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SaúdeSão Carlos registra em 2022 o maior número de suicídios em 4 anos: “é sobre desespero e não covardia”

São Carlos registra em 2022 o maior número de suicídios em 4 anos: “é sobre desespero e não covardia”

Os dados, informados pela Delegacia Seccional de São Carlos, apontam que a cidade notificou 25 casos no ano passado. Somente até fevereiro de 2023, o município já contabiliza cinco casos

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São Carlos registra aumento de casos de suicídio em 2022. (Foto: Freepik)
São Carlos registra aumento de casos de suicídio em 2022. (Foto: Freepik)

Muita gente sabe que, quando o papo é saúde, ele não se limita somente à questão física, já que também engloba uma série de fatores emocionais e mentais. Com isso, a expressão saúde mental tem ganhado força e ocupado os holofotes dos debates públicos nos últimos anos, principalmente nas redes sociais e na mídia tradicional de difusão de conteúdos.

Mas, mesmo com tanta repercussão, será que a saúde mental tem, efetivamente, recebido a devida atenção? Ou será que a modernidade ainda se encontra muito longe de alcançar o equilíbrio necessário entre a mente e o corpo?

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É claro que o debate sobre saúde mental é extenso e complexo, mas alguns dados ajudam a colocar a sociedade em alerta para o tema, principalmente quando os fatores que adoecem a mente humana fazem com que o psicológico atinja uma exaustão extrema e implacável, sem que haja tempo, muitas vezes, para gritar por socorro. Quando a vida deixa de ser uma opção, o problema, antes individual, se torna de toda a sociedade: o que se tem feito para prevenir o suicídio?

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Um balanço solicitado pelo portal acidade on à Delegacia Seccional de São Carlos apontou que a cidade registrou 25 casos de suicídio em 2022. O número foi o maior dos últimos quatro anos. Até fevereiro de 2023, a cidade já contabiliza cinco casos de suicídio.

Os dados mostram que, desde 2019, o menor número de registros foi observado em 2020, quando houve 14 ocorrências. Os casos registrados em 2022 caracterizam um aumento de 78,5% em relação a 2020.

Os casos de suicídio em São Carlos por ano se encontram listados a seguir:
 

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  • 2019: 18 suicídios
  • 2020: 14 suicídios
  • 2021: 20 suicídios
  • 2022: 25 suicídios
  • Até fevereiro de 2023: 5 suicídios

Além dos suicídios consumados, o balanço também aponta os suicídios tentados. Se o ano de 2020 foi o que registrou o menor número de suicídios consumados, por outro lado, foi o que notificou o maior número de tentativas de suicídio. Foram 11 casos, no total.

Em 2022, foram apenas dois casos de suicídio tentado. Ao longo dos quatro anos do balanço informado pela Seccional, São Carlos registrou 29 tentativas de suicídio.

Em entrevista ao acidade on, a psicóloga Clariana Cardin aponta alguns fatores que podem ter contribuído para o aumento de casos de suicidio na cidade, como a depressão e a ansiedade.

“O enfraquecimento das relações sociais prejudica a noção de pertencimento do sujeito à cultura e à comunidade nas quais está inserido, fomenta estresse e sentimento de solidão – o que o fragiliza emocionalmente – podendo comprometer sua saúde mental. A incidência de doenças mentais já vinha aumentando desde antes da pandemia de Covid-19. Todavia, após esse período, pudemos observar uma elevação ainda mais acentuada de determinados transtornos (como depressão e transtornos ansiosos), que são fatores de risco para o suicídio”, explicou a psicóloga.

De acordo com dados do Observatório Global da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio consumado pode acometer de 2 até 10 vezes mais homens do que mulheres, embora o público feminino esteja 30% mais propenso a desenvolver depressão do que o masculino, o que as levam a tentar o suicidio com maior frequência do que os homens.

Embora a depressão e a ansiedade sejam doenças apontadas como fatores de atenção para o suicídio, a psicóloga explica que a dinâmica do cotidiano e a forma como a sociedade trata os problemas da saúde mental também influenciam no aumento de casos. Isso porque, a expressão da exaustão psicológica ainda é estigmatizada e vista de forma preconceituosa, como fraqueza, frescura ou drama e não como um problema grave que pode resultar na morte de uma pessoa que foi capaz de atentar contra a própria vida por ter chegado ao limite de seu sofrimento.
 

