- Publicidade -
CotidianoO amor à Araraquara e a sabedoria de Dulce Whitaker

O amor à Araraquara e a sabedoria de Dulce Whitaker

Com vasta produção acadêmica, socióloga e pensadora de Araraquara de 87 anos lança o seu 1º romance “Nuvens da Desesperança” 
 

- Publicidade -
Dulce Whitaker é referência da sociologia rural no Brasil (Foto: Divulgação)
Dulce Whitaker é referência da sociologia rural no Brasil (Foto: Divulgação)

ARARAQUARA 205 ANOS – Ao longo desta semana, o acidade on irá publicar uma série de reportagens, que destacam pontos históricos de Araraquara e celebram seu aniversário.

 

- Publicidade -

A pesquisadora e cientista social de Araraquara, Dulce Whitaker, de 87 anos, é uma enciclopédia viva, cheia de ideias e paixão pelo saber.  Uma típica mnemon, ou, na tradução literal, uma mulher-memória. 

Dulce já se debruçou e muito sobre Araraquara e toda a região através do projeto Memória Viva na década de 90, entre inúmeras pesquisas ao longo de sua vida.

Uma de suas declarações de amor pela Morada do Sol está no livro  “Araraquara – Histórias não reveladas”. 

VEJA MAIS ESPECIAIS

A biblioteca feminista de Heleieth Safiotti para Araraquara

- Publicidade -

Conheça o prédio mais antigo e que resiste há 137 anos em Araraquara

De Araraquara para o mundo: o sucesso por trás da Lupo e Nigro

Rua 5: conheça a história da rua mais bonita de Araraquara

Dinossauros em Araraquara? Rua 5 guarda marcas de milhares de anos

Através de relatos e memórias de pessoas “comuns”, como professora, comerciante, médico, cartomante, músico, o livro dá voz a várias classes sociais e também aos excluídos da História oficial da cidade. 

Assim, ela tece uma narrativa rica e diversa sobre a sociedade araraquarense do final do século XVI e século XX. A leitura do livro é obrigatória para entender Araraquara nos dias atuais e também para um futuro próximo. 

“Sem memória não há identidade possível e sem identidade, qual o povo que pode construir um futuro adequado para seus descendentes?”, frisa no livro. 
 

A pesquisadora é uma das maiores referências no Brasil no campo da sociologia rural, sendo uma grande incentivadora de pesquisas na área. 

ARARAQUARA, A MINHA MORADA
Natural de Curitiba, Dulce se encantou pela efervescência cultural da cidade quando ingressou na Universidade Estadual Paulista (Unesp) Araraquara como professora de sociologia nos anos 70. 

“Araraquara me recebeu de braços abertos, aqui me projetei. Foi a cidade onde eu realmente desabrochei, tinha uma família maravilhosa e intelectualmente me encontrei aqui,  me abriu horizontes. Fiz amigos maravilhosos também”, frisa. 

LEIA MAIS ESPECIAIS

Há 70 anos, Araraquara assistia ao primeiro clássico Ferroada

Vila Xavier: por que ninguém abandona um dos bairros mais tradicionais de Araraquara?

Os caminhos que ligam o Centro de Araraquara à Vila Xavier

Araraquara cresce e bairros ganham novos corredores comerciais

Em 2014, ela ganhou o título de cidadã araraquarense. Mesmo após se aposentar, continuou ativa na pesquisa e pós-graduação da Unesp, e da Uniara.

Incansável, foi pioneira em estudos sobre assentamentos de reforma agrária no Estado de SP e coordenou o Núcleo de Pesquisa e Documentação Rural (NUPEDOR).
 

“Em Araraquara parecia que eu estava no céu, e o pessoal gostou de mim aqui. Sou de esquerda e já fui muito perseguida”, enfatiza.

Hoje em dia, a socióloga vive reclusa devido a problemas de saúde em seu apartamento no centro da cidade, mas não é por isso que ela parou de produzir.  

