Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste, associados a outras unidades, encontraram uma alternativa para substituir a gelatina convencional – de origem bovina e suína. Eles obtiveram sucesso ao obter gelatina da pele do tambaqui, peixe nativo brasileiro de grande relevância econômica.
A pele, as escamas e a cabeça, geralmente, são utilizadas para fabricação de ração para peixes. No entanto, a gelatina produzida tem aplicações alimentícias e farmacêuticas, ou seja, transforma-se em um coproduto com maior valor agregado. As propriedades observadas indicam que a gelatina de pele de tambaqui pode servir para diversas aplicações, incluindo filmes, microcápsulas para remédios ou espessantes. A iniciativa ainda pode contribuir para a redução de resíduos.
De acordo com o pesquisador Manuel Antônio Jacintho, da Embrapa Pecuária Sudeste, de São Carlos, dependendo da espécie e do tipo de produto, até 50% das matérias-primas iniciais são descartadas, incluindo cabeças, carcaças, pele e escamas. “A conversão dos resíduos em produtos de valor torna a cadeia mais sustentável”, destaca Jacintho.
O pesquisador lembra que a diversidade de espécies de peixes nativos brasileiros para consumo humano é grande. Assim, há um potencial para maior exploração das propriedades tecnológicas dos resíduos da cadeia pesqueira.
O tambaqui é o peixe nativo mais produzido no Brasil. “A composição de aminoácidos é mais rica do que a de peixes de água fria. A força de gel (consistência) pode ser comparada a de bovinos e suínos”, explica Fernanda Ramalho Procópio, bolsista CNPq de pós-doutorado na época do estudo.
A gelatina da pele do tambaqui apresentou características adequadas aos padrões do produto convencional. O rendimento de extração foi de aproximadamente 53%, poder de gelificação adequado, baixa turbidez e níveis significativos de aminoácidos, que influenciam na resistência do gel.
Segundo o supervisor do Laboratório de Tecnologia da Biomassa da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), Adriano Mattos, a temperatura de gelificação observada (16 °C) apresentou-se compatível com a da gelatina bovina comercial (17 °C). O comportamento térmico da gelatina da pele do tambaqui foi investigado por meio de calorimetria exploratória diferencial. Ele complementa que a temperatura de início de degradação, em torno de 105 °C, favorece sua aplicação potencial no desenvolvimento de novos materiais na indústria alimentícia e farmacêutica.
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