“Sem fechar de novo, pelo amor de Deus”.
O apelo de Alex Borges, dono de um tradicional bar na Avenida São Carlos, traduz a corda bamba em que donos de bares da cidade vivenciam neste momento de flexibilização e vacinação contra a Covid em andamento enquanto a variante delta ronda o Estado de São Paulo.
O combate à pandemia de Covid-19 exigiu de donos de bares e restaurantes mais sacrifícios se comparados às outras atividades econômicas, mas é consenso de que a crise sanitária e econômica afetou a todos, sem exceção.
“Foi um momento muito difícil. Tivemos que nos reinventar no delivery, uma coisa que não trabalhávamos. Passamos tempos complicados, com muitas perdas, como todo mundo teve. Nos reinventamos”.
Apesar do otimismo, a ideia é de cautela. Apesar da autorização para funcionar até a meia-noite às sextas e sábados, com capacidade limitada a 80%, os protocolos sanitários devem ser seguidos. A regra já é de conhecimento de todo o ramo (e dos clientes também): distanciamento mínimo de 1,5 metro, proibição de consumo em pé, “open” de álcool gel e uso de máscara durante a circulação pelo ambiente.
Apesar de mais flexível hoje do que no passado, as regras ainda despertam descontentamento. Principalmente quando o relógio ameaça a se aproximar do horário do fechamento. A “saideira” obrigatória gera chiadeira entre alguns clientes.
“Ficam revoltados. Pegam por comparação com São Paulo capital que está liberado lá (o horário). Há outras cidades liberadas e o povo não entende não”, comenta Jackson André de Andrade, proprietário de uma casa localizada na Avenida Comendador Alfredo Maffei.
O descontentamento encontra algum tipo de correlação com o clima. Em pleno inverno, São Carlos tem registrado temperaturas de verão, com termômetros acima dos 30°C. “Na verdade, ainda mais com esse calor que anda fazendo ninguém quer ir embora para casa à meia-noite”.
Apesar dos finais de semana com alto giro de clientes, os bares da cidade enfrentam uma situação em que acaba descompensando os ganhos. É que durante o meio da semana o movimento continua morno, segundo o vice-presidente do Sindicato dos Proprietários de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de São Carlos e Região (Sinhores), Marcos Benetti.
“Sempre falo que se trabalhar somente nos finais de semana, você paga as contas e não ganha dinheiro, mesmo com a casa lotada. Você precisa ter um giro bom de clientes a semana toda para poder fazer um dinheiro e conseguir faturar e ter uma sobra”, comenta.
Para Benetti, a questão financeira continua afetando o equilíbrio de bares e restaurantes. Para manter o negócio em pé, muitos proprietários recorreram a programas oficiais e empréstimos no ano passado vislumbrando um futuro de abertura que só se concretizou em meados de 2021.
“A gente pegou financiamento no ano passado achando que em agosto de 2021 estaríamos trabalhando normal e conseguiríamos pagar. Meu grande receio é que as dívidas que o pessoal contraiu vão começar a pingar as prestações agora”, conclui.