AMOR AO CONHECIMENTO
Com uma vasta bibliografia acadêmica, Dulce, aos 87 anos,  se prepara para lançar seu primeiro livro de romance “Nuvens da Desesperança”.
 

“É a realização de um sonho, nunca escrevi um romance, sempre publiquei livros científicos voltados para a sociologia e metodologia. Esse eu queria muito escrever, mas nunca tinha tempo, e na pandemia, em 2020, pensei: é agora. E passei o ano escrevendo”, contou. 
 

Com o seu olhar lúcido para a ruralidade e questões de gênero, a socióloga conta a história de uma protagonista feminina permeada por realismo fantástico, em contraponto com as características do Brasil dos anos 80 e rupturas de uma época.  

 

Dulce, aos 87 anos, se prepara o lançamento de seu primeiro livro de romance “Nuvens da Desesperança” 
Dulce, aos 87 anos, se prepara o lançamento de seu primeiro livro de romance “Nuvens da Desesperança” 

 
“Me sinto em minha melhor fase, foi o melhor livro que fiz. São situações de ruralidade, características do Brasil nos anos 80, rupturas tangidas pelo destino, agronegócio, avanço da cidade’, comenta.

Leitora voraz, a pesquisadora não assiste TV e é avessa a tecnologia, mas se mantém muito bem informada sobre tudo o que acontece no Brasil e no mundo. 

“Gosto muito de ler, não tenho televisão, nem celular, e detesto tecnologia. Tenho a literatura em torno, é o que me inspira. O amor ao conhecimento me mantém viva”, avalia. 

MULHER, PATRIARCADO E MERCADO DE TRABALHO
Dulce começou a sua brilhante carreira acadêmica aos 30 anos, era casada e tinha duas filhas pequenas. 

O marido Mário José (falecido), sempre a apoiou e foi fundamental para o deslanchar profissional da socióloga. Foi com ela para São Paulo na época do doutorado e para a Inglaterra no pós-doutorado concluído na Universidade de Oxford.

“Muito do que sou devo a ele, me apoiou muito e sempre me acompanhou. Ele faleceu quando íamos fazer 50 anos de casados”, relembra saudosa. 

Mas ela sabe que a sua relação foi uma exceção em uma sociedade patriarcal e machista, ainda mais nos idos dos anos 70 e 80. 

“As oportunidades aumentaram, no passado tínhamos mais dificuldades, lembro de minha orientadora que não se casou porque fez carreira acadêmica. Hoje temos mais bolsas de estudo , etc”, aponta. 

Para a socióloga, o imaginário patriarcal ainda fala muito alto e impõe deveres domésticos relevando a carreira profissional.

 

“O imaginário da sociedade ainda fala que devemos ser donas de casa, e quando observamos as estruturas de emprego vemos poucas mulheres em cargos altos. Tem muita mulher cientista em áreas menos financiadas ( é mais voltado para a engenharia física). Isso vem do imaginário patriarcal, vemos a violência doméstica, o aumento do feminicídio. Tudo isso vem desse imaginário que domina a sociedade, e as mulheres interiorizam isso”, reflete. 

 

Estudiosa sobre a situação da mulher, e com vários livros e publicações sobre relação e gênero (Mulher – Homem: Mito da Desigualdade), ela observa que a maneira como meninos e meninas são criados sacrifica, e muito, os meninos. 

A socióloga têm duas filhas que também seguiram carreira acadêmica, uma é física e a outra é ecóloga. Ela ri e finaliza aliviada: “Ambas escaparam desse imaginário patriarcal”.

 

- Publicidade -
Mídias Digitais
Mídias Digitaishttps://www.acidadeon.com/
A nossa equipe de mídias digitais leva aos usuários uma gama de perspectivas, experiências e habilidades únicas para criar conteúdo impactante., com criatividade, empatia e um compromisso com a ética e credibilidade.
- Publicidade -
- Publicidade -
- Publicidade -
Notícias Relacionadas
- Publicidade -