ARARAQUARA 205 ANOS – Ao longo desta semana, o acidade on irá publicar uma série de
reportagens, que destacam pontos históricos de Araraquara e celebram seu aniversário.
Era meio-dia de 10 de agosto de 1.952 quando os portões do estádio municipal se abriram para o clássico Ferroada. Uma disputa entre dois times contemporâneos: a Ferroviária e a Associação Desportiva Araraquara (ADA).
O confrontou terminou em 4 a 3 para a Locomotiva e mostrou a rivalidade entre os dois times da cidade. Há 70 anos e o jogo ainda está vivo na memória.
Os torcedores invadiram o campo e carregaram os jogadores da Ferroviária. O jogo foi capa em jornais da região, inclusive, a notícia da morte de um empregado das oficinas da estrada de ferro de Araraquara durante a partida porque não teria suportado tamanha emoção.
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Autor do livro “Araraquara: futebol e política”, Luiz Marcelo Cirino escreveu que o clássico tomava os corações araraquarenses; batalhas épicas em que a cidade ficava dividida.
Aos 83 anos, o ídolo da Ferroviária e do Palmeiras, o Dudu, que também jogou na categoria juvenil da ADA lembrou da rivalidade da época. Mas, para ele, a Ferroviária tinha o melhor time.
Tinha rivalidade, mas a Ferroviária era muito superior, já tinha um time montado”, avaliou o ex-jogador.
No confronto daquele dia, a Ferroviária saiu na frente com gol de Russo. Mas o empate veio na sequência com Américo. Mas no fim da primeira etapa, Dirceu abriu a vantagem para a Locomotiva.
Na segunda etapa, a ADA foi valente e virou o placar. Lula e Elvo fizeram 3 a 2. Mas faltando seis minutos para o fim do jogo, Russo empatou e Osvaldo virou pra Ferroviária.
Clássicos como este pararam a cidade 11 vezes, sendo que a Ferroviária venceu em sete delas, a ADA duas, e teve ainda dois empates.
“Era diferente, era outra época. Não tinha convite, contato, nada. A gente jogava, assinava uma ficha e pronto e ia jogar”, lembrou Dudu.
O monitor do museu do futebol e esportes de Araraquara, Gustavo Ferreira Luís, contou que a Associação Desportiva Araraquara nasceu depois que o fundador da Ferroviária, Antônio Tavares, decidiu tomar um novo rumo.
“Ele era engenheiro-chefe da estrada de ferro Araraquara, fundou a Ferroviária em 1.950, mas se afastou por questões políticas. Só que ele era apaixonado por futebol e tinha o desejo de fundar outro time na cidade”, contou.
Tavares queria uma equipe sem ligação com empresas ou associações. Assim, a ADA surgiu da união dos times do Paulista e do São Paulo.
Nas cores azul e branco, a Associação Desportiva estreou no dia 6 de abril de 1.952, e era considerado um time apaixonado, com empenho, independente do jogo ser amistoso ou oficial.
A desportiva fez jogos históricos. No dia 7 de junho de 1.953, venceu o Palmeiras por 2 a 1 na Fonte Luminosa, por exemplo.
A ideia dele era fazer uma fusão destes dois times, equipes profissionais em Araraquara naquela época. No início de 1.952, a ADA foi fundada e, a partir daí, nasceu a rivalidade com a Ferroviária, já que os dois times jogavam a segunda divisão”, relembrou o monitor do museu.
Para Luiz Marcelo Cirino, a ADA nasceu da paixão, que era divida entre ideias e posições político-partidárias.
O primeiro clássico entre os dois times aconteceu dez meses após a fundação da ADA. Mas a Ferroviária tinha um time forte e equilibrado. Já o adversário se arrumava como podia em tão pouco tempo.
As coisas começaram a ficar complicadas, depois da eliminação no Campeonato da Divisão de Acesso de 1.953, quando a ADA ficou pra trás e viu a Ferroviária avançar.
Em 1.957, o time vivia uma crise financeira, com atraso de pagamentos, diretoria em conflito e em campo nada dava certo. Por outro lado, a Locomotiva subia pra divisão especial do futebol paulista e recebia na Fonte Luminosa os maiores times do estado.
A desportiva chegou a desistir de entrar em campo contra o Rádium de Mococa e perdeu por W.O. e, assim, foi desse jeito que a história da instituição foi chegando ao fim.
Com campeonatos amadores na cidade e na região, a ADA sobreviveu até a década de 70, quando o departamento de futebol profissional foi extinto e a camisa azul e branca parou de ser usada nos gramados.
A azul celeste sumiu, mas a paixão continua eterna para os araraquenses amantes do futebol.