Alternativa mais barata às carnes, o preço dos ovos teve um verdadeiro vai e vem no mês de março. Os aumentos e recuos deixaram descontentes tantos consumidores quanto produtores, por motivos diferentes.
Entre os consumidores, o aumento do ovo no início do mês passado foi motivo de reclamação. Para quem quer economizar, a alternativa à carne ficou salgada.
A servidora pública Kelly Santos relatou percebeu que a dúzia de ovos ficou mais cara no supermercado. Na casa de Kelly, a opção pelo ovo deriva de o fato de todos na família gostarem bastante. “Mas o preço da carne está bem caro mesmo, então é uma vantagem. Nós consumimos ovo cerca de quatro vezes por semana”, relata.
A impressão dela encontra respaldo nas medições feitas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP). As médias de março atingiram recordes reais da série histórica iniciada em 2013. Para pesquisadores do centro, um dos fatores que determinaram a elevação dos preços foi a oferta enxuta, principalmente de ovos maiores, como o extra e jumbo. Ajudou também a Quaresma, época em que os ovos viraram alternativa à carne.
Já na segunda metade do mês, quando o preço caiu, o endurecimento de restrições em diversas partes do país, por conta da pandemia, fez com que restaurantes, bares e outros serviços de alimentação cessassem a operação. Com menor procura a cotação diminuiu.
Apesar de ser uma boa notícia para o consumidor, a inconstância de preços aperta a margem para quem produz ovos e também para quem vende. De acordo com o empresário Anderson Ramires Carlos, cuja loja na vila Prado vende cerca de 800 dúzias por dia, a margem bruta caiu de 40% para menos de 30%.
“O pessoal fala: Nossa mas você está vendendo bem. Sim, vendemos, mas o nosso lucro diminuiu bastante. Então não adianta. Graças a Deus, ainda estamos vendendo, mas o lucro já não é o mesmo de antes”, comenta.
Antes da pandemia, Carlos vendia entre 400 e 600 dúzias diárias. Agora, as vendas chegam a 800 diárias nos melhores dias. Para ele, a preferência pelos ovos vem da facilidade para quem está em casa na quarentena. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estima que o consumo de ovos em 2021 deve aumentar em 6% na comparação com 2020.
“O ovo é prático”. “Você vai procurar alguma coisa para comer vai fazer o que é mais fácil: arroz, feijão e ovo. Se está com criança em casa acaba fazendo um bolo e torta (com ovos). Além de ele ser bem nutritivo, é saudável”, comenta.
Além de vender ovos diretamente para o consumidor, Carlos também vende para autônomos que revendem nas ruas. “Isso também aumentou, principalmente o pessoal que tem van, que estão parados, pegando ovos para vender na rua, virou uma fonte de renda”.
O empresário costuma comprar ovos de diversos avicultores, dentro de um raio de distância em que o frete não fique proibitivo. Entre os fornecedores de Carlos está Fiorindo Carlos Venturini, de Itápolis (SP).
Venturini produz, mensalmente, algo em torno de 4 mil caixas de 30 dúzias, o que em uma conta rápida chega a 1,4 milhão de ovos. São 55 mil galinhas, mas há espaço para 70 mil em sua propriedade.
“O meu plantel é para 70 mil, mas hoje estou com 55 mil aves devido ao alto custo de produção e o preço que não está sendo compensador, então diminuímos um pouco”, explica.
A lógica usada por Venturini usa a própria regra de oferta e procura para aumentar o preço dos ovos. Com menos aves, menor quantidade de produto no mercado. Como a procura está em alta, o preço sobe. Isso tudo em um cenário em que a alimentação das galinhas tem pesado nas contas.
Soja e milho, principais ingredientes da ração, estão subindo com o aumento da procura em mercados que conseguiram estancar a pandemia de Covid-19. Há um ano, a cotação da soja estava perto de R$ 94. Na terça-feira (6), fechou em R$ 167. Já o milho, saiu de R$ 57 para R$ 94.
“Devido ao alto custo de produção, chega no final do mês e não conseguimos fechar as contas. Estamos com um déficit de R$ 40 a R$ 50 por caixa de ovos de 30 dúzias. È como nós pagássemos para produzir”, relata.
Segundo o avicultor, soma-se aos custos a energia elétrica, funcionários, manutenção de maquinário e investimentos.
“Acredito que isso pode prolongar mais ainda e dentro de 30 dias ainda não esteja ainda resolvido”, conclui.