Na estrada desde o início dos anos 1970, Alceu Valença, de 76 anos, foi o homenageado do prêmio da UBC (União Brasileira de Compositores) que ocorreu na noite da terça, dia 8, no Rio de Janeiro. Mas Alceu está em São Paulo para lançar hoje, 11, no Espaço Unimed, o projeto Valencias II, ao lado da Orquestra Ouro Preto, regida pelo maestro Rodrigo Toffolo.
Gravado em Portugal, na Casa da Música, no Porto, o álbum foi lançado recentemente em CD e DVD, 12 anos após seu primeiro volume.
Valencias II tem em seu repertório músicas como Tomara, Borboleta, Táxi Lunar, Na Primeira Manhã e Solidão. Parte de uma obra que, de acordo com a UBC, já soma 311 composições registradas – feitas, segundo Alceu, sempre em surtos criativos e com alta dose de rebeldia.
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Em conversa com o Estadão, Alceu lembrou o difícil começo de carreira e falou sobre sua música, que classifica como universal: “Ela é brasileira (não apenas nordestina), da mesma maneira como a feita por Zeca Pagodinho, Caetano Veloso ou Chico Buarque”.
Você é o homenageado do ano pela UBC. Partindo do ofício de compositor, você faz parte de uma geração que também atua como cantores e músicos. Como foi buscar seu espaço?
Difícil. Eu me lembro que conheci Geraldo Azevedo, que é de Pernambuco, no Rio. Começamos a tentar aparecer e o pessoal do Rio dizia que a gente deveria ir para São Paulo. O de São Paulo dizia que a gente devia voltar pro Rio. Até que um dia um produtor convenceu a diretoria da gravadora a gravar um disco nosso (Quadrafônico – Alceu Valença & Geraldo Azevedo, de 1972). Gravamos, e não aconteceu nada! Participamos do Festival Internacional da Canção e, de novo, não deu em nada. Depois, um integrante da TV Globo falou com o João Araújo (da Som Livre à época) e eu fiz meu primeiro disco, o Molhado de Suor (1974). Nada, mais uma vez. Em seguida, participei do Festival Abertura com Vou Danado Pra Catende, e criaram um “prêmio pesquisa”. Minha figura ficou marcada. Minhas canções, de fato, eram complicadas de colocar nas rádios.
O sucesso chegou com ‘Coração Bobo’, em 1980. Foi você que encontrou o público ou o público que entendeu seu trabalho?
Nunca ninguém me disse o que tenho de fazer. Nem meus professores, nunca gostei de imposição. O artista não pode perder sua rebeldia infantil. Ouço os produtores – um deles, genial, é Guto Graça Mello, com quem fiz dois discos. Mas sempre faço do meu jeito.
Você nunca se afastou muito da música nordestina?
Crio o que está no HD da minha memória, sobretudo a infantil. Minha memória está no canto dos vaqueiros da caatinga, na feira de São Bento onde tem o sanfoneiro de oito baixos, o violeiro fazendo desafio, a literatura de cordel. Como é a música nordestina? Não sei. Quando você toca uma música de Tom Jobim, ela é universal. Coração Bobo, então, também é universal. Minha música é brasileira, assim como a feita por Zeca Pagodinho, Caetano ou Chico Buarque.
Já tem novos projetos?
Estou compondo algumas músicas. Em casa, na rua, na estrada. Só coloco a letra na hora que eu quero, são surtos criativos. Sou compositor só na hora de fazer a música. Só me sinto cantor quando estou no palco. Gosto de andar na rua, mas agora tem esse negócio de selfie. Só não consigo entender que sou famoso.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.