Usuários da Farmácia de Alto Custo, em São Carlos (SP), reclamam da falta de medicamentos e de transparência sobre as datas de entrega, além de grandes filas para receber atendimento.
A situação deixa pacientes com doenças graves tendo que escolher entre continuar o tratamento pagando caro pelos remédios ou honrar com as contas domésticas.
Em um dos casos, um são-carlense que preferiu não se identificar procurou a farmácia nesta terça-feira (5) para obter Donepezila, fármaco usado no tratamento do mal de Alzheimer de seu pai. O remédio, que era para ter chegado no dia 20 de setembro não está nas prateleiras e sequer tem previsão.
“O medicamento é para o meu pai que tem 92 anos. Todo o santo dia ele toma, mas está acabando. Não tem previsão. Temos que aguardar, vamos ver como vai ficar”, afirma.
De acordo com o usuário, já houve falta deste medicamento nas prateleiras da Farmácia de Alto Custo, mas a Donepezila foi reposta a tempo de continuar o tratamento. O fármaco está disponível em drogarias comerciais e custa entre R$ 60 e R$ 150 a caixa com 30 unidades, o suficiente para um mês.
Na fila do serviço, outra usuária que não quis ser identificada afirmou que a falta de medicamentos no local é frequente. Ela busca remédios para o pai, irmãos e para si própria e demonstrou preocupação com a situação.
“Tenho que fazer meu tratamento e só vou ter posição dessa medicação em novembro. A terapia era para dois meses e seria para já. Como não tem vou esperar. É impossível comprar”, relata.
Além do drama da falta de remédios, pacientes ainda precisam aguardar mais de hora na fila para receber a medicação, quando tem. Relatos apontam que o número de funcionários não é suficiente para dar conta da demanda. Haveria, ainda a cessão de funcionários para preenchimento de sistema em Araraquara, na sede do Departamento Regional de Saúde (DRS-3), órgão que faz a distribuição de medicamentos nos municípios.
O aposentado Antônio Roberto disse não sofrer da falta de medicamentos, mas espera bastante e vê as pessoas hora na fila.
“Mas muita gente que chega aqui e espera bastante na fila, chega lá (no guichê) e não tem (o remédio). Vi isso acontecer bastante. O povo reclama de vir e não achar remédio”, afirma.
Um serviço lançado pela Prefeitura de São Carlos e que poderia evitar os usuários de pegar fila à toa, o WhatsApp da Farmácia Alto Custo, não estaria mais respondendo questionamentos sobre a disponibilidade dos remédios, reclamam.
Prefeitura, Estado e Ministério respondem
Procurado, o município afirmou que a Farmácia de Alto Custo é um serviço de responsabilidade do governo do Estado. Da Prefeitura há funcionários cedidos, como a farmacêutica e dois auxiliares administrativos.
“Todo dia um funcionário vai para Araraquara na DRS-3 para digitar os medicamentos que são solicitados por munícipes de São Carlos”, diz a administração em nota.
O município completou que “todos os medicamentos ali fornecidos são de responsabilidade do governo do Estado”.
O governo do Estado afirmou que o medicamento Donepezila é fornecido pelo Ministério da Saúde e que “segue cobrando o Governo Federal por providências para regularização dos medicamentos utilizados por doentes graves”.
O Estado informou ainda que o ministério ainda não normalizou o envio de 17 medicamentos que seguem em situação crítica. “Isso representa 13% do total de medicamentos sob responsabilidade do órgão (128, no total)”.
“O Departamento Regional de Saúde de Araraquara pactuou com os municípios da região a colaboração de funcionários municipais para o apoio e registro de medicamentos de Alto Custo no setor, visando assim agilizar o atendimento à população”, relata.
A gestão João Doria (PSDB) finalizou dizendo que “vem estudando constantemente ações que possam melhorar e otimizar o atendimento das unidades de dispensação de medicamentos em todo o Estado, inclusive São Carlos”.
Por sua vez, o Ministério da Saúde disse, em resposta, que “mesmo com as dificuldades enfrentadas em razão dos problemas ocasionados pela pandemia da Covid-19, mantém todos os esforços para garantir o abastecimento de medicamentos ofertados pelo SUS”.
“A pasta esclarece que o atendimento do terceiro trimestre das demandas por medicamentos dos estados é feito de maneira parcelada, considerando a disponibilidade de estoque e de entrega pelas empresas contratadas”, finaliza.