O segundo dia de São Carlos Experience (SCX) continuou atraindo o público interessado em tecnologia, inovação, arte e gastronomia.
Nesta quinta-feira (26), os debates sobre agronegócio chamaram bastante a atenção entre as várias atividades disponibilizadas na programação.
Mudanças Climáticas
Nossa reportagem começou o dia acompanhando o painel “Mudanças climáticas e o papel da agricultura de baixo carbono”, na Arena SCX, em Onovolab. A troca de ideias contou com a presença de Ladislau Martin, pesquisador A da Embrapa Instrumentação; Alexandre Berndt, pesquisador e chefe-geral na Embrapa Pecuária Sudeste; Fabio Angelis, founder e CEO da Agro Robótica; e Rodrigo Casagrande, professor convidado que atua na FGV Management. A mediação ficou por conta de Edilson Fragalle, analista do núcleo de comunicação organizacional da Embrapa Instrumentação.
Casagrande leciona na capital paulista. Comentou que costuma provocar seus alunos sobre a potência do agro. “Nas cidades as pessoas não têm conhecimento do que é de fato o agro. Lá na avenida Paulista eu digo para eles: o Brasil não é essa selva de pedra que a gente vê por aqui. São 850 milhões de hectares e apenas 3% é cidade.”
Durante o bate-papo, os pesquisadores da Embrapa reconheceram que a agricultura nem sempre é vista com bons olhos do ponto de vista ambiental, mas fizeram ponderações. “Controlar o desmatamento é responsabilidade de governo, país, e é extremamente relevante para separar o joio do trigo. À medida que nossa produção cresce e o desmatamento também cresce, o mundo fica com uma impressão errada sobre o nosso agro”, afirmou Martin.
Berndt declarou que “já estamos nesse momento de aquecimento crítico” e que “eventos extremos têm aumentado com frequência”, citando, por exemplo, a maior seca do Rio Negro, no Amazonas, em 121 anos, e as chuvas no sul do Brasil. “Mas precisamos lembrar: não há nenhuma atividade humana que não emita carbono. Só que a gente tem que falar primeiro em desfossilização, já que os combustíveis fósseis são os maiores emissores de gás carbônico, e também de matrizes energéticas mais limpas.”
A empresa de Angelis contribui no chamado “sequestro de carbono”, ou seja, a remoção do gás da atmosfera a partir de algumas estratégias. Ele também agregou ao painel com a própria experiência. “Os créditos de carbono estão começando no Brasil, mas ano passado esse mercado já fechou em dois bilhões de dólares globalmente. O carbono é uma nova moeda para o agricultor, e será um padrão de entrada nos mercados internacionais.”
Acesso ampliado ao universo agro
Se os temas ligados à agricultura parecem um tanto complexos, há quem esteja tentando facilitar o acesso a eles. Esse foi o foco do painel “Revolução digital no agro: como redes sociais e influencers estão transformando a comunicação no campo”, na antiga Estação Ferroviária. Estiveram presentes os Primos Agro (João Vitor Castro e Eduardo Palhares) e Fernanda Silva, head de social media da Mídia Monks.
João e Eduardo são primos, de fato, ambos engenheiros agrônomos. Viram em redes como Instagram e TikTok uma oportunidade de mostrar a rotina de trabalho e a vivência no universo agro com doses elevadas de bom humor e descontração. “Há uma tendência cada vez maior de humanizar um conteúdo que pode ser difícil de explicar”, destacou a head de social media.
Os primos mostraram exemplos e números dos conteúdos que produzem. No Instagram, por exemplo, até outubro do ano passado contavam com cerca de mil seguidores. Hoje, já chegaram a mais de 300 mil.
“A grande ‘dor’ de hoje é aquelas empresas numa pegada muito corporativa conversar com o público dela”, avaliou Castro. “Quem não está criando conteúdo fica pra trás. Às vezes você produz a melhor uva da região, mas não mostra. E o produtor vizinho mostra e se sobressai”, completou Palhares.
Inclusão no mercado de trabalho
Outra atividade que marcou a programação do segundo dia foi a palestra “Inclusão pelo trabalho de pessoas em desvantagem social”, no espaço UFSCar na Área, em Onovolab. A atividade foi comandada pela professora Isabela Aparecida de Oliveira Lussi, do departamento de Terapia Ocupacional da universidade.
Isabela lembrou que o conceito de pessoas em desvantagem social foi “emprestado” da Itália e engloba desde usuários de álcool e drogas até pessoas que recém saíram do sistema prisional; pessoas em situação de rua; pessoas com deficiência; entre outros grupos.
Ela falou de ações conjuntas com cooperativas formadas em São Carlos e Araraquara, para aplicar a chamada economia solidária. “É um trabalho com um público que dificilmente é ouvido. A pessoa que saiu da prisão, por exemplo, não consegue oportunidade com facilidade. Aí essa pessoa precisa comer e viver. Se não tem uma possibilidade, volta para um ciclo anterior. Se no geral já é difícil, imagina para quem já carrega um ‘carimbo’”
A professora ainda deixou uma reflexão. “O trabalho pode adoecer, mas também pode fazer a diferença.”
O SCX
O São Carlos Experience acontece de 25 a 29 de outubro. O festival foi previamente nomeado como “um evento feito de vários eventos”. A programação completa e o formulário de inscrição para participar estão no site oficial (https://saocarlosexperience.com)
De acordo com a organização, será uma oportunidade de acesso ao “melhor que se produz no ecossistema de inovação, ciência, tecnologia e empreendedorismo de São Carlos”. A programação completa está no site oficial.
O evento também vai reunir arte, cultura e gastronomia como pilares complementares. As atividades do São Carlos Experience serão pautadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).