As cadeiras e os colchões debaixo de tendas improvisadas e as roupas penduradas em varais revelam que ali existem moradores. Uma realidade encontrada em praças, parques, marquises e algumas ruas de Araraquara.
De acordo com a secretaria municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, cerca de 100 pessoas vivem em situação de rua na cidade. Inclusive, no mês passado, um consultório médico móvel entrou em funcionamento para atender esta população.
“As esquipes acompanham sistematicamente essas pessoas e buscam estabelecer vínculos por meio de abordagens recorrentes, identificando, monitorando e ofertando os serviços de assistência e acolhimento”, informou o município. (Leia a íntegra da nota abaixo)
Na Praça Pedro de Toledo, no Centro, lonas e alguns tecidos amarrados na marquise do Espaço Cultural “Paulo Mascia” abrigam seus moradores do frio e da chuva.
Em uma área verde, ao lado do Terminal Rodoviário, no Jardim Nova América, é possível encontrar colchão, mesa e panelas, sob lonas amarradas em árvores.
Mas é a Praça da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no Carmo, a que enfrenta a situação mais delicada, com diversas barracas e tendas erguidas em meio aos canteiros e embaixo de árvores.
O pastor da Assembleia de Deus Emmanuel, Luiz Capano, que há 20 anos desenvolve projeto social com esta população, estima que 45 pessoas vivam nesta situação no local. “O fato de estarem se aglomerando, hoje, é por acharem que aquele lugar está seguro”, opinou.
Segundo ele, a maioria das pessoas enfrenta vícios e está nas ruas por escolha própria.
A droga tem um poder sobre elas muito forte, fora do comum, porque deixam de comer, de estar em família, de ter uma vida.
Luiz Capano – pastor da Assembleia de Deus Emmanuel
Capano explicou que estas pessoas são acolhidas a partir do momento em que manifestam este interesse. Porém, a maioria ainda opta por permanecer nas ruas por não aceitar regras impostas por suas famílias e pelos serviços de acolhimento.
“Eles têm que querer, porque muitos têm casa, têm família. Mas, são altamente viciados em drogas, bebidas e não voltam para a casa porque as famílias não aceitam”, completou.
VÍCIO É DOENÇA
A diretora e fundadora da Casa de Acolhimento São Pio, Magda Leite, tem o mesmo entendimento. Para ela, o primeiro passo parte da vontade de mudança dos próprios moradores, porque muitos têm vícios em álcool e outras drogas ilícitas.
“A maioria tem família, tem profissão, pai, irmão, casa, mas a família não aguenta mais. Temos bastante gente que se recupera, mas outras vão embora e recaem. É como um hospital, porque adicção é uma doença, incurável, e depende de tratamento, que depende de estrutura”, avaliou.
Atualmente, a Casa São Pio abriga 44 homens, que antes viviam em situação de rua. Para a fundadora, antes de terem acesso à moradia e emprego, é preciso que estas pessoas tenham seus vícios tratados.
“Não é só a beleza ou a estética da praça, é a dignidade. Eles não têm dignidade da forma como vivem atualmente”, concluiu.
O QUE DIZ A PREFEITURA
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social reforçou que a proteção social da população em situação de rua, em extrema situação de vulnerabilidade, é a meta central das equipes do Centro Pop/Serviço Especializado em Abordagem Social.
As esquipes acompanham sistematicamente essas pessoas e buscam para estabelecer vínculos por meio de abordagens recorrentes, identificando, monitorando e ofertando os serviços de assistência e acolhimento. Assim como também realizam busca ativa dos familiares nos territórios para contribuir para a saída da rua destas pessoas. Hoje, o município oferece serviço de acolhimento no Centro POP e na Casa de Acolhida, além de contar com mais duas Organizações da Sociedade Civil parceiras que atuam também neste serviço de acolhimento.
Além disso, há um 1 mês, foi implantado na cidade o programa “Consultório na Rua”, uma iniciativa do SUS, vinculada à Secretaria Municipal de Saúde, envolvendo equipes multiprofissionais que realizam suas atividades de forma itinerante e, quando necessário, desenvolvem ações em parceria com as equipes das Unidades Básicas de Saúde do território.
O Consultório na Rua realiza procedimentos básicos como verificação de pressão, aplicação de vacinas, verificação de glicose, pequenos curativos, oferta de medicamentos, vigilância para doenças como tuberculose e hanseníase, testes rápidos contra IST’s, coleta de exames, testagem de Covid-19, além de aconselhamento sobre cuidados com a saúde, distribuição de preservativo e encaminhamento para outros serviços mais complexos, como intervenção para internação voluntária, involuntária e compulsória, encaminhamento para o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), entre outros. O programa também tem o propósito de oferecer abrigo, orientação e garantir nutrição e higiene, além de isolar aqueles que estejam com suspeita da Covid-19.
Em relação à Praça do Carmo, o mapeamento das equipes de assistência e saúde apontam 12 pessoas vivendo em situação de rua no local. Estas são sistematicamente atendidas pelo SEAS e Consultório na Rua. Nas ações que são feitas, é observado um número maior de pessoas circulando pela praça, mas que têm residência.