O ex-prefeito de São Carlos (SP) Newton Lima (PT) descartou a possibilidade de ser candidato a deputado federal nas eleições de outubro.
Em entrevista ao ACidade ON, o político também criticou o “desmonte” realizado na cidade após os governos do PT e falou sobre a possibilidade de ser candidato a prefeito nas eleições em 2024.
Além disso, deu sua opinião sobre a formação da chapa presidencial formada pelo ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Ouça a entrevista completa:
1 – Newton, existe a possibilidade de o senhor ser candidato a deputado estadual ou federal?
Resposta: Certamente não. Eu vou me envolver muito fortemente na campanha do ex-presidente Lula. Eu tenho uma esperança muito grande de o PT poder governar São Paulo pela primeira vez depois desses quase 30 anos de PSDB. Se tudo der certo, o Haddad será o nosso candidato. Estamos trabalhando numa proposta de programa que leva em consideração uma mudança completa de mentalidade em relação a tudo o que vem sendo feito no governo Doria.
2 – Já tem algum candidato que o senhor deve apoiar?
R: O deputado federal Paulo Teixeira (PT), que tem uma atuação na Câmara dos Deputados digna de muitos elogios. Ele é muito respeitado por todos, inclusive pelos parlamentares de oposição. É extremamente corajoso, defende a Constituição, o estado democrático de direito. Ele se confronta com o governo Bolsonaro pelo autoritarismo, pelo negacionismo, obscurantismo, por todas essas políticas antissociais e, inclusive, os crimes ambientais.
Ele tem estado em São Carlos e todas as vezes que nós o chamamos ajudou com emendas parlamentares para a Santa Casa, Instituto Federal, Universidade Federal, CDCC. Enfim, é um conjunto de contribuições importantes que ele vem fazendo e nós vamos então participar, Barba e eu, os dois ex-prefeitos, na reeleição dele.
3 – Em relação a candidatura para deputado estadual, o PT em São Carlos vai ter candidato ou deverá apoiar alguém?
R: Até esse momento ninguém se apresentou como candidato a deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Claro, é sempre uma possibilidade que está aberta, mas, até esse momento, ninguém se prontificou.
4 – Será candidato a prefeito em 2024?
R: Existe, na verdade, um senso de responsabilidade de quem governou a cidade por 8 anos e tem um amor imenso por essa cidade. Lutei por ela como deputado federal, já havia lutado dentro da Universidade Federal, ajudando a projetar e a trazer recursos para a UFSCar, com ampliação de cursos e, portanto, programas e trazendo mais gente para morar em São Carlos. Ajudando a São Carlos a se caracterizar como a cidade da tecnologia, como se caracterizou.
Então, para quem ama tanto a cidade, vê-la no estado deplorável em que se encontra hoje, pelo descaso que aconteceu após o governo Barba, é muito triste. Em todas as áreas houve um desmonte completo das políticas públicas, que eram eficientes e nos levaram a estar entre as 20 melhores cidades do país para se viver e trabalhar.
Depois, despencamos. Nós estamos completamente fora de qualquer ranking, porque a cidade já não apresenta, apesar das universidades, da Embrapa, que ainda são atrativos, mas a cidade perdeu em políticas públicas vitoriosas e reconhecidas nacional e internacionalmente.
Nós ganhamos no nosso governo um prêmio do banco mundial de políticas públicas na área de segurança pública, quando o município se enveredou por essa área para ajudar a diminuir a problema da violência na cidade de São Carlos e teve resultados muito interessantes.
A conjuntura política pode mudar, mas, se as coisas caminharem na direção do Brasil voltar à normalidade democrática, o respeito à Constituição. Se os eleitores toparem votar no Lula para que o Brasil volte a ter um desenvolvimento sustentável, com inclusão social, eu me entusiasmarei certamente para colocar meu nome à disposição do PT e da federação partidária que estará definida também no plano municipal a partir do dia 31 de maio deste ano.
5 – Recentemente, o senhor se manifestou favoravelmente ao nome do ex-tucano Geraldo Alckmin como vice em uma chapa com Lula, mas compartilhando uma matéria sobre um documento elaborado na Fundação Perseu Abramo em que são feitas críticas aos governos de Geraldo Alckmin. Na opinião do senhor, o Alckmin na chapa com Lula seria um mal necessário para vencer Bolsonaro?
