“Quem garante que este bebê não estava vivo? Se não dava para ter socorrido e salvado ele?” Os questionamentos são de Érica Silva da Graça, avó de Gael Benício Garcia Nardim, de 1 ano e oito meses, que morreu em um acidente na madrugada do último domingo (3), na Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-255), em Boa Esperança do Sul.
A criança foi encontrada sem vida, horas depois do acidente, dentro do porta-malas do veículo em que estava com o pai, quando o carro já havia sido guinchado e levado para o pátio da Polícia Rodoviária.
A avó de Gael disse que soube pelo filho, 22, ainda sem plena consciência, de que o neto poderia estar entre as vítimas da colisão.
“Quando eu cheguei à UPA, meu filho ainda meio inconsciente falou assim: ‘mãe, salva o Gael’. Eu saí correndo, liguei na Polícia Rodoviária, pedi informações, ninguém sabia me passar. Eu fui até a base e eles falaram que não tinha mais ninguém no carro […] Por que não procuraram na hora? Por que não viram que tinha uma criança, sendo que tinham vestígios de que havia uma criança dentro do carro?”, questionou.
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O DIA DO ACIDENTE
Érica lembrou que correu para o local do acidente e começou a procurar pelo neto por conta própria, com ajuda de outros familiares. Segundo ela, uma equipe do Corpo de Bombeiros, que passava pela rodovia, parou para ajudar nas buscas.
“Eu falei para o bombeiro: ‘pelo amor de Deus! O bebê está dentro do carro, me leva até onde está o carro, procura dentro do carro que tem um bebê dentro. Ele saiu, foi até a base porque ali não pegava sinal [de telefonia] para passar o rádio. Quando voltou, me falou para ir até lá porque tinham achado o bebê dentro do carro”, contou.
Gael estava na cadeirinha no banco traseiro do veículo, que era conduzido pelo seu pai, 22.
O carro seguia pela rodovia quando bateu de frente com uma caminhonete, que era dirigida por um homem, 41, em que também estavam a mulher dele, 41, e o filho do casal, 14. Mas as circunstâncias da batida ainda são investigadas.
Todas as vítimas foram socorridas, exceto a criança, que não foi localizada pelas equipes de resgate. O corpo da criança foi enterrado na última segunda-feira (4) no cemitério dos Britos.
INDIGNAÇÃO
Após a primeira perícia, realizada ainda no local do acidente e sem que o garoto fosse encontrado, o veículo foi levado para o pátio da Polícia Rodoviária. Somente quatro horas depois o corpo foi localizado pelos policiais.
“Transportaram o carro com bebê dentro, sem terem olhado na hora do acidente, sendo que tinha a cadeirinha, bolsa do nenê, roupa, sapato, tinha tudo do nenê dentro do carro. […] Era para se imaginar que se a cadeirinha estava estourada de que alguma coisa tinha. Tanto que lá no IML [Instituto Médico Legal], dá pra ver a marca do cinto perfeitamente no meu neto”, afirmou.
Para família, houve negligência das equipes de socorro e há dúvidas de que a criança poderia estar viva, caso fosse socorrida às pressas.
“Umas quatro horas depois de tanto insistir, implorar, que foram olhar no carro. Quem garante que este bebê não estava vivo? Se dava para ter socorrido e salvado ele? Ninguém me garante isso”, desabafou.
O corpo de Gael foi submetido a exame necroscópico que deve ajudar a esclarecer a causa da morte. Mas, segundo a família, ele não estava machucado, exceto com a marca do cinto.
Érica disse ainda que o filho tem sido responsabilizado e acusado injustamente. Segundo ela, as circunstâncias do acidente ainda são desconhecidas e por isso não é possível afirmar quem teria provocado a colisão.
“É fácil atacar e condenar o meu filho, não é? Ele está lá inconsciente, no hospital, na UTI. Eu quero justiça, quero saber porquê não foram atrás, não viram, não procuraram direito no carro. Se eu não implorasse para procurarem, o bebê estava morto até agora, ela dentro do carro”, afirmou.
A mãe e avó disse ainda que a família tem encontrado dificuldades para ter acesso às informações da investigação. “Eu fico sabendo o que acontece pela mídia e pelos outros. O delegado de Boa Esperança está procurando tudo o que meu filho fez durante o dia, mas não interessa o que o meu filho fez durante o dia, interessa a hora do acidente. Ele tem que investigar o que aconteceu na hora do acidente”, concluiu.
O OUTRO LADO
Procurado na segunda e terça-feira (5) para comentar eventuais falhas das equipes de resgate e do trabalho da Polícia Científica, a secretaria de Segurança Pública de São Paulo, disse estar “apurando as informações junto aos departamentos responsáveis”, mas ainda não respondeu aos questionamentos da reportagem.
A concessionária Arteris Viapaulista, que administra o trecho da rodovia, informou que “acionou imediatamente recursos operacionais e pré-hospitalar (ambulância) para atendimento ao acidente” e que, “em conjunto com demais órgãos competentes e de jurisdição, prestou o socorro necessário e adotou o procedimento adequado e indicado durante o atendimento ao grave acidente, prestando serviços de primeiros socorros e remoção das vítimas do local”.
A empresa concluiu a nota dizendo que “as causas do acidente e a causa da morte da criança de 1 ano e oito meses estão sendo investigadas pelos órgãos competentes.”.