São Carlos (SP) chega em 2021 próximo a 200 mil veículos em circulação com discussões sobre a mobilidade urbana e meios para que o trânsito não trave nos próximos anos.
Com uma taxa de crescimento de acima de 3% em 2018 e 2019, o município viu o crescimento da frota cair drasticamente em 2020, com índice de 1,78%, na aferição até novembro.
Com o arranque da economia esperado para 2021, inclusive com otimismo de autoridades econômicas nacionais e estaduais, o que é tratado como benéfico do ponto de vista econômico, torna-se um problema quando o assunto é mobilidade urbana.
Com 1,32 habitante por veículo, taxa próximo à encontrada em países como Alemanha (1,68) e Estados Unidos (1,20), o município se vê diante da necessidade de investir em alternativas não-motorizadas ou de transporte coletivos para evitar um bloqueio no trânsito nos próximos anos.
Para o professor da área de infraestrutura de Transportes da Escola de Engenharia de São Carlos (Eesc), José Leomar Fernandes Júnior, da USP, a cidade sofre de problemas parecidos com outros municípios de porte semelhantes.
“As diretrizes do Ministério das Cidades, quando começaram as exigências de priorizar os modos não-motorizados, que são a pé e bicicleta, e depois dentre os motorizados, o privilégio do transporte coletivo. Temos no caso de São Carlos o transporte coletivo está muito aquém em termos de oferta e em qualidade. Com relação à bicicleta, as medidas que são tomadas visam essa modalidade como um lazer e não para deslocamento ao trabalho, como acontece em países que temos como referência, como os da Europa”, comenta.
A idade da cidade tem sido um empecilho na elaboração de obras de readequação viária, com a elevação dos custos de desapropriação, por exemplo. A taxa de crescimento populacional tem sido um ponto favorável ao município, se comparado a cidades mais novas, como as da fronteira agrícola do Centro-Oeste.
“Se tem o lado ruim de ser uma cidade antiga, por outro lado a taxa de crescimento não é tão alta. Isso significa que, se fizermos um planejamento para um horizonte de 20 a 30 anos e se esse crescimento não é tão alto, a previsão fica próxima daquilo que é verificado na prática”, comenta.
Dos 192 mil veículos que circulavam na cidade até novembro, a maior parte era de automóveis, categoria na qual o transporte individual impera. Cerca de 121 mil automóveis e 7.589 caminhonetas, tipos de veículos em que há espaço para passageiros e cargas. As caminhonetes também são numerosas, com quase 14 mil unidades em São Carlos.
Entre os veículos de duas rodas, cuja soma agrega motocicletas, motonetas e ciclomotores, a soma chega a 37.801 em São Carlos. Já entre os coletivos, são 949 entre ônibus e micro-ônibus, segundo o Denatran.
O futuro da mobilidade urbana em São Carlos deve levar em consideração os diferentes modos de locomoção, desde a pé até carros, motos e ônibus, a relação entre origem e destino e até aspectos socioeconômicos da população.
“O transporte coletivo pode servir a uma população que tem poder aquisitivo, mas que precisa ser conscientizada da parte ambiental. Por outro lado, o poder público precisa de um sistema com qualidade e segurança. Daí temos o custo, se estamos dispostos a investir e se as pessoas estão dispostas a colaborar”, comenta.
O transporte por aplicativo, cuja mensuração não é feita pelos dados do Denatran, está em crescimento na cidade. Apesar de se vender como parte de uma solução de questões de mobilidade, pode se tornar ele próprio um novo problema.
“Existe o transporte por aplicativo, mas ele pode congestionar. Então, se pensarmos em termos de mobilidade, de sustentabilidade, o transporte coletivo é a principal alternativa”, analisa.
Segundo o secretário municipal de Transporte e Trânsito, Antônio Clóvis Pinto Ferraz, Coca Ferraz, para os próximos anos estão previstos investimentos na infraestrutura viária. Abertura de avenidas e instalação de semáforos estão em estudos. Em um dos casos, na avenida São Carlos, na altura da Praça Itália, já foram instalados novos dispositivos.
“Temos o exemplo da (rua) Heitor Reali, quer vai da rotatória da Cardinalli até a do Cedrinho, essa expandida por chegar até a região do Cruzeiro do Sul e é possível, e já vimos a viabilidade, de leva-la até o Cidade Aracy e conectá-la com a Regit Arab. Temos que completar também o Anel Viário”, comenta.
Para o secretário, há um dilema vivido, não somente por São Carlos, mas também “pela humanidade”, entre a divisão de investimentos entre transportes coletivos e individuais.
“Demos estabilizar a nossa população em menos de 300 mil habitantes, então nunca vamos ter um caos no trânsito. É questão de administrar os pontos críticos, expandir o sistema viário e, claro, fortalecer o transporte coletivo”, afirma.
Em meados de 2021, a gestão municipal deverá apresentar o Plano de Mobilidade Urbana, que está em elaboração pela Fundação Getúlio Vargas. O transporte por bicicleta está contemplado e deve receber investimentos nos próximos anos.
“Então temos neste segundo mandato vamos readequar as ciclovias existentes, reformar aquilo que for necessário e implantar ciclovias para atender a demanda por uso de bicicleta. Tanto para quem usa para trabalho, quanto para quem usa por lazer”, planeja.