As altas taxas de transmissibilidade do Sars-CoV-2, níveis de ocupação crescentes nas unidades de terapia intensiva e “aglomerações privadas” pedem “intensificação imediata” das medidas preventivas contra a transmissão comunitária. A avaliação é de Bernardino Alves Souto, médico epidemiologista e professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Em análise de situação epidemiológica, o estudioso afirma que a vacinação, “por suas limitações técnicas e operacionais, não oferece uma possibilidade em curto prazo” no rebaixamento dos níveis de transmissão do Sars-CoV-2.
De acordo com o médico, indicadores calculados com base em fórmulas do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) mostram que há “risco muito alto de transmissão” do vírus. O índice de São Carlos está em 525 novos casos para cada 100 mil habitantes. Outro índice que mostra alteração percentual de novos casos por 100 mil habitantes durante os últimos sete dias, em comparação com os sete anteriores está em 81,13%, enquanto que para ser considerado “muito alto” bastam, no mínimo, 10% de variação.
“Preocupante também tem sido o aumento acelerado do número diário de pessoas em internação por Covid-19 nas últimas semanas, o qual já ultrapassou quase o dobro do verificado no pior momento de 2020 e continua em ascensão. Este dado indica o crescimento do número de casos graves da doença, com maior risco de morte, indicando a probabilidade de maior acúmulo de mortos e potencial de sobrecarregar prejudicialmente o sistema de saúde nas próximas semanas”, comenta Souto.
O risco de descontrole da pandemia de Sars-CoV-2 abrange não somente os pacientes com a doença ou a possibilidade de adquirir a infecção. Há o risco de sobrecargas ao sistema de saúde por enfermos por outras doenças. “É importante salientar que sobrecargas ao sistema e saúde podem resultar em acréscimo de morbimortalidade não só pela própria Covid-19, mas, também, por outros agravos reprimidos pela ultrapassagem da capacidade assistencial”, relata.
A taxa de transmissibilidade (Rt) de São Carlos está em 1,45, ou seja, 100 pacientes infectadas transmitem para outras 145, em uma progressão que aumenta cada vez mais o número de enfermos. Taxas próximas de 1 indicam estabilidade, enquanto que menor do que 1 mostram que há possibilidade de declínio. “Indica epidemia em ascensão e fora de controle. Indica que o número diário de novos casos irá aumentar”, explica.
Para o médico, a pandemia continua em “crescimento e fora de controle”, com elevado nível de morbimortalidade, com tendência de piora nos próximos dias. “Se nota importante crescimento do número diário de pessoas transmitindo o Sars-CoV-2 nas últimas semanas, o qual já ultrapassou o quantitativo verificado no pior momento de 2020 e continua ascendente. Esse dado é indicativo de que a transmissibilidade do vírus vem crescendo e aponta para a probabilidade de maior acúmulo de novos casos da Covid-19 e de novas mortes nas próximas semanas”, analisa.
Os crescentes números da pandemia levaram temor à equipe técnica da Prefeitura de São Carlos, que comunicou na noite de ontem (28) que teme um colapso em hospitais públicos e que pode rebaixar a cidade para a fase vermelha por conta própria.
Mesmo que a DRS III não esteja com indicadores tão altos a ponto de ser rebaixada de fase, a prefeitura de São Carlos (SP) comunicou na noite de ontem (28) que teme um colapso em hospitais públicos e que pode rebaixar a cidade para a fase vermelha por conta própria também nesta sexta-feira. O governo do Estado manteve a região na fase laranja do Plano São Paulo em atualização de hoje.
Para frear a transmissão do Sars-CoV-2, o especialista pede que as autoridades endureçam as restrições à circulação de pessoas. Com poucas vacinas aplicadas e incertezas na chegada de novas remessas de imunizantes, o melhor remédio é a prevenção.
“É imperioso que se intensifiquem as medidas de isolamento social e outras ações preventivas neste momento como opção para evitar que a situação se sustente ruim deste modo por muito tempo ou que piore ainda mais”, avalia.