“É correto pensarmos que a maneira como nossa sociedade se organiza atualmente é um dos componentes que favorecem o aumento de casos de suicídio em nossa comunidade. Ainda há um estigma relacionado a doenças mentais que gera preconceito, desamparo e discriminação. Esse comportamento desencoraja pessoas a buscarem por ajuda, ainda que muitas delas deem sinais claros de que estão em desespero. Porque, o suicídio é sobre desespero, não sobre coragem ou covardia”, explicou.

Cardin também desmistifica a ideia de que quem se encontra em sofrimento psíquico e cogita a possibilidade de tirar a própria vida não irá comentar sobre esse pensamento suicida com pessoas próximas e, de fato, cometer o ato. Segundo a psicóloga, a sociedade ainda encara o suicídio como “quem muito fala não faz”.
 

“O senso comum segue reproduzindo a falácia de que, se a pessoa menciona uma ideação suicida, ela não a executará, o tal do “quem fala não faz”. Esse pensamento é equivocado. Quem fala faz, sim. Geralmente, inclusive, pessoas que tentam ou efetivamente cometem suicídio fizeram alguma menção a respeito anteriormente. Precisamos com urgência legitimar, acolher e cuidar do sofrimento psíquico com a mesma capacidade que temos para legitimar o sofrimento expressado pela dimensão física”, afirmou.

Um grito de socorro: como ajudar?

A psicóloga explica que pessoas que estão em grave sofrimento psicológico a ponto de cogitarem um suicídio podem expressar sinais deste comportamento, para o qual a sociedade deve dar a devida atenção, a fim de tentar ajudar e evitar que as pessoas cometam o ato.
 

“Existem comportamentos que costumam se repetir antes que uma pessoa tente suicídio. Distanciamento de amigos, familiares e atividades que costumavam ser do interesse da pessoa, menção sobre o desejo de não estar vivo, que geralmente aparecem em frases como “sou um peso na vida das pessoas” ou “as pessoas seriam mais felizes se eu não existisse”. Ação de despedir-se de familiares e amigos escrevendo cartas, por exemplo, ou de doar objetos pessoais também são indícios que merecem atenção”, pontuou.

Assim, ao perceber tais sinais em uma pessoa do ciclo de convivência, a comunidade pode assumir uma posição de suporte, oferecendo um ombro amigo para conversar, orientando a pessoa a buscar ajuda profissional ou alertando alguém mais próximo dessa pessoa sobre tais comportamentos, para que haja intervenção de familiares e amigos. 

“Se notamos que há alguém ao nosso redor apresentando esses sinais, é pertinente perguntarmos diretamente para a pessoa se ela está submetida a um sofrimento extremo. Uma conversa cuidadosa pode salvar alguém que esteja planejando suicidar-se. Se a pessoa estiver, de fato, com ideação suicida, a assistência profissional deverá ser buscada. O suicídio, apesar de aparentar uma saída para o desespero, não é uma solução para o intenso e real sofrimento que aquela pessoa experencia. Profissionais da saúde mental têm capacitação para ajudá-la”, orientou Cardin.

Segundo a profissional, empresas, universidades e instituições, sejam públicas ou privadas, têm total responsabilidade para reforçar a importância de se falar sobre saúde mental e como combater doenças que acometem o psíquico, como a depressão e a ansiedade. A abordagem do tema pode ser feita por meio de palestras, oficinas e disponibilização de profissionais da saúde mental para garantir acesso às informações sobre o assunto e aos tratamentos. 

Porém, embora o debate coletivo sobre o tema seja essencial, também é necessário que a população tenha acesso a acompanhamentos individuais e especializados para o debate das demandas específicas e individuais de cada cidadão.
 

“Em grupo, é muito improvável que um indivíduo que esteja submetido a um intenso sofrimento se abra. Conversas individuais favorecerão esse cuidado e a possibilidade de pedido de ajuda. É importante, também, que se crie um sistema para que pessoas possam pedir ajuda de forma anônima. A oferta de formulário anônimo e número de telefone para suporte psicológico, como o CVV, abrirá caminhos para que pessoas que estejam necessitando de cuidado possam, efetivamente, expressar o pedido de socorro que tanto demandam”, finalizou a psicóloga.

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