No centro de Araraquara, a Avenida Brasil se diferencia por uma questão cultural das mais importantes: a literatura.
São quatro livrarias a menos de 400 metros de distância e cerca de 80 mil títulos distribuídos no quadrilátero da leitura.
De clássicos da literatura, história, filosofia à temática religiosa, há opções para todos os tipos de leitores.
Além das livrarias Murad, Machado de Assis, Pio e Petrus, há bibliotecas universitárias: da Uniara e da Faculdade Logatti. A banca de jornal Correio finaliza o tour literário.
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LIVREIRO RESISTENTE
O livreiro Marcos Valério Murad tem história atrás do balcão de sua livraria “Murad”. Ainda jovem, ele começou com sua tia Marina na livraria Monteiro Lobato, que ficava na Rua Voluntários da Pátria, a rua 5.
“A minha tia Marina tinha a livraria Monteiro Lobato em 1955, eu fazia trabalhos avulsos lá. Sempre gostei de ler e aos 27 anos abri meu sebo na avenida Brasil, minha tia me cedeu uma parte de se estoque e é como se fosse uma continuidade do sebo Monteiro Lobato”, contou.
Murad comentou que são mais de 80 mil títulos espalhados na Avenida Brasil. Só em sua livraria, ele contabiliza 27 mil títulos.
“É a avenida literária de Araraquara. Creio que por ser um lugar central da cidade, o miolo da cidade, acabou tendo mais livrarias. Nunca vi isso em cidade nenhuma, até em cidades maiores como Campinas, talvez só em são Paulo na Avenida Pinheiros”, contou.
Apesar de ser formado em direito e ter advogado por 10 anos com seu pai, foi através dos livros que o comerciante se realizou profissionalmente.
“É um ponto de resistência, estamos aqui há muito tempo, eu não sei fazer mais nada, por isso que resisto, é o que sei fazer e o que sempre fiz. O prédio é da minha família, então fica mais fácil continuar, se eu tivesse que pagar aluguel não sei se aguentaria tanto tempo”, avaliou.
LITERATURA E HISTÓRIA
Em sua livraria, ele comentou que o forte são os livros de História do Brasil, com cerca de três mil volumes.
“Tenho um bom acervo aqui de História do Brasil, tem desde os primeiros cronistas, viajantes, desde o século XVI. E história geral também com quase dois mil volumes”, frisou.
Clássicos da literatura latina, russa, filosofia, livros sobre teatro e poesia também não faltam no grande acervo.
JOVENS LEITORES
O perfil dos leitores varia, mas Murad contou que é um público em constante renovação. Segundo ele, a maioria procura por clássicos da literatura, mistério e fantasia, como a saga de Harry Potter e Senhor dos Anéis. Livros de ciência, filosofia e psicologia seguem em segundo lugar na busca.
“O público não é tão universitário, são mais jovens avulsos, jovens advogados, do ensino médio e muita gente do ensino técnico, de ETEC e FATEC”, avaliou.
A estudante de medicina Lívia Tavares, de 19 anos, frequenta livrarias sempre que possível. Ela costuma ler 30 livros ao ano.
Ela comentou que prefere ler um livro físico ao invés de livros na internet ou PDF.
“Sempre gosto de ver o que tem, e gosto muito de literatura. Eu não gosto de ler na internet e de ler PDF, prefiro comprar o livro físico. Leio uns 30 livros ao ano, é bom para distrair a cabeça”, avaliou.
Lívia estava acompanhada do namorado Heitor Gomes, de 19 anos, estudante de psicologia. Ele contou que por influencia da namorada, passou a ler livros e a frequentar sebos e livrarias.
“Não tinha tanto costume de frequentar livrarias, mas a minha namorada me incentiva a ler e comecei a desenvolver o hábito da leitura, estou procurando livros do Freud”, informou.
LIVRARIA RELIGIOSA
Próximo a Igreja da Matriz, duas livrarias religiosas resistem e atraem um público específico.
O gerente da Petrus, Pedro Souza, apontou que são mais de 20 anos no mesmo local e frequentadores de diferentes faixas etárias.
Para ele, a procura hoje em dia está em livros que resgatam antigas tradições religiosas.
“Sempre trabalhamos com temática religiosa e temos um bom público. As editoras modificaram um pouco a linha de atuação resgatando livros mais antigos da tradição e isso fez com que houvesse um interesse cada vez maior desse público que é um nicho específico religioso”, frisou.
DIGITAL X FÍSICO
Em tempos de e-commerce e competição com grandes sites, Pedro apontou que no segmento religioso a fidelização é uma grande vantagem.
“Vemos o advento da tecnologia, o e-commerce, isso prejudica o físico, mas entramos com a fidelização do cliente e é nesse ponto que trabalhamos. Fora que trabalhamos com artigos religiosos, o que aumenta o leque”, disse.
Já para Murad é complicado competir com grandes sites, porém acredita no potencial dos sebos, pois a variedade estimula a compra de outros livros.
“É difícil competir com sites porque muitas vezes anunciam preços imbatíveis, mas tem um pessoal que prefere vir até aqui e ver o livro. E às vezes a pessoa vem com um livro em mente, mas quando começa a olhar tudo acaba comprando outros”, concluiu.