R: Foi um documento organizado no âmbito da Fundação Perseu Abramo, que é uma formação de estudo. O PT ainda não fez o programa de governo e o Haddad vai escolher sua equipe para fazer. Aquilo serviu como uma análise crítica ao PSDB. Como a gente diz no documento, não poderíamos ser hipócritas, fomos oposição o tempo todo, assistimos a um processo de deterioração da vida dos paulistas, da economia brasileira. O IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], que é o índice que mede a qualidade da educação do Estado de São Paulo, que é o mais rico da união, embora tenha perdido espaço também do ponto de vista de desenvolvimento econômico, ele deveria ser um dos mais altos pela nossa tradição histórica da escola pública no Estado de São Paulo, que foi pouco a pouco desmontada. E nós temos um dos piores IDEBs, não por culpa dos professores, nem dos técnicos, esse é um exemplo concreto.
Nós temos uma análise crítica da privatização, de levar a saúde para as organizações sociais. Temos uma análise crítica em vários aspectos das gestões do PSDB que, no nosso entendimento, precisam ser modificados para que São Paulo volte a se desenvolver e o faça com inclusão social, centrado também nesse tema que se agravou no Estado de São Paulo com a exclusão.
Portanto, esse documento preparado, e eu participei da elaboração, é um documento de subsídio. Isso é uma coisa. A outra coisa é que nós somos democratas. Nós não queremos e não aceitamos o que está acontecendo no país e não podemos imaginar o que aconteceria no Brasil se o Bolsonaro fosse reeleito, porque aí seria destruir de vez. O caos que tomou conta do país com essa destruição da nossa economia, dos programas sociais, do meio ambiente. O ataque aos índios, às mulheres, tudo isso que está acontecendo, a violência.
Um governo que louva as armas e combate os livros não pode dar certo. Ainda mais em uma situação em que o mundo precisa do conhecimento. Nós temos um presidente da república e um governo que nega o conhecimento, se confronta com o conhecimento. Então, é um desastre tão grande, que é inconcebível.
Nós, democratas, precisamos pensar que esse neoliberalismo que está aqui hoje, essas ações de culto à violência, do estado arbitrário, autoritário, desrespeito à educação, à Constituição, precisa acabar. E para acabar nós precisamos unir forças, porque há um conjunto de pessoas que pensam igual o Bolsonaro.
E é preciso lembrar que eles usam táticas absolutamente ilegais, imorais, para ganhar a eleição, como aconteceu quatro anos atrás com a política das fake news, que acabou lamentavelmente dando certo. A milícia eletrônica, a milícia digital, confundiu a população e a gente está vivendo o caos na sociedade brasileira. Então, reunir forças significa fazer pactuações eleitorais não programáticas, mas com pessoas que são respeitadas e que defendem a democracia.
Eu fui candidato a vice-governador de São Paulo em 1998 com a Marta Suplicy. Tinha a chapa do Maluf, que era de direita, uma chapa de centro-esquerda, que era do Mário Covas com o Alckmin de vice, e eu era vice da Marta na chapa mais à esquerda. Nós, por pouco, não fomos para o segundo turno, ficamos a 0,04% para disputar com o Maluf. Mas ato contínuo à divulgação do resultado de que era o Covas que iria enfrentar o Maluf, nós do PT apoiamos a chapa Mário Covas-Geraldo Alckmin. Eu mesmo, como candidato a vice, liguei para o Geraldo Alckmin, enquanto a Marta ligou para o Mário Covas.
Ou seja, naquele momento, nós do PT já votamos no Geraldo Alckmin. Votamos no Geraldo Alckmin uma primeira vez. E agora, com essa construção democrática, para evitar que o Brasil entre definitivamente num trilho da ultradireita, no trilho dos valores infelizmente cultuados de sociedades fascistas, nazistas, que se demonstram no dia a dia. Para fazer esse enfrentamento, é preciso fortalecer a democracia, fortalecer quem defende a democracia, e o Geraldo Alckmin sempre o fez.
