“A gente só não chora porque não sabe o que fazer. Dá vontade de chorar pelo desemprego, pelas dívidas para pagar. Eu venho passando (por uma situação) muito difícil.”
A fala é da ex-doméstica Dina Marques Firmino, que está desempregada. Ela conta com os R$ 150 que virão do Auxílio Emergencial do governo federal, mas não sabe como sobreviverá com o valor, pois tem de comprar o que comer e pagar as contas, como o aluguel, água e luz. Ela abriu um MEI (microempreendedor individual) para faturar na venda de produtos em uma banca informal montada no Centro de São Carlos, mas a situação é difícil.
“Sinceramente, o fiscal pediu para eu parar de vir (vender), mas como? Além de morrer da doença, vou morrer também de fome. Até estou sendo teimosa porque estou aqui na sobrevivência, lutando para viver”, relata.
Em meio a pandemia, a situação de famílias com contas atrasadas tem sido comum no Brasil da pandemia. E em São Carlos, não tem sido diferente. São 73.217 pessoas com dívidas vencidas, o que representa a 30% da população da cidade. O dado é do Serasa Experian.
Entre os endividados, há que veja uma luz no fim do túnel. É o caso de Gislaine Maciel, professora eventual. Por “eventual”, explica a docente, é aquele profissional que recebe só se der aula, se não, o holerite vem zerado. Como conseguiu mudar de categoria, agora tem perspectiva de se sustentar e pagar as contas. Antes, a situação era de desassossego.
“Fiquei de março (de 2020) até agora sem receber. As contas chegam, mas o salário, não, e o emergencial é muito pouco. Acumulou bastante (a dívida) “, comenta.
A pandemia de Covid-19 levou mais consumidores à situação de inadimplência em São Carlos. Segundo o Serasa Experian, quase 1.500 pessoas adentraram na condição de ter contas atrasadas, na comparação os meses de janeiro de 2020 e 2021.
No total são 73.217 consumidores estavam com alguma conta atrasada inscrita no bureau de crédito, contra 71.770 no ano passado. A soma de janeiro deste ano representa 30,2% da população de São Carlos.
Na virada do ano, o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso ficou em 25,7%, segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Para o economista Paulo Cereda, a situação vivida pelos brasileiros pode piorar nos próximos meses, caso a vacinação continue lenta e não haja um planejamento sério da retomada econômica. Com mais gente com o nome comprometido nos serviços de proteção ao crédito, menor potencial para o crescimento.
“Toda a cadeia produtiva depende de consumo e demanda para retomar a produção. Estar com a renda comprometida vai atrapalhar o crescimento”, comenta.
Para as famílias, o economista receita o enxugamento de gastos, com corte de contas e compromissos que podem ser considerados supérfluos. Por outro lado, é prudente tentar aumentar a renda, seja com qualificação ou atividades empreendedoras que sirvam de complemento.
“O primeiro passo é enfrentar o medo. Muita gente tem receito de ver os gastos, medo de olhar as contas e esse é o primeiro erro”, finaliza.