O contador de passos do celular de Daniel Moreira deve ter batido recordes durante os cinco dias de São Carlos Experience (SCX).
Nas redes sociais, houve até quem tirasse onda. “Esse homem não dorme” era um dos comentários no vídeo em que ele falava do último dia de atividades do SCX.
Daniel Moreira é fundador da DTrip, empresa de produção de eventos criada em 2011 e que ficou responsável pela organização do festival.
No penúltimo dia de programação, em uma conversa que tivemos no caminho entre a antiga Estação Ferroviária e Onovolab espaços usados para o SCX , ele demonstrava orgulho com a entrega do evento. E fazia questão de dizer que aquilo era parte da essência de alguém que “nasceu dentro da Embrapa”, referindo-se à trajetória e influência do pai, Danilo de Paula Moreira, que trabalhou na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.
Moreira, evidentemente, faz questão de dividir os méritos com toda a equipe envolvida na produção. “Eu sozinho não faria nada”, diz, ao compartilhar as honras com o sócio Luan Gerolamo e todo o time da DTrip, além de Thiago Christof, da IAM, que teria sido um “provocador” a tirar tudo do papel.
Com a divisão de responsabilidades feita, não é um equívoco dizer que ele é uma das grandes mentes por trás da realização do SCX.
Até porque o processo de construção da ideia começou quando decidiu abrir uma folha em branco no computador, em 2020. Uma folha em branco e um sonho: ali se iniciava a estruturação de um projeto ambicioso.
Inspiração e motivação
A partir do documento vazio, o produtor de eventos começou a “beber” inspiração em festivais grandes, como Hack Town, WebSummit e Rio Innovation Week.
Uma outra motivação foi um debate competitivo (e saudável) com Silvio Meira, reconhecido nacionalmente pela contribuição na ciência, tecnologia, empreendedorismo e inovação.
Moreira estava nos bastidores de um evento digital com alguns palestrantes, durante a pandemia, entre eles Meira. Houve um problema técnico e, no intervalo para resolvê-lo, contou que São Carlos era a “Capital da Tecnologia”. O apelido foi tratado com desconfiança pelo especialista, o que intensificou o sonho de Moreira: tornar o SCX realidade.
“Fui falando dos números de São Carlos para o Silvio Meira porque acredito que temos um grande potencial. Mas com a desconexão entre as pontas (espaços acadêmicos e mercado), a gente poderia não fazer jus a esse título. E o evento traz de volta esse título. São Carlos Experience nasce focado em São Carlos em um primeiro momento, mas a gente quer transbordar. Acredita que em um segundo momento vamos transbordar, atrair mais gente de todo o Brasil. Muito em breve, quem sabe, atingir porte de evento que as pessoas não marcam nada para poder vir.”
Suor
Para a primeira edição acontecer, a frase contemporânea e popular “quem vê close, não vê corre” faz bastante sentido. O enorme galpão de Onovolab, usado para painéis e para o Startup Village, por exemplo, precisou até de uma lavagem no teto. O piso também demandou limpeza, já que o espaço não era usado e estava tomado por terra.
“Demandou mais sangue e suor do que se a gente tivesse uma estrutura mais pronta na cidade. Mas não foi um problema porque ajudou a dar uma cara mais nossa. virou um espaço que a gente criou e transformou. Do chão ao teto a gente lavou, concretou, fez muita coisa”, lembra.
Agora que a correria diminuiu um pouco, talvez ele consiga dormir menos preocupado. E com o sonho cumprido, consciente do legado que o SCX deixa.
“É um dos eventos mais marcantes, pela minha relação com a cidade. O SCX tem uma questão que mistura a profissão, produzir e entregar eventos, com propósito, de unir a cidade, as comunidades da cidade, as instituições todas. E vamos entendendo que a gente consegue provocar discussões, o evento é uma forma de potencializar problemáticas que estão aí na sociedade.”
LEIA TAMBÉM
São Carlos Experience cumpre objetivo de alavancar negócios
São Carlos Experience inspira transformação
Confira alguns outros pontos da entrevista com Daniel Moreira:
Quando foi que você teve o primeiro insight, como surgiu a “fagulha” do São Carlos Experience?
Em 2020 nós tivemos uma reunião de planejamento estratégico na empresa. Foi emblemático porque pandemia, empresa de eventos, e ainda assim pivotamos, crescemos na pandemia por conta dos eventos digitais. Criamos até uma outra empresa. Era o ano em que precisávamos pensar no que faríamos para não ficar tão à mercê de clientes. Eu já tinha essa ideia porque era algo lá de trás. Trouxe e começamos a desenhar isso, eu, o Luan, meu sócio, o time inteiro Tudo começou num documento de Google. Aí comecei a pesquisar outros eventos, fui em Hack Town, Web Summit, trabalhei no Rio Innovation Week
Em resumo, num misto pessoa-profissional, quem é o Daniel Moreira?
Eu brinco que sou romântico ainda, acredito que o mundo tem jeito e estou lutando com todas as minhas forças para fazer com que esse jeito aconteça. Enquanto cidadão, tem que batalhar para mudar a realidade. Fico pensando: em 2023, no pós-pandemia, e a gente com duas guerras? Sou super engajado, aqui na empresa inclusive, a gente não faz qualquer evento. Temáticas que não acreditamos, a gente não faz. Precisamos somar para mudanças positivas. Sou um cara que acredita na mudança, na transformação, no social, nas pessoas. Trabalho com o poder de um evento conectar pessoas e transformar vidas. Não saio de casa para trabalhar em vão.
O que o São Carlos Experience mudou na sua vida?
É um dos eventos mais marcantes, pela minha relação com a cidade. Já assinei produções gigantes, eventos com 50 mil pessoas por dia. Fazemos a produção do maior evento para desenvolvedores da América Latina, eventos muito importantes, mundial de startups Mas o SCX foi bem especial.
Qual é o legado que o festival deixa para a cidade?
Transcende o financeiro, o capital. A gente intensifica a necessidade de olhar para o planeta. Foi falado sobre mudanças climáticas, diversidade, painéis com indígenas, várias religiões para discutir no mesmo painel sobre intolerância, paz… Vamos compartilhar amor ou guerra? Estamos falando de Deus e dando tiro um no outro? Esse é um sonho, desde criança convivendo com o ecossistema (de inovação e tecnologia). E entendendo que, com a nossa profissão, podemos impactar positivamente a vida das pessoas, corporações, o planeta como um todo.
LEIA MAIS
Brasileiros ficam fora de lista de estrangeiros que podem deixar Gaza