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CotidianoCasais lésbicos de Araraquara lutam por respeito e direitos

Casais lésbicos de Araraquara lutam por respeito e direitos

No dia Nacional da Visibilidade Lésbica ainda existe muito preconceito para derrubar e casais araraquarenses contam suas experiências

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Jenifer, Beni e Sumara formaram uma nova família (Foto: Arquivo Pessoal)

Agosto é o Mês da Visibilidade Lésbica, um marco no calendário LGBTQIA+. No dia 19 de agosto foi celebrado o Dia Nacional do Orgulho Lésbico (19) e neste domingo (29) é Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.   

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Mas por que essas datas precisam ser celebradas? Porque muitas mulheres lésbicas ainda lutam por seus direitos, igualdade e respeito para constituírem família, terem filhos, trabalho ou se casarem.  

Porém, exercer a livre escolha de se relacionar com mulheres e de até continuar viva não é uma tarefa tão fácil no Brasil. 

O Brasil é o País que mais mata LGBTs no mundo, segundo pesquisas do Grupo Gay da Bahia (GGB), um dos principais grupos ativistas com levantamento da população queer brasileira. 

Para se ter uma ideia a cada 23 horas um LGBT é morto no País. Segundo uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), o lesbocídio ou seja, a morte de mulheres por serem lésbicas – aumentou 237% entre 2015 e 2019 no Brasil. 

PRECONCEITO, LUTA E AMOR
A luta histórica por direitos das mulheres lésbicas no Brasil começou com um protesto do Grupo Ação Lésbica-Feminista (GALF) em frente a o Ferro´s Bar, em São Paulo, no dia 19 de agosto de 1983. 

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Por serem lésbicas, o grupo de mulheres foi expulso pelo dono do bar. Ali acontecia a primeira manifestação LGBT nacional da história, e que marca o mês de agosto até hoje.  

Porém, somente em junho de 2019 a LGBTfobia foi caracterizada como crime, com pena de um a três ano, fora a aplicação da multa.  
 
VIVENDO NA PELE 
Em Araraquara, o casal Sumara Justi e Jenifer Cristina Zamian Justi vivenciou a lesbofobia quando foram tentar alugar uma casa. Elas estão juntas há quase dois anos e se casaram no começo de 2021. Ao saber que eram casadas, o dono vetou na hora o aluguel. 

“Fomos pela imobiliária, mas o dono foi abrir a casa para gente, e quando a Jenifer me apresentou com o esposa , automaticamente fomos vetadas. A gente queria muito aquela casa. Depois também fomos descobrir através da imobiliária que o proprietário era LGBTfóbico”, lamenta Sumara. 

E as experiências de lesbofobia não param por aí. A professora Fernanda Sabadini, 25 anos, lembra de uma consulta médica onde o ginecologista que não quis examiná-la após saber sua orientação sexual.  

“A partir do momento que soube que era lésbica ele se negou a me examinar e disse que não era necessário. Enfim, quando você conversa com várias mulheres lésbicas percebe que é um padrão, que embora tenhamos um direito a saúde, esse ambiente pode ser violento para mulheres lésbicas”, expõe.  

BARREIRAS FAMILIARES

Quando a gerente de operações Jenifer Justi se descobriu lésbica, ela já tinha um filho de um relacionamento com um homem e nunca havia se relacionado com mulher. 

Era algo que ela nunca havia imaginado e foi tudo repentino. Após conhecer a cantora Sumara, ela não teve dúvidas do que queria para a sua vida.  “Me descobrir lésbica foi algo que nunca imaginava, tenho um filho com um homem e me relacionei com homem por muito tempo. Sempre pensei em constituir uma família, e estando somente com meu filho percebi que família pode ser uma pessoa com um cachorro, duas mães com um filho, dois pais com filho, dois pais com cachorro, enfim”, comenta. 

Mas nem tudo foi tranquilo no processo de aceitação com a família e amigos. Alguns se afastaram e outros elas cortaram do convívio familiar.  

“Se é fácil? Não, e a maior barreira é a familiar, onde mais esperamos o acolhimento e muitas vezes não acontece. Comigo não foi diferente. Muitas pessoas se afastam e é sinal que não devem estar ao nosso lado e muitas outras surgem ganhamos de presente, né? Temos que pensar naquilo que nos faz feliz, que nos complementa e ser decidida, não importa as barreiras, porque são muitas” , expõe Jenifer. 

Apesar das dificuldades, elas driblam tudo com muito amor, carinho e brincadeiras com o pequeno Benício, de três anos. Para a família da cantora Sumara, “Beni” é o neto que nunca tiveram.  “O meu filho recebeu a Su na nossa vida, tanto que por vezes fica do lado dela e só quer ela. Estamos programando para os próximos anos ter mais um filho, oriundo da nossa relação”, diz Jenifer.  
 

Fernanda e Jussara buscaram apoio nos amigos (Foto: Arquivo Pessoal)

OMBRO COLORIDO DE AMIGO
A assessora parlamentar Jussara Souza e a professora Fernanda Sabadini estão juntas há 10 meses e começaram a morar juntas na pandemia. 

As duas vêm de famílias religiosas e só conseguiram assumir a orientação sexual após saírem de casa e conquistarem independência financeira. A ajuda dos amigos foi fundamental no processo.  

“Quando tive independência financeira eu me apropriei da minha bissexualidade e ter amigos LGBTs próximos que passaram as mesmas coisas que você na família a e te entendem é muito importante nesse processo e tudo fica menos pior porque é um período difícil”, avalia.  

A professora Fernanda diz que com o tempo os pais estão mais abertos e a entendendo melhor. “Acho que é um processo pra eles também. Por agora eu penso que pra mim é suficiente eles saberem que sou lésbica, isso já me faz me sentir válida e livre pra ser quem eu sou em todos os espaços que eu habito , aponta. 

EXISTIMOS E EXIGIMOS RESPEITO
Para Fernanda o relacionamento afetivo de duas mulheres é revolucionário porque quebra a expectativa da sociedade patriarcal, onde se espera que mulheres se casem e tenham filhos com homens. Por isso, lembra ela, é tão importante datas como a do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. 

“Estamos falando de um grupo que costuma estar a margem, então quando a gente une ser mulher e ser lésbica quebra a expectativa da sociedade patriarcal, porque o que se espera é que a gente venha a se relacionar e casar com homens. Vivemos num país machista e LGBTfóbico por isso é importante datas como essa, que mostram que nós existimos e temos direito a cidadania, políticas públicas e espaços acolhedores”, reforça.  

Jenifer lembra que respeito e felicidade são o que mais importa. “As pessoas que estão no impasse de se assumir, só falo para serem felizes. Eu não peço aceitação, peço respeito. Porque só a gente precisa aceitar as nossas escolhas e ninguém mais”, pontua. 

Sua esposa Sumara, completa: ” Somos pessoas normais, com trabalhos comuns e temos uma família. Não desistam de serem felizes por conta da sociedade, vamos espalhar amor”, finaliza.

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