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CotidianoA trajetória e relevância histórica da Chácara Sapucaia para Araraquara

A trajetória e relevância histórica da Chácara Sapucaia para Araraquara

Trajetórias distintas convergem em um espaço único na cidade
 

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Chácara Sapucaia tem muita história para contar (Foto: Amanda Rocha)
Chácara Sapucaia tem muita história para contar (Foto: Amanda Rocha)

 ARARAQUARA 205 ANOS – Ao longo desta semana, o acidade on irá publicar uma série de reportagens, que destacam pontos históricos de Araraquara e celebram seu aniversário.

No mês de aniversário da Morada do Sol, a reportagem resgata a história da emblemática Chácara Sapucaia, rebatizada de Centro Cultural Professores Waldemar e Heleieth Safiotti.   

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O espaço de 20 mil metros quadrados é indissociável da história de Araraquara, tanto no campo cultural, social e político. 
Contar sobre a Chácara Sapucaia é resgatar a memória de um período e entender os meandros que a fazem tão singular e importante para a cidade.

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A historiadora e secretária da cultura de Araraquara, Teresa Telarolli, é peça fundamental no resgate histórico da Chácara. 

Ela explica que a característica mais marcante do local é a convergência de três trajetos bem diferentes que por ali trilharam: o sujeito histórico e político de Pio Lourenço, o caminho de Mário de Andrade e a vinda do casal Safiotti e futura doação do espaço para a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara.   

A Chácara Sapucaia foi tombada como patrimônio histórico do município em 2014, e a gestão é feita pela Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara (FCLAr).  

 

Chácara Sapucaia (Foto: Amanda Rocha)
Chácara Sapucaia (Foto: Amanda Rocha)

 
O TRAJETO DE PIO LOURENÇO E MÁRIO DE ANDRADE
Político influente, o fazendeiro Pio Lourenço construiu o casarão da chácara no final do século XVI para fugir da febre amarela que assolava Araraquara e proteger a sua esposa Zulmira. Naquele tempo, o casarão era uma grande fazenda e abrangia a escola Victor Lacorte e o Sesc.  

Antes considerado “fora da cidade”, hoje é parte importante do bairro do Carmo. 

“Isso é interessante porque se for ver em linha reta com o marco zero da Matriz dá 4 km de distância”, comenta Teresa. 

A historiadora explica que a vinda de Mário de Andrade, que era sobrinho de Zulmira, para a Sapucaia, se dá devido a uma depressão que o escritor passava devido à perda de um irmão. 
Aos poucos, Mário se recupera e surge uma amizade duradoura com Pio, embora os dois fossem bem diferentes em suas posições políticas. 
 

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“Nascia uma amizade tão forte quanto improvável. O Pio era um homem da terra, tinha erudição, era autodidata em biologia, em linguística, mas também era um sujeito rígido e conservador em todos os aspectos. Era escravagista, uma personalidade introvertida e difícil também”, pontua Telarolli. 

Já o Mário era jovem, vinha de uma família da sociedade paulistana, e estava conectado ao que era mais moderno naquele momento, tanto que tem participação na semana do modernismo. 

Assim, a emblemática obra literária Macunaíma é produzida em partes dentro da chácara Sapucaia, na famosa banheira austríaca. A peça faz parte de uma exposição permanente do local.

 

Chácara Sapucaia Banheira Mário de Andrade (Foto: Amanda Rocha)
Chácara Sapucaia Banheira Mário de Andrade (Foto: Amanda Rocha)

 

“Araraquara virou um refúgio para ele, teve todo esse acolhimento, então duas vezes por ano ele vinha para cá para escrever, pesquisar, inclusive na área de botânica para o Macunaíma, e também pesquisas sobre folclore que ele tinha com o Pio, e isso durou até o fim da vida dos dois”, relembra.  

Com a morte de Pio e esposa, o local vai para os sobrinhos Renato Rocha e seu irmão que começam a lotear a chácara. 

A VINDA DO CASAL SAFIOTTI
Os herdeiros ficam com a Sapucaia até o final dos anos 60, quando chega à Araraquara o casal Waldemar e Heleieth Safiotti com o seu filho. Era uma época de efervescência cultural e começo de ditadura no Brasil. 

“Ali virou um espaço de interlocução e muita efervescência política, porque pega um momento da ditadura e ambos eram de esquerda, marxistas. O local começa a ter uma grande circulação de pessoas, de estudantes, e muita gente tem essa memória”, aponta. 

Nesta época, a Faculdade de Filosofia de Araraquara se torna a Faculdade de Ciências e Letras (FCLAr), e Heleith era professora de sociologia renomada. Já Waldemar era da Química da Unesp, e chegou a ser vereador de Araraquara.  
O casal teve um filho que morreu de forma trágica no local. Sem herdeiros, decidiram doar que a chácara à Unesp após a morte de ambos.   

DOAÇÃO E AMOR À ARARAQUARA
Segundo Teresa Telarolli, o termo de doação da chácara à Unesp tinha uma condição: transformar o espaço em centro cultural e assim foi. Para ela, é um privilégio a cidade ter um espaço desses.

“É um espaço raríssimo, e um privilégio a cidade ter um espaço como a chácara Sapucaia, é um retrato sob o ponto de vista da história local, nacional e de relevância acadêmica. Desconheço outras Unesps que tenham algo assim em mãos. É um campo totalmente aberto para se explorado da melhor maneira possível pela universidade, pelo município, e a cidade tem conhecer e frequentar”, observa. 

Teresa coordenou a Sapucaia de 2011 a 2016  e, araraquarense da gema, resgatou o caráter histórico que o local havia perdido com o tempo. 

 

Teresa Telarolli coordenou a Sapucaia de 2011 a 2016 
Teresa Telarolli coordenou a Sapucaia de 2011 a 2016 

 
Inclusive o acervo da biblioteca “Heleith Safiotti”, com mais de sete mil livros com enfoque no feminismo, sociologia e gênero foram conseguidos por intervenção dela à família. 

Fora a emblemática biblioteca, há exposição permanente sobre Mário de Andrade e a obra Macunaíma, cursinho popular da Unesp e grupo de teatro Alquimia.  Conquistas únicas e especiais para a Morada do Sol.

“Muita gente mora aqui e não conhece a chácara. Temos que levar mais a cidade para dentro da Sapucaia”, conclui. 

VISITAÇÃO
Para visitar a Centro Cultural Professores Waldemar e Heleieth Safiotti – Chácara Sapucaia é preciso agendar pelo telefone (16) 33321505.  Há monitoramento e visita guiada para escolas do município. 

O funcionamento é de segunda à sexta-feira das 8h às 17h .

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