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CotidianoCrianças pequenas sofrem sem nunca terem visto o mundo antes da pandemia

Crianças pequenas sofrem sem nunca terem visto o mundo antes da pandemia

Mães de crianças na faixa etária de 2 anos contam como isolamento social impactou no desenvolvimento dos filhos; psicóloga dá dicas para lidar com este momento

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Olga, de 1 ano e 11 meses, adora passear de carro (Foto: Arquivo Pessoal)

Com a pandemia do coronavírus, crianças que nasceram a partir de o segundo semestre de 2019 pouco puderam conhecer do mundo. Perderam a festa para comemorar o primeiro aninho, a brincadeira com os amigos na escola, não puderam passear muito e se acostumaram com as pessoas usando máscaras.

Os pais de crianças na faixa etária próxima aos dois anos sabem que os filhos foram muito afetadas pelo isolamento social. A supervisora de marketing Angelita Baratela da Silva, de 40 anos, conta que a filha Larissa, de 2 anos e 4 meses, não tem contato com crianças da mesma idade e só sai de casa para fazer o essencial. 

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Para Angelita, o isolamento social afetou a habilidade de socialização da filha. “Ela passa muito tempo no celular. Por mais que tentamos outras atividades, ela já sabe alguns jogos e acaba vendo muitos vídeos. Os canais que ela mais gosta, sabe cantar a vinheta e acompanha a coreografia”, conta.

Nas raras oportunidades em que saiu de casa, Larissa ficou encantada. “Neste período todo fomos duas vezes ao parque infantil. Ela ficou encantada, correu demais, uma sensação de liberdade absurda! Ela foi ao shopping raras vezes. Vamos, resolvemos o que é necessário e já voltamos para casa. A primeira vez que ela foi tinha quase dois anos. Ela ficou vislumbrada com tanta luz e tantas vitrines. Ela não conseguia entender o que era aquele ambiente”, recorda. 

Quando vai ao mercado, Larissa fica encantada com as cores e já sabe que tem que parar na porta para medir a temperatura e passar álcool gel nas mãos. “Não vejo a hora de termos liberdade para viver sem medo, para poder ter a rotina fora de casa novamente, com escola, passeios, fim de semana com amigos. Se os adultos sofrem, imagina as crianças com tanta energia para gastar. Fico observando as ações, atitudes, necessidades. São muito diferentes daquelas que minha filha mais velha viveu. Corta meu coração mantê-la presa em casa, sem conviver com crianças da idade dela”, conta Angelita. 

Mesmo sem nunca ter ido à escola, Larissa tem vontade de ir, principalmente ao ver a irmã mais velha estudando. “Ela está matriculada na creche, mas ainda não foi. Sinto que faz muita falta, ela pede para ir mesmo sem nem saber como é a rotina. Quando levei minha filha mais velha na escola, a mais nova voltou chorando de tristeza dizendo que gostou e queria ir”, relata. 

Sem ter comemorado o aniversário de 1 aninho, a família se preparou para celebrar o segundo aniversário pela internet. “Chamei as pessoas mais próximas, fizemos uma reunião no zoom e cantamos parabéns. Ela ficou muito feliz em ver todo mundo cantando parabéns e por ter assoprado a vela”, finaliza.  

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Larissa, de 2 anos e 4 meses, comemorou aniversário com reunião online (Foto: Arquivo Pessoal)

ANIVERSÁRIO DIFERENTE
A professora e designer Mayani Marrawa, 31, é mãe da Olga, de 1 ano e 11 meses. A pequena chegou a ir apenas um dia para escolinha. “Acredito que a pandemia afetou mais no que ela poderia aprender em contato com outras crianças, porque em termos de socialização é muito tranquila, sempre quer dar tchau para os entregadores da farmácia e supermercado”, conta.

Mayani leva a filha para passear de carrinho em volta do quarteirão duas vezes ao dia, sempre em horário com menos movimento. “Minha mãe mora no Assento Bela Vista e sempre que dá Olga vai pra lá passar o tempo e brincar. Ela adora, tem muito contato com a natureza quando está lá. Não vejo a hora de poder passear com ela e mostrar todas as coisas que eu mais gosto na cidade, a rua 5, as sorveterias, o Sesc aos domingos. E que ela possa fazer amigos e brincar bastante”, diz. 

No aniversário de 1 aninho, a família fez algo diferente para comemorar. Montaram uma mesa com o tema sapo, que era a palavra que ela mais falava na época. “Fizemos bolos, doces, salgados e decoramos tudo. Além de kits com brinquedinhos. Contamos a quantidade de crianças conhecidas do assentamento e levamos até suas casas um kit pra cada um, com tudo que tínhamos feito. Amigos e família puderam comemorar com a gente através de uma live no Instagram”, recorda.  

No aniversário de 1 aninho da Olga, família fez kit para crianças do Assentamento Bela Vista (Foto: Arquivo Pessoal)

DICAS DA PSICÓLOGA
De acordo com a psicóloga Naiara Mariotto, é na infância e adolescência que acontece a fase de maior interação social e autoconhecimento. “A gente precisa de contato com o outro para conhecer o mundo externo e nossa essência. Conhecimento dos nossos valores, nossos desejos, nossas crenças e a própria formação da nossa personalidade”, explica.

Naiara diz que as crianças com menos de seis anos tem uma maior capacidade de adaptação, então essa fase de isolamento social não deve afetar a longo prazo. Porém, a curto prazo essas crianças podem ter uma dificuldade maior de interação. “As crianças vão ter dificuldade de lidar com a frustração, dificuldade de dividir o brinquedo, respeitar o outro lado. Os pais precisam olhar com um pouco mais de atenção e zelo”, explica. 

Para minimizar os impactos do isolamento social nas crianças, é preciso avaliar como os pais estão lidando com a pandemia e lidando com esses sentimentos também. “Criança é muito sensitiva, por mais que a gente tenta esconder, as crianças sentem quando alguma coisa não vai bem. Se essa ansiedade está sendo passada a criança, as coisas são se tornar de fato muito mais difícil”, diz.

No caso de crianças que sentem medo quando saem de casa e se deparam com ambientes com mais gente, o importante é entender de onde vem esse sentimento e demonstrar essa compreensão. “Se os pais ficarem poupando as crianças [evitando de ir ao mercado, por exemplo], vão intensificar o medo delas. É importante acolher e validar o sofrimento”, afirma. 

Como as crianças ficam mais tempo dentro de casa, muitas acabam ficando mais tempo nas telas também, como celular, televisão e tablet. Para Naiara, o caminho é o equilíbrio. “Tudo já está muito restrito, se é algo que a criança gosta, é importante ter esses momentos de lazer dentro da rotina. Tudo tem que ser limitado para que haja um bom funcionamento na rotina de modo geral e tudo seja explorado, como o aprendizado e o convívio social”, orienta.

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