestores, têm deixado a vida no campo mais verde e preocupada com as próximas gerações.