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CotidianoSeis compostos cancerígenos foram encontrados na água de São Carlos, afirma Agência Pública

Seis compostos cancerígenos foram encontrados na água de São Carlos, afirma Agência Pública

Saae nega ter havido detecção de compostos entre 2018 e 2020; professor de química ambiental pede cautela na interpretação de dados

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Água pode ter contaminação por substâncias cancerígenas. (Foto: Pexel)
Água pode ter contaminação por substâncias cancerígenas. (Foto: Pexel)

A água distribuída pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de São Carlos apresentou substâncias potencialmente cancerígenas acima do limite estabelecido pela legislação brasileira.

É o que aponta o Mapa da Água, iniciativa da Repórter Brasil e Agência Pública que compilou dados fornecidos por empresas e órgãos de abastecimento ao Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade para Consumo Humano.

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No compilado dos anos de 2018, 2019 e 2020 mostra que a Capital da Tecnologia teve nos três anos consecutivos níveis acima do aceitável em compostos que podem gerar doenças crônicas, como câncer. Segundo o levantamento, as substâncias acrilamida e nitrato, além do metal pesado cádmio foram encontrados em desacordo com a legislação. O Saae contesta os dados.

Não menos agressivos, mas ainda assim encontrados na água em amostras coletadas no período, estão o mercúrio cianeto e trihalometanos. (Confira no final da reportagem o que as substâncias podem causar).

Segundo a Agência Pública, substâncias potencialmente perigosas à saúde foram encontradas em 763 municípios brasileiros, o que representa quase 14% das cidades. Além de São Carlos, foram encontrados poluentes cancerígenos em Araraquara e Ribeirão Preto. 
 

Pesquisa foi divulgada pela Agência Pública. (Foto: Divulgação)
Pesquisa foi divulgada pela Agência Pública. (Foto: Divulgação)

Para o professor de química ambiental Eduardo Bessa Azevedo, do Instituto de Química de São Carlos da USP (IQSC/USP), os dados devem ser analisados de forma criteriosa. A presença de compostos como metais na água é considerada normal, até pelo contato que o líquido tem com o solo antes da captação. Nesse processo de infiltração, o “solvente universal” vai carreando compostos. A normalidade, segundo Bessa, esbarra quando o limite máximo fixado por autoridades de saúde é transpassado.

“É uma informação importante, por exemplo, saber que de 20 amostras, 15 estavam contaminadas. Isso seria um problemão. Mas se de 20, uma estiver, não é, mas tem que acompanhar”, afirma. “Temos que olhar com muito cuidado esses números para podermos realmente avaliarmos o que está acontecendo. Por ser o laboratório, pode ser a água que está contaminada”, emenda.

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O professor lembrou que as estações de tratamento de água (ETA) e as de esgoto (ETE) não removem totalmente os poluentes, metais pesados e substâncias cancerígenas da água. Para evitar ter esses poluentes, a comunidade e gestão pública precisam evitar a contaminação, sobretudo a do solo e de cursos dágua.

“Temos que saber que temos as nossas responsabilidades. Eu, você, todo mundo. Por exemplo, essa questão do cádmio. Se a gente usa as baterias e pilhas e não descarta em lugar certo, joga no lixo comum, isso contamina a nossa água”, relata.

Problemas com o cianeto, também encontrado em São Carlos, conforme a Agência Pública, pode estar relacionado à presença de indústrias de metais, na opinião do professor.
 

Laboratório do Saae São Carlos (Foto: Divulgação)
Laboratório do Saae São Carlos (Foto: Divulgação)

O que o Saae diz
A autarquia respondeu não haver “resultado de análise no arquivo do Saae que comprove a detecção dessas substâncias acima do limite de segurança. Se houvesse, o Saae jamais distribuiria essa água”.

