Por Cristiane Segatto, Renata Mesquita e Patricia Rennó, com colaboração de Felipe Frazão
Uma estrutura rochosa desabou sobre lanchas na região dos cânions da cidade de Capitólio, a 293 km de Belo Horizonte, no começo da tarde deste sábado. O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais confirmou pelo menos 7 mortos e 32 feridos no desastre, e há ao menos três desaparecidos. As buscas devem prosseguir hoje e a Marinha do Brasil deve instaurar um inquérito para apurar as circunstâncias do acidente.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, houve um deslocamento de pedra, cuja causa precisa ser averiguada, atingindo diretamente quatro embarcações. Segundo o delegado Mateus Consansine, titular da 5.ª Delegacia de Polícia Civil Regional de Passos, as mortes ocorreram na barca diretamente atingida pelas pedras; e três ocupantes ainda estão desaparecidos. Ainda não há confirmação sobre desaparecidos nas demais embarcações. Barqueiros ouvidos pela reportagem informaram nunca ter ouvido falar em nenhuma situação parecida em que pedras caíram no local
A corporação também analisava a relação da tragédia com uma tromba dágua. Desde ontem havia ocorrência de trombas dágua nas cachoeiras que deságuam no Lago de Furnas, e a Defesa Civil de Minas Gerais emitiu um alerta às 10h22 deste sábado para a população evitá-las durante as chuvas.
A região é chamada pelos operadores náuticos de “Mar de Minas” e, no local onde as lanchas atracam, os turistas podem tomar banho e se aproximar das cachoeiras no cânion. Segundo depoimentos de barqueiros, em dias normais costumam ficar em frente à cachoeira do cânion cerca de 30 a 40 embarcações. No dia do acitende, isso só não ocorreu pelo tempo instável.
Anderson Gazotti, proprietário de uma empresa de passeios de lanchas na região, não saiu com suas embarcações, por exemplo. “É um local lindo e único, e cada vez mais procurado. Todas as empresas de passeio vão para lá.”
Duas das lanchas que estavam próximas ao desabamento eram de conhecidos de Gazotti. “Mas todos estão bem e sofreram só arranhões, o principal foi o susto.” O local é considerado o principal atrativo turístico da cidade e 100% dos turistas costumam comprar o passeio de lanchas ou escunas para visitação. “Foi um desastre mesmo. Se não tivesse chovendo outras vítimas poderiam ter sido atingidas. É muito triste mesmo”, disse.
Dos 32 feridos, 23 foram atendidos e liberados diretamente na Santa Casa de Misericórdia de Capitólio. A unidade da Santa Casa de Passos confirmou ao Estadão ter recebido três vítimas. Já a Santa Casa de Piumhi atendeu mais duas com fraturas. Outros quatro feridos ainda foram levados para a Santa Casa de São José da Barra e já deixaram o hospital. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, os corpos das vítimas foram encaminhados ao posto de Medicina Legal do município de Passos. Eles estavam sem documentos e terão as impressões digitais coletadas para identificação. Dois dos mortos eram homens.
REAÇÕES.
Pelo Twitter, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), lamentou a tragédia e disse que o governo esteve presente desde os primeiros momentos do acidente. “Os trabalhos de resgate ainda estão em andamento. Solidarizo com as famílias neste difícil momento. Seguiremos atuando para fornecer o apoio e amparo necessários”, escreveu.
O prefeito de Capitólio, Cristiano Silva (PP), disse em vídeo publicado no Instagram estar “transtornado com esse desastre natural”. O prefeito também destacou a rápida mobilização da Marinha, do Corpo de Bombeiros do Estado, da prefeitura e das cidades vizinhas no resgate e atendimento das vítimas.
Segundo nota do Comando do 1.º Distrito Naval da Marinha do Brasil, a Delegacia Fluvial de Furnas (DelFurnas) deslocou equipes de busca e salvamento para o local para prestar apoio às embarcações atingidas, no transporte de feridos para hospitais e aos outros órgãos que estão atuando no resgate. Um inquérito será instaurado para apurar as circunstâncias do acidente.
Os mergulhos de busca por vítimas foram interrompidos à noite, mas a equipe continuará na região. Uma aeronave que estava se deslocando até o local do acidente não conseguiu pousar por causa da chuva e do excesso de nebulosidade. O posto de comando da operação de resgate funciona no Clube Náutico do município de São José da Barra.
RISCO PRÓXIMO.
Além do alerta da Defesa Civil de Minas, minutos antes da queda do paredão em Capitólio, a Defesa Civil Nacional informou na véspera do desabamento que havia expectativa de um grande volume de chuva, superior a 100 milímetros por dia, para as cidades localizadas no oeste de Minas Gerais. O alerta era de nível vermelho.
Neste sábado, depois da tragédia, o secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, chamou a atenção de agentes de Defesa Civil nos Estados para situações similares. “Os agentes devem se atentar, também, às especificidades de risco de sua região, tais como cachoeiras, rochas, falésias, entre outras.”
Além do acidente com os turistas de Capitólio, desde a tarde de sexta-feira, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais atendeu a outros 98 chamados provocados pelas chuvas no Estado, como deslizamentos, pessoas ilhadas e outras ocorrências com possíveis vítimas.
Uma barragem de rejeitos de minério de ferro da Vallourec transbordou na cidade de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte. A Defesa Civil do município informou que o incidente foi causado por um problema no sistema de drenagem da barragem. Não houve relatos de vítimas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.