Imagine após décadas de trabalho suado, carregando o “trabalho nas costas” receber a aposentadoria a possibilidade de sair viajando. Visitar locais bacanas, como campos, praias e serras. Passar a noite em campings, na beira da estrada ou em um posto de combustível de uma rodovia erma.
Em São Carlos, uma fábrica transforma “Velhas Senhoras” — como a Volkswagen Kombi é conhecida informalmente — em casinhas. Os motorhomes dão a possibilidade para famílias viajarem confortáveis, com a chance de acampar dentro do carro.
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Fabu Dias é o responsável pela transformação. Ele e mais sete que compõem a sua equipe, recebem Kombis que passaram anos e anos usadas para inúmeras atividades: transporte de mercadorias, entregas de supermercado, correios, van escolar, entre outros. Em uma adaptação ele transforma a Velha Senhora em uma casinha confortável capaz de carregar dois adultos e uma criança e até um pet.
“Normalmente, é um carro que foi muito batido, ao ponto de levantarmos o carro e ter amassados embaixo. Usavam até acabar. E ganhar uma vida nova virando casa é muito simbólico. A galera compra Kombis para transformar em casinha”, afirma.
O próprio Fabu foi picado pela mosca da Kombi. Então adepto de motos, saiu em viagem na América do Sul com uma e passou frio. Descobriu os motorhomes baseados no Volkswagen e ficou “fissurado”. Em 2018, comprou uma van para fazer a transformação, sem conhecimento prévio de como faria isso.
“E aí conseguimos a Philomena e desde quando comecei a construí-la nunca mais parei”.
Então funcionário do Sesc, Fabu juntou o conhecimento em eletrônica e o gosto por atividades manuais para montar a movelaria da Philomena. A pioneira tem acabamento esmerado. Conta com cama, refrigerador, fogão e armários. Externamente os adesivos mostram que a vocação do carro é o lazer.
O serviço antes feito na garagem de casa virou empresa com oito trabalhadores. Atualmente, a conta já supera as 80 Kombis transformadas em motorhome.
Nos últimos cinco anos, o brasileiro tem demonstrado mais vontade de aproveitar os tempos livres. Aquele plano de “depois de aposentar” sair viajando por aí foi adiantado. A duras penas, a pandemia mostrou que a vida é breve e nem sempre teremos a condição de chegar até lá para concretizar o plano, relembra Fabu.
Os interesses atuais, de sair por aí em viagem, rememoram àqueles vivenciados no auge do movimento de contracultura, dos anos 1960, tal qual no livro “On The Road”, de Jack Kerouac. Nesta época, a corujinha alemã era figurinha carimbada da cultura hippie.
Como contraponto, as Kombis de hoje são mais preparadas para uma convivência “doméstica”. Possuem sistema de energia solar, bateria parruda, geladeira, fogão e cama. Os mais ousados colocam forno de microondas.
“Tem muita gente que se espanta mesmo. Você chega com a Kombi e todo mundo pede para ver, falam: ‘Caramba, tudo isso dentro de uma Kombi, que da hora’. É um barato”, afirma.
Dentre as dezenas de encomendas – e mais aí vem pela frente, com a lista de espera até abril de 2024 – Fabu relembra o objeto mais diferente que adaptou em uma Kombi. É um clavicórdio, instrumento antecessor do piano moderno que remonta aos tempos medievais. “Fizemos um desenho para caber dentro do carro”. O veículo é de um professor de inglês que aprendeu a tocar o instrumento no Conservatório de Tatuí.
ADEPTOS NA REGIÃO
Apesar de dispor de belezas naturais e infraestrutura considerada boa, a região de São Carlos ainda não tem muitos adeptos ao campismo. Mas, desde a pandemia de Covid-19, houve crescimento do interesse pelo assunto.
A prática ainda é restrita a classes mais altas de renda. Além do custo de aquisição de uma Kombi, que gira em torno de R$ 40 mil – valores para uma de dez anos de uso – o proprietário ainda deve investir na adaptação, que consome outros milhares de reais.
Com popularidade das redes da Philomena Estradeira, que soma 173 mil mil seguidores entre Youtube e Instagram, a expectativa de Fabu é que mais e mais pessoas se interessem pelo assunto e virem adeptos da prática.
“Eu lembro que fomos para o maior encontro de Kombis do Brasil e tinha 30 veículos. Hoje a conta vai para 500. É muita Kombi [motorhome]”, relembra.
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