O órgão afirmou ainda que realiza criterioso monitoramento da qualidade da água distribuída em conformidade com a legislação vigente. “Os parâmetros citados na pesquisa são monitorados pelo Saae com a frequência trimestral e semestral (conforme a legislação) e nunca foram detectados”.
Questionado se faz análises químicas de poluentes para além do mínimo exigido na legislação, a autarquia respondeu realizou, em 2019, análise da presença de paracetamol, cetoprofeno, diclofenaco e ácido salicílico todos compostos farmacêuticos mas não os encontrou nas amostras coletadas nas águas superficiais do Córrego do Espraiado e Ribeirão do Feijão.

“Durante um ano, o pesquisador coletou amostras mensais de água dos pontos de entrada e saída da estação de tratamento da cidade e, felizmente, não foi identificado nenhum dos quatro fármacos pesquisados (Pesquisa realizada em parceria com Instituto de Química de São Carlos USP)”.

O Saae repudiou a afirmação da Agência Pública e disse que em 2019 publicou reportagem “totalmente equivocada” sobre a presença de agrotóxicos na água distribuída nos municípios, incluído São Carlos.

“Transformar dados em informação é algo que deve-se desenvolver em alinhamento à metodologia utilizada, ao sistema de gestão e à fundamentação teórica”.

Segundo o município, há de se avaliar se os poços são do Saae ou particulares, se o resultado detectado e quantificado está dentro do máximo permitido, a frequência dos resultados e a possibilidade de análise ou erro de digitação.
 
Possíveis malefícios
Cádmio
O metal cádmio é usado na manufatura de pilhas, baterias e componentes eletrônicos, além da fabricação de aço galvanizado e pigmentação de plástico.

O cádmio é tido como cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), que o colocou como grupo 1. Há evidências em casos de tumores pulmonares, além de outras doenças do trato respiratório, como enfisema.

Nitrato
Composto por átomos de nitrogênio e oxigênio, o nitrato é potencialmente cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e IARC. Pode causar problemas para mulheres grávidas e lactantes. É encontrado naturalmente na natureza, mas uma das fontes de poluição deste composto é a agricultura, com os fertilizantes nitrogenados.

Acrilamida
É tido como cancerígenos prováveis pela IARC. A substância é encontrada em alimentos e pode ser prejudicial para a saúde humana. É usada na produção de poliacrilamida, a qual é empregada no tratamento de água potável e de reuso para remover partículas e outras impurezas. É usada também na produção de cola, cosméticos e ainda na construção civil.

A acrilamida é conhecida por causar câncer em animais. Um dos estudos apontou desenvolvimento de câncer em ratos após a ingestão de água contaminada por longos períodos. Na Suécia, um estudo ligou a presença da substância à alimentos processados a altas temperaturas.

Trihalometanos
Derivados do metano, os trihalometanos são compostos que trocaram o carbono da molécula por átomo halógeno, como cloro, bromo e iodo. Eles são apontados como possivelmente cancerígenos pela IARC. São usados na fabricação de uma gama de produtos, de vernizes a agrotóxicos e anestésicos. A exposição oral pode produzir efeitos no fígado, rins e sangue.

Cianeto
É derivado sal do ácido cianídrico. Em grandes quantidades é extremamente perigoso e se coordena com o ferro da hemoglobina, bloqueando a recepção de oxigênio pelo sangue. Entre os efeitos de exposição de longa duração estão a diminuição da visão, dores de cabeça, fraqueza muscular, entre outros problemas de saúde.

Mercúrio
Por fim, o mercúrio é tido como possivelmente cancerígeno por agências de saúde. Pode afetar o funcionamento dos rins e gerar anomalias de desenvolvimento. É usado em processos industriais.

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Bruno Moraes
Bruno Moraeshttps://www.acidadeon.com/saocarlos/
Bruno Moraes é repórter do acidade on desde 2020, onde faz a cobertura política e econômica. É autor do livro “Jornalismo em Tempos de Ditadura”, pela Paco Editorial.
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