A paralisação da vacinação contra a Covid-19 com a vacina de Oxford/AstraZeneca/Fiocruz em grávidas é “procedimento padrão” em casos suspeitos de efeitos adversos de imunizante, segundo o diretor da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rodrigo Stabeli.
Na segunda-feira (10), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária suspendeu a vacinação de gestantes com o imunizante, gerando preocupação inclusive em quem já tomou pelo menos a primeira dose. Um caso de óbito de gestante que desenvolveu trombose chamou a atenção das autoridades sanitárias que decidiram investigar a fundo as causas da morte.
“Houve um evento trombótico, não se sabe se pela vacina ou ele veio de condições de comorbidades que essa gestante já possuía”, explica o médico professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Stabeli explica que a vacinação contra a Covid-19 foi autorizada emergencialmente devido à gravidade da pandemia que matou mais de 420 mil pessoas no Brasil. As conhecidas fases de desenvolvimento vacinal, enumeradas de 1 a 3, inclui ainda a quarta etapa, a atual, na qual eventos adversos são reportados às autoridades e podem ser alvos de investigação.
“A fase quatro é quando olhamos os eventos em milhares de pessoas e é o que acontece com todas as vacinas que foram liberadas para Covid. Tivemos seis casos de trombose que aconteceu com a AstraZeneca em um universo de 14 milhões de doses aplicadas na Comunidade Europeia”, relata.
O médico comparou a probabilidade de desenvolvimento de trombose em quem toma imunizante da AstraZeneca com pessoas que fazem uso de azitromicina e ivermectiva, fármacos que fazem parte do receituário do “kit Covid”.
“Infelizmente estamos com relato no Brasil e é um procedimento padrão interromper a vacinação para investigar o caso. Se tiver relação com a vacinação, vamos trabalhar em novo protocolo. É normal, não quer dizer que a vacina seja insegura”, comenta.
Para as grávidas que já receberam o imunizante suspenso, a indicação do diretor da Fiocruz é atenção a sintomas como dor de cabeça, náusea, vômito ou algo que esteja fora do que sentia no cotidiano. “Estamos falando de evento absolutamente raro, claro que gera preocupação, não somente nas gestantes, mas nas pessoas que foram vacinadas”.
Os estudos da vacina AstraZeneca/Fiocruz excluíram os testes em gestantes e puérperas, algo comum na testagem de novos produtos farmacêuticos. Segundo Stabile podem ter ocorrido casos de voluntárias que ficaram grávidas no decorrer do levantamento. Porém, não houve teste focado neste grupo e por isso não há indicação em bula para uso em gestante.
Há alguns meses, a decisão da Anvisa em liberar a vacinação em gestantes e puérperas atendeu a entendimento de que era mais arriscado para uma grávida sofrer com sintomas graves de Covid-19 do que ter eventos adversos da vacina. É uma comparação entre riscos das duas situações e a balança fora favorável ao imunizante na época.
Para investigar o caso, um comitê de especialistas da Fiocruz, Ministério da Saúde, Anvisa, do próprio laboratório desenvolvedor vai investigar os aspectos clínicos da paciente. “E tentar entender se o evento aconteceu ligado à vacinação ou do histórico clínico, já que era uma gestante com comorbidade”.