16 de maio de 2024
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O que te assombra

Edifício Joelma: conheça teorias assombrosas sobre a tragédia

Ao menos 187 pessoas morreram no pior incêndio em edificações da história da capital paulista; maldições e assombrações marcam imaginário popular

 

 

Sexta-feira, 01 de fevereiro de 1974 08h45

Enquanto o centro de São Paulo decola, o dia que antecede o final de semana, um curto-circuito no 12ª andar do mais arrojado Edifício da Capital Paulista decide o destino de centenas de pessoas. A abundante quantidade de material inflamável nas disposições dos andares faz com que algumas faíscas, em poucos instantes, se transformassem em um frenesi ensandecido de labaredas. Tudo começa a queimar, sem resiliência ou protocolo de enfrentamento. 

Na tragédia assistida “ao vivo” por todo o Brasil, 187 pessoas perderam a vida e mais de trezentas sofreram ferimentos. Mas a ausência de método de contagem e/ou de conferência, faz com que este número seja estimado, não preciso. 

As feridas de um dos maiores incêndios em Edifícios do mundo não se restringem a dimensões sociais e urbanísticas. A icônica construção nas adjacências do Vale do Anhangabaú foi rebatizada, mas não perde o status de altar de teorias insólitas. 

OS SIGNOS DAS MALDIÇÕES 

É muito fácil encontrar teorias de que o incêndio do antigo Joelma é o desdobramento da maldição que tem início em um suposto pelourinho onde escravizados eram torturados e mortos, passando pelo famigerado crime cometido por um professor de química, batizado popularmente de “O crime do Poço.” 

Não há, contudo, registro de pelourinho no terreno do antigo Joelma. O pelourinho da região central de São Paulo ficava no Largo Sete de Setembro, na Sé. Ainda assim, por que se acredita que almas de negras e negros escravizados não conseguiriam sublimar seus martírios, ficando na terra amaldiçoando ambientes? 

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É muito evidente que esta ideia é completamente contaminada pelo racismo colonial, estrutural e, infelizmente, ainda endêmico no senso comum. Se há um lugar amaldiçoado nessa história toda é o local de vida e/ou morte de quem causou tanta dor, exploração e sofrimento. Ou seja, de quem escravizou, torturou e matou. 

Não há desonra ou maldição em locais onde o povo preto pereceu, tampouco em cemitérios indígenas, também sempre lembrados em narrativas importadas dos “States”, que, sempre que podem, estigmatizam as almas de seus povos originários. Estão aí os filmes Polteirgeist e Pet Cemetery, que não me deixam mentir, na medida em que demonizam cemitérios indígenas. Então é papo furado este argumento que a maldição do Joelma tem como origem as ações das almas de escravizados. 

Também não é correto dizer que a origem da desgraça, pelo menos em dimensões espirituais, segue o curso do crime do poço, um triplo homicídio ocorrido na Rua Santo Antonio, em 1948. A casa da família massacrada ficava perto do Edifício incendiado, mas não no terreno em que foi construído, como se ouve por aí. 

O crime do poço foi executado por um químico que saboreava uma paixão rejeitada pela família, pois sua amada já havia tido outros relacionamentos afetivos, algo inaceitável para sua mãe e irmãs. O assassino cavou um poço no quintal da residência casa que vivia com suas familiares e, depois de aniquila-las, jogou-as no poço e o tampou.

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A polícia foi notificada do desaparecimento dos familiares do químico, fez uma incursão pela casa e encontrou os restos mortais das mulheres no poço. Ao ser descoberto, o homem se suicidou, enquanto a casa era tomada de agentes da lei. Mas não é só… O bombeiro que se aventurou a retirar os corpos do poço, morreu dias depois, contaminado com uma bactéria necrófila.  

A GRANDE RAZÃO DO INCENDIO 

Olha, ninguém gosta mais de histórias sobrenaturais do que eu, mas preciso dizer que a única razão do Joelma ter sido a tragédia que foi é o fato de que o prédio foi construído sem qualquer proteção ou aparelhamento para enfrentamento de incêndio. E não foi por falta avisos. 

Em 1972, um ano após a inauguração do Joelma, ocorreu outra emblemática tragédia em São Paulo: o incêndio do Edifício Andraus, que tirou a vida de 16 pessoas e feriu algumas centenas. A desgraça só não foi maior no Edifício situado na República porque existia um heliponto, que serviu muito bem para resgatar os ocupantes da edificação. 

Antes de irmos “além” é necessário dizer que a comoção gerada pelo imenso número de vitimados fez com que autoridades criassem, definitivamente protocolos de segurança e enfrentamento de incêndios, os quais resguardam frequentadores de edifícios, até hoje. 

 Em breve novas histórias do Edifício Joelma! Aguardem a segunda parte.  

 

Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas Cidades de Campinas e Piracicaba. 

Rafaela Viveiros
Formada em Jornalismo pela Universidade Paulista (Unip). Jornalista do Grupo EP, repórter do Tudo EP, está no portal desde 2021 e possui experiências com produção de matérias para os portais, edição de vídeos, imagens e criação de conteúdo para as redes sociais.
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