Empresários do setor de turismo estão usando de diferentes meios para manter os negócios andando, apesar da crise provocada pelo novo coronavírus.
Com as restrições provocadas pela pandemia, inclusive o “bloqueio branco” imposto ao Brasil por outras nações, fez com que os empresários tenham buscado alternativas nas redes sociais e nas redes de trabalho, conhecido pelo termo em inglês network.
Samuel Contrijane é empresário do ramo de turismo e dirige uma agência de turismo em São Carlos. O começo da pandemia de Covid-19, no primeiro trimestre do ano passado, impôs um verdadeiro baque nos negócios dele. Desde então, a situação vivenciada por ele é classificada como “uma montanha russa”.
“Podemos falar que está uma montanha russa. Uma hora está em cima (a negociação), outra está embaixo. Provavelmente, daqui a pouco vai melhorar um pouco, depois pior. Enquanto não tiver a maioria do pessoal vacinado isso não vai melhorar, vai ficar neste sobe e desce”, resume.
Para o empresário, cuja agência tem como foco as viagens de lazer, a clientela até tem interesse em viajar. Mas o ambiente de negócios, dizem os economistas, vive de expectativas boas ou ruins. E o mar não está para peixe neste momento. Diante do risco de desemprego, não há quem se aventure em adicionar um boleto no rol de compromissos mensais.
“Se compra, perde o emprego, tem o dinheiro limitado. (O cliente) não vai conseguir bancar essa parcela mensal. Não vai arriscar a questão financeira da família. Basicamente é isso”, relata.
Apesar das vacas magras deste fim de primeiro trimestre, o setor experimentou um período de respiro desde a flexibilização do segundo trimestre do ano passado. A crise fez com que se manteve empregado guardasse dinheiro. Com a expectativa de vacinação em 2021, muitos decidiram aproveitar a “janela” do final de ano para passear.
“Finalizamos o ano bem melhor do que março (de 2020), então o pessoal achou que 2021 seria bem melhor, principalmente pela notícia da vacina que iniciaria, então todo mundo pensou que tudo iria se normalizar, o pessoal começou a gastar o que não gastou em 2020 e deu aquele boom no começo do ano”, especula.
Como qualquer outra bolha, a esperança da vacinação célere no Brasil se esvaiu como aquelas bolinhas de sabão feitas por crianças. A sucessão de notícias ruins, falta de matéria-prima, e até problemas no envaze trataram de desfazer a expectativa do brasileiro. E o setor se deparou com um 7 a 1 econômico.
“Começou (o ano), falou muito da vacina, porém não estão sendo vacinadas muitas pessoas, voltou a fechar tudo, o pessoal voltou a ficar com medo, voltamos à estaca zero igual estava em março ou abril do ano passado”, lamenta.
O alento vivido pelo empresário vem do fato de a maior parte dos clientes na proporção de 70% preferirem destinos nacionais, seja pelas belezas naturais ou por imposição do dólar nas alturas.
“Até vendemos (viagem ao) Chile no ano passado, pessoal achou que estaria melhor agora a temporada de inverno, que vai de junho até o começo de setembro, mas agora parou. Ninguém está pedindo, tanto que nem estamos oferecendo.”
Com o avanço na pandemia dentro do país, elevando as taxas de ocupação em praticamente todos os estados, há o risco de destinos preferidos pelos brasileiros, como as praias nordestinas, fecharem por imposições sanitárias.
“A demanda nossa caiu bastante, posso dizer que acima de 80% a 90%”. “Basicamente, o pessoal está pegando viagens de outubro para frente, não antes”, emenda o empresário que espera que em meados de abril a situação volte a uma normalidade menos dramática para os negócios.
Para tentar fechar negócios, Contrijani investiu ainda mais nas redes sociais. Em uma tendência adotada pelo menos desde 2016, já amealhou 27 mil seguidores no Facebook e outros 12 mil no Instagram. As redes facilitam os negócios, dependendo somente da assinatura do contrato presencialmente. Quando, onde, como, e quanto vai custar são questões que são resolvidas por chat ou WhatsApp. E as parcelas são a perder de vista.
Em outra agência de São Carlos, Wilson Campos traçou outra estratégia para os seus negócios. Como tem um foco diferenciado, apostou no tête-à-tête para estreitar laços e garantir novos clientes. No ramo de viagens de negócios, o que vale é o networking, a arte de manter contatos comerciais.
Daí um cafezinho pode fazer a diferença. Visitas esporádicas, solicitações de indicações, troca de cartões podem garantir um “aperto de mãos”, metaforicamente falando.
“Nessa instabilidade, é mais difícil, por exemplo, ligar para um executivo que dentro da empresa representa a área de viagens e conseguir marcar uma reunião. Já quando é apresentado, daí as pessoas pelo menos te atendem”. “É aí que você tem uma chance de conquistar novos clientes”, ensina.
Atualmente, o volume de negócios está 80% menor do que o de antes da pandemia de Covid-19. Mas o faturamento chegou a próximo de zero no ano passado, no período de fechamento quase que completo da economia.
Para segurar as pontas, Campos reduziu os custos o quanto pode e manteve o mínimo necessário para seguir em atividade. Passado o período de hibernação forçada, viu os negócios florescerem nas viagens corporativas.
“Em maio o negócio ficou bem esquisito. Depois tínhamos uma demanda de corporativo. A viagem de negócios tem uma característica diferente. Empresas de logística que atendemos não pararam, teve um boom de serviços”. “Estes continuaram tendo demanda por hospedagens e voos”.
Nestas viagens de negócios, executivos, vendedores e representantes vão até os clientes para tentar fechar contratos. São viagens em que o planejamento é mais curto, assim como as estadias.
Assim como Contrijane, Campos também sentiu uma melhoria do ambiente de negócios na reta final de 2020.E aproveitou os contatos com os funcionários das empresas com quem já faz negócios para fechar pacotes de viagens de lazer.
“O lazer é o que mais sentiu, justamente pela aquela história de que enquanto não houver uma segurança sanitária real, muita gente vai adiando os planos de férias”, comenta.
Sobre os destinos, Campos avalia haver prevalência de localidades nacionais sobre os internacionais, até mesmo porque muitos países fecharam as portas para turistas brasileiros. Entre os poucos que “aceitam” brasileiros está o México, cujas paradisíacas praias caribenhas povoam o imaginário coletivo local. “Em dólar, está relativamente barato”.
Para os próximos meses, os empresários torcem haver vacinação acelerada, com imunização em altas taxas antes das próximas férias de fim de ano. A partir de então, a expectativa é de restabelecimento da confiança e melhora do clima de negócios.