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EconomiaFundação Seade projeta São Carlos "idosa" em 2050

Fundação Seade projeta São Carlos “idosa” em 2050

Cenários populacionais de órgão mostram que 33% dos são-carlenses terão mais de 60 anos no meio do século; mudanças exigirão novas políticas públicas e preparação econômica, segundo cientistas

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São Carlos vai passar por processo de envelhecimento nos próximos anos. (Foto: Divulgação/Pixabay)

O município de São Carlos vai passar por um processo intenso de envelhecimento populacional nas próximas décadas. Estimativa feita pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) mostra que a população com mais de 60 anos deverá crescer 36% até 2030 e praticamente dobrar em 2050.

Essa mudança populacional exigirá alterações na oferta de serviços públicos e implicará em novo perfil econômico da cidade, com alterações de consumo, de acordo com especialistas ouvidos pelo ACidade ON.

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Segundo a Fundação Seade, em 2000, 10,5% dos moradores são-carlenses tinham mais de 60 anos. O percentual passou para 16,8% em 2020 e deve beirar os 22% em 2030. Em um horizonte de longo prazo, a proporção de idosos deve ser de um a cada três munícipes em 2050.

Em contrapartida, a quantidade de crianças e adolescentes deverá diminuir em termos proporcionais nos próximos anos. Entre 2000 e 2020, a estimativa percentual de moradores com até 14 anos passou de 24% para 17%. Para 2030, a expectativa é de que 15% dos são-carlenses tenham essa faixa etária. Já para 2050, a projeção é de 11,5%.
 

Envelhecimento da população terá implicações na economia local

Para o professor de saúde pública da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp de Araraquara, o médico Rodolpho Telarolli Júnior, a redução na quantidade de crianças e adolescentes e o aumento da população idosa exigirá a mudança nos serviços públicos na cidade. São Carlos precisará de menos escolas, creches e atendimento de saúde especializado na fase infantil e mais na outra “ponta”.

“O idoso é um consumidor voraz porque tem doenças que são chamadas de crônicas degenerativas, aquelas que vão se desenvolvendo ao longo da vida, fruto do envelhecimento. Tem a pressão alta, diabetes, outras doenças cardiorrespiratórias e os cânceres que são mais comuns entre os idosos. São enfermidades que têm tratamento mais caro e que demanda mais assistência hospitalar, multidisciplinar. O idoso é um doente mais caro”, exemplifica.

O Brasil tem passado por uma mudança demográfica desde meados de 1980. Para o médico, o país, o Estado e a cidade perderam a “janela de oportunidade” para levar mais serviços à população idosa e vai ter que “trocar o pneu com o carro andando”.

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“Foi um período em que o poder público tinha para ter implantado as medidas de políticas públicas para oferecer assistência para esse batalhão de idosos. Temos que manter a qualidade de vida conquistada por essas pessoas. Nonagenários não são mais figuras de exceção”, comenta.

Para além da saúde, o município precisará de adequações no espaço urbano, segundo Telarolli. Há leis que estabelecem normas de acessibilidade para pessoas com dificuldades de locomoção, como os idosos. Apesar da obrigatoriedade, há prédios públicos, particulares e calçadas que são verdadeiros ambientes hostis para os mais velhos. Degraus, rampas íngremes, pisos escorregadios, por exemplo, podem ser armadilhas para idosos, que precisam se locomover de modo autossuficiente.
 

Desníveis em calçadas são verdadeiras armadilhas para idosos.

“Então precisa fazer as adequações públicas, calçadas que precisam ser adequadas e transitáveis de maneira que o idoso ande sozinho, bengala, andador e cadeira de rodas. Os prédios públicos e privados precisam de adequações necessárias, então existe uma legislação muito boa que não é cumprida”, opina.

Ainda de olho no futuro, a cidade deverá garantir que o jovem de hoje tenha condições e meios de chegar à terceira idade com saúde. E isso é feito por meio não só de políticas públicas no âmbito municipal, como o oferecimento de serviços médicos preventivos, mas em âmbito estadual e, principalmente federal.

Segundo o médico, há a necessidade de se apertar a legislação para reduzir o teor de sal, açúcar e gordura nos alimentos, o consumo de tabaco itens que podem impactar futuramente em uma sobrecarga do sistema de saúde pública.
 

Mudanças populacionais vão mudar São Carlos nas próximas décadas (Foto: Divulgação/Pixabay)

Para os idosos que estão com a saúde debilitada, o professor indica a abertura de serviços especializados, como centros-dia, locais bastante difundidos na Europa que oferecem acompanhamento médico, de cuidadores, e atividades de lazer.

“E o poder público não oferece em número suficiente instituições para uso da população idosa. Então precisamos preparar o sistema de saúde, preparar a cidade para os idosos”, relata.

No campo da economia, o envelhecimento da população pode mudar o perfil de consumo em São Carlos, de acordo com o professor de economia da Universidade de São Carlos, Joelson Gonçalves de Carvalho. “De modo proporcional, mais pessoas com mais idade tende a fazer uma mudança drástica do perfil de consumo, tende a ter uma renda mais comprometida com serviços de saúde e a gerar uma preocupação frente a previdência social”, relata o economista.

As mudanças tecnológicas que poderão surgir nas próximas décadas poderão transformar sobretudo o mercado de trabalho, aumentando o desemprego estrutural, o que pode se tornar um problema adicional.

Nos últimos anos, a taxa de desemprego tem sido maior entre pessoas com mais de 50 anos e durante a pandemia, o mercado de trabalho realizou dispensas mais numerosas entre os mais experientes. Mesmo com as recontratações, os postos foram absorvidos pelo contingente de desempregos que tinham idades mais baixas.

“Quando digo pequenas coisas, o Estado pode incentivar por meio de políticas a empregabilidade das pessoas que estão envelhecendo, ou seja, podemos ter a exemplo de políticas de primeiro emprego, meios que garantam a manutenção de pessoas com mais de 60 anos no mercado de trabalho, caso elas tenham condições e vontade de permanecer”, recomenda.

Para o professor de economia, o Estado deve planejar projetos de saúde laboral, espaços de bem-viver e pensar a longo prazo um sistema de proteção social que leve em consideração o envelhecimento da população. A discussão econômica do futuro demográfico nacional não deve ser embasada apenas no caixa da Previdência Social e merece maior profundidade.

“Por isso sempre alerto: a reforma da Previdência feita num passado recente une muito mais os sujeitos sociais e no frigir dos ovos contribui muito pouco para a economia do Estado. Temos que pensar em um sistema de proteção social menos economicista e mais solidário, mais humano”, comenta.

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