Quando ele foi governador e eu prefeito, a nossa relação foi muito positiva. Ele nos ajudou. Portanto, eu, particularmente, tenho ótimas referências em relação ao comportamento dele. Apesar das divergências programáticas que nós temos, tínhamos e continuamos tendo.
6 – Como o senhor enxerga a candidatura do Fernando Haddad ao Governo de SP. Ele lidera as pesquisas atualmente, mas disputa espaço no campo progressista com o Márcio França, que aparece na segunda colocação. Não tem como ter uma conversa entre esses nomes e chegar em um projeto comum para conseguir interromper esse ciclo do PSDB no Governo de SP? E até mesmo para não dar chance para o candidato do Bolsonaro, Tarcísio de Freitas?
R: Vem acontecendo conversas sistemáticas que envolvem o PSB no Estado de São Paulo, o PSB nacional. É o sonho de todos nós que o PSB viesse compor a federação partidária junto com o PT, PC do B e PV. Mas, até esse momento, isso não está definido, não tivemos esse aceno do PSB.
O que tivemos, e é importante, é que o PSB vai apoiar o Lula, se não for dentro da federação, em uma coligação com a nossa federação.
No Estado de São Paulo, são dois candidatos muito fortes, as pesquisas mostram nos primeiros lugares entre o França e o Haddad. Eu fico torcendo para que seja o Haddad, por tudo o que ele fez pela educação, pela votação extraordinária que teve há quatro anos atrás. Ele é altamente preparado, conhece São Paulo, está andando São Paulo para poder trazer uma nova perspectiva de desenvolvimento, inclusive com respeito ao meio ambiente.
Uma forma diferente de governar do que o PSDB. E, para que isso aconteça, seria tão bom se houvesse esse entendimento que os partidos estão discutindo para que a gente componha. Se o PSB não estiver na federação partidária, possa fazer também uma coligação e apoiar o Fernando Haddad.
Todo mundo sabe, há uma expectativa da nossa parte do PT, que é legítima, como é legítima também por parte do PSB também querer disputar com o França no primeiro turno. Mas no segundo turno certamente estaremos unidos contra qualquer candidato Bolsonarista, isso é certo.
7 – Qual a sua avaliação sobre esse começo de segundo mandato do prefeito Airton Garcia?
R: O seu governo é um governo de desmonte das políticas públicas, de continuidade do desmonte que aconteceu após o governo de Oswaldo Barba. É evidente, a gente vê, quer seja do ponto de vista urbano, quer seja nas políticas sociais, quer seja no cuidado com as pessoas, que seja no desenvolvimento econômico, a cidade vem decaindo ano após ano. E o atual governo, ao não escolher uma equipe qualificada nas diferentes pastas para fazer o enfrentamento das políticas públicas em momentos tão duros, dramáticos, como esses que o Brasil vive, sofre e tem dificuldades importantes de atender aos interesses da população.
8 – Por que o problema das enchentes ainda não foi resolvido por nenhum prefeito em São Carlos até o momento?
R: Porque a cegueira política que tomou conta, particularmente, do governo que sucedeu Oswaldo Barba, impediu que esse problema pudesse ser resolvido. Nós tínhamos projetos para acabar com todo esse drama na cidade e atuamos nessa direção. Mas, mesmo com o apoio do governo Lula e da presidenta Dilma com as obras do PAC, que não foram poucas, a cidade reconhece isso, nós conseguimos mitigar o problema, não resolvê-lo.
Nós sabíamos que era fundamental fazer as obras da Praça Itália, era fundamental fazer as obras do piscinão do CDHU. Era fundamental um conjunto de obras complementares a todo o investimento que nós já tínhamos feito para poder resolver esse grave problema.
Infelizmente, quem sucedeu Oswaldo Barba tinha o dinheiro em caixa, que eu consegui como deputado federal, que o Barba conseguiu como prefeito, para a gente fazer a Praça Itália. Iria começar pela Praça Itália, porque ali você resolveria dois problemas com a duplicação do viaduto: o do trânsito, que é terrível na ligação entre a Vila Prado e o centro da cidade, e também resolveria o problema das enchentes.
