Durante os meses de junho e julho, o Movimento por Avanços nas Políticas Públicas de Atenção (Mappa LGBTI+) realiza uma pesquisa para mapear os perfis da população LGBT em São Carlos (SP). Até o momento, mais de 300 formulários foram preenchidos. (Clique aqui e veja o vídeo da iniciativa)
O grupo formado por pessoas trans, lésbicas, gays, bissexuais e aliadas, foi criado em 2020 com o intuito de conhecer a demanda dessas populações, principalmente em relação às políticas públicas na cidade, e trazer ações de promoção.
Na ocasião, foi feito um levantamento de dados com entrevistas feitas virtualmente com entidades públicas do município sobre os serviços e ações voltadas às pessoas LGBTI+. O próximo passo, que foi dado neste ano, está levantando informações das próprias populações para entender as necessidades de cada um.
“Sabemos que há muito trabalho pela frente, mas o primeiro passo foi dado. Um censo lgbti+ que está reunindo informações sobre como vivem atualmente nossas populações, como estão atravessando a pandemia sob o governo Bolsonaro e se vem sendo atendidas com dignidade pelas políticas públicas do município”, explicou Andrógine Zago, participante do Mappa LGBTI+.
De acordo com ela, todos os dados serão analisados e devem estar disponíveis em breve para toda a população. Com o mapeamento, também será possível pensar em outras ações para a comunidade em conjunto com o poder público.
“Paralelamente, estamos em diálogo com o Conselho da Diversidade para repensarmos o plano municipal de diversidade, com o Hospital Universitário em relação ao atendimento médico para pessoas trans e com a UFSCar para propor ações de promoção ao acesso e permanência de pessoas LGBTI+ no espaço universitário”, disse.
O questionário online demora 15 minutos para ser respondido, seja de forma anônima ou com identificação. Pessoas interessadas em se aproximar do movimento podem entrar em contato pelo e-mail mappalgbti@gmail.com. (Clique aqui para ter acesso ao formulário)
Carência de iniciativas
De acordo com Zago, uma das situações que mostram a falta de preocupação com a comunidade aconteceu no final de 2020, quando a única médica endocrinologista da cidade que atendia pessoas trans em terapia hormonal parou de atender por falta de equipe preparada ou interessada.
“Isso evidencia uma falha imensa na formação desses profissionais, que não são preparados para lidar com a diversidade humana que compõe a nossa sociedade. Como consequência disso, mesmo tendo direito legal a este e outros procedimentos de cuidado em saúde, na prática hoje todas as pessoas trans de baixa renda precisam se virar sozinhas se quiserem tratar qualquer questão de saúde, já que nada garante que um médico estará disposto e minimamente informado para nos atender com respeito, seja qual for sua especialidade”, disse Andrógine.
Ela ainda ressalta que a área da saúde é apenas um dos mais variados exemplos e que São Carlos não é diferente do país como um todo no que se refere ao acesso de pessoas LGBTI+ a moradia, emprego, educação e segurança. Das mais de 300 pessoas que responderam o mapeamento até o momento, 40% não possuem renda fixa.
“É perceptível que há uma carência de iniciativas do tipo no interior do estado. Faltam políticas públicas efetivas e ações de governantes. Neste contexto, nosso coletivo surge da sociedade civil pautando a construção de um novo plano municipal que preveja a viabilização de um centro de referência lgbti+, onde nossas demandas serão devidamente acolhidas e sanadas, bem como uma casa de acolhimento e da promoção de formação de profissionais que trabalham nos órgãos municipais”, finalizou.
No Brasil, quase não há dados oficiais sobre a população LGBTI+, uma vez que pesquisas nacionais como o Censo, realizado pelo IBGE, ainda não abordam orientação sexual e identidade de gênero.