O projeto, com dinheiro em caixa, foi devolvido, porque era um projeto do PT e ele não queria dar crédito para projetos dos seus adversários políticos.
Tanto que quero manifestar mais uma vez, já o fiz publicamente, as minhas congratulações ao prefeito Airton Garcia, porque ele, percebendo que o dinheiro estava lá, foi lutar em Brasília para que o dinheiro e o projeto que nós havíamos elaborado fosse implementado. E as obras começaram agora.
Veja nesse período todo quanto prejuízo a não realização da obra na Praça Itália trouxe aos comerciantes, à população. Quantas pessoas perderam carro, bens, lojas invadidas pela água, porque a obra ficou atrasada. O prefeito que ganhou por uma margem muito pequena de votos do Oswaldo Barba, a população quis experimentar uma coisa nova e se arrependeu. Certamente, você não encontra um são-carlense que tenha aprovado o governo do PSDB.
9 – No momento, também temos muitos reclamações e problemas relacionados com a educação municipal. Diversas escolas com estruturas precárias, quando chove alaga as salas de aula, tem escola com infestação de escorpião. Mesmo com essas escolas ficando fechadas por quase dois anos na cidade. Newton, é tão difícil deixar as escolas em ordem ou falta competência do governo e da atual secretária Wanda Hoffman?
R: Não quero falar sobre a secretária, mas a política de governo na área educacional é lamentável, os fatos demonstram claramente isso. Na sua própria pergunta, você arrolou um conjunto enorme de questões que mostram que a cidade deixou de ser uma cidade educadora como foi no passado. Nós tivemos vários prêmios e reconhecimento, as crianças eram tratadas da melhor possível, desde a creche até os graus da educação básica que nós respondemos.
Nós tivemos um avanço extraordinário na criação de escolas, creches, em toda a cidade. Acabamos com a fila, aumentamos o salário dos professores, fizemos uma carreira para os professores da nossa cidade. Ganhamos várias vezes o prêmio da Abrinq, que é dado aos melhores prefeitos que têm atuação reconhecida na área (…).
Era um outro mundo, não era nada disso que a gente vê hoje, esse absoluto abandono das escolas.
E o fato principal que responde a sua pergunta é a manifestação que os professores e os técnicos fizeram na porta da Secretaria, que responde o estado de desespero em que os educadores da cidade estão sentindo pela negligência, pelo descaso em levar política pública da educação infantil e fundamental com o rigor e a importância que nossa população merece.
10 – Quando o senhor era prefeito, São Carlos recebeu o Hospital Universitário do governo federal. Mas o que nós vemos é que ele nunca atingiu seu potencial máximo para melhorar a saúde aqui em São Carlos, apesar de ter sido importante durante a pandemia, por que isso acontece na sua opinião?
R: Quando o Barba perdeu a reeleição, o prefeito que o sucedeu simplesmente tomou a decisão de que o hospital não iria mais para frente. Ele não iria mais contribuir e queria transformar o Hospital Universitário em um AME, que é um equipamento de saúde do Governo do Estado só para especialista.
Um prédio daquele tamanho, com grau de desenvolvimento, um projeto pronto para ser um hospital primário, secundário e terciário para a região como um todo. Desafogar a Santa Casa, formar os médicos profissionais de saúde da UFSCar. Um projeto lindo, maravilhoso, ele colocou o pé no freio. Como colocou o pé no freio em todos os projetos que nós em 12 anos estávamos fazendo. Portanto, foi uma decisão política do PSDB, ao assumir a prefeitura, de parar o hospital (…).
O hospital parou por causa disso. Inclusive, demorou para retomar. Foi o ex-governador Geraldo Alckmin que convenceu o prefeito do PSDB daqui de que esse projeto teria que continuar na mão do governo federal. A partir disso, no fim do governo PSDB, se conseguiu retomar o que o prefeito Oswaldo Barba já havia conseguido fazer alguns avanços, mas foram poucos. Um hospital daquele porte transformar em ambulatório é uma miopia política muito grande que o PSDB fez aqui na nossa cidade. Atrapalhou demais o desenvolvimento de São Carlos e a vida das